Encerrado o processo de escolha do novo presidente, embora ainda sob o calor dos acontecimentos, já podemos fazer algumas avaliações e mesmo autocríticas.
A eleição acabou. O processo político, não acabou!
Lula teve uma apertadíssima vitória eleitoral.
Conseguiu isso, com a ajuda luxuosa de uma mídia comprometida, parcial, indecentemente ideológica e que massacrou Bolsonaro como nunca antes vimos na história do nosso país.
Lula também teve ao seu lado o ativismo escancarado do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral que patrocinaram o maior conjunto de decisões parciais da nossa jurisprudência, impondo censura prévia, invertendo interpretações legais, legislando em matéria eleitoral e constitucional, criando teses absurdas, negando liberdade de imprensa num ativismo judiciário ideológico e partidário vergonhoso, sob o silêncio das instituições.
Para ficarmos em um só exemplo, o caso do "radiolão" apesar dos fortes indícios - que pode sim ter influenciado fortemente o resultado em favor de Lula - sequer foi investigado como deveria ter sido.
Em seu primeiro pronunciamento Lula se apresentou ao lado da sua camarilha. Uma rampeiragem que conhece o cheiro da creolina.
E ao invés de tentar pacificar a Nação, foi provocativo, aumentando a cizânia.
Da análise dialética do seu texto lido, se extrai rancor, ânimo de perseguição, de imposição das suas ideias ideológicas na marra e ofensas aos adversários, chamados na lata de fascistas.
Trata mais de 57 milhões de brasileiros como meras minorias.
Lula não mudou nada. Promete a ilusão da picanha fácil sobretudo para sua base de apoio popular com promessas de um paraíso como se o maná caísse dos céus.
Não nos iludamos: Lula vai governar com sangue nos olhos e com a força de quem quer vingança. Vai encontrar um parlamento com forte formação ideológica de centro-direita, mas tem a seu lado o ativismo escancarado dos seus companheiros militantes ideológicos e partidários do STF.
Teremos dias difíceis pela frente, com o ressurgimento de ideais separatistas que são perigosas e expõe o Brasil a riscos reais de desobediências, greves, convulsões desnecessárias e indesejadas.
Sem habilidade, e nitidamente dirigido, Lula também jogou o Brasil contra o Nordeste, como se lá - e somente lá - estivessem os frutos do seu reino. Logo ele que nunca tratou aquela região com o mínimo de dignidade e investimentos do Estado.
Percebam, que o PT e Lula não criaram ao longo de décadas, nenhuma nova liderança. Ao lado do ex-presidiário não se sobressai ninguém.
Já Bolsonaro teve uma imensa vitória política.
Contra tudo e contra todos, fez uma expressiva votação com milhões de eleitores que constituem uma base sólida, atenta e participativa que não vai deixar as coisas baratas.
Criou e elegeu novas lideranças nos parlamentos estaduais, na Câmara Federal e no Senado da República.
Elegeu Governadores e venceu nos Estados mais importantes sob o ponto de vista econômico do Brasil.
Esse é um diferencial importante entre essas duas lideranças, sendo que Bolsonaro tem um time com consistência ideológica clara, com firmeza e lealdade à raiz do liberalismo econômico e no conservadorismo de costumes.
Não vai ser fácil Lula governar. É um homem com seus 77 anos que na prática é um joguete de um grupo de malandros.
Porém, não podemos deixar de fazer uma autocritica às estratégias e táticas de Bolsonaro e sua equipe.
Uma delas foi a escolha do candidato a Vice. Um general, homem honrado e de bem. Mas que não agregou um voto à candidatura.
Não se erra numa escolha dessas...
Não se pode ir para baile de meretrizes vestido de freira.
A tática era de acordos com a administração de contrários e à agregação de votos.
A ausência de campanha estruturada e maciça no Nordeste foi outro erro tático.
As posturas do Presidente levavam sempre a crer que ele teria uma base de consistência institucional capaz de enfrentar o ativismo judiciário e a quebra do equilíbrio republicano entre os poderes.
Ou seja, Bolsonaro latiu, mas não mordeu!
Mourão e Braga Neto são provas disso.
As convocações de mobilizações também.
Mas na verdade, isso nunca existiu.
Bolsonaro deveria ter endurecido o jogo, dentro da Constituição e talvez usando uma jogada de peso, negando-se a participar do pleito nitidamente contaminado pela parcialidade de quem deveria dirigir e ante o ativismo vergonhoso do STF e da negativa do presidente do Senado de investigar as denúncias e os processos de impedimento dos ministros - sobretudo de Alexandre de Moraes - que é na verdade o verdadeiro imperador do Brasil contando com uma corte de lealdade composta de outros ministros que rasgaram a Constituição diversas e reiteradas vezes.
O cenário agora é de divisão.
E não existem no horizonte próximo, lideranças capazes de fazer o que é o mais necessário nesta hora em que todos pensam ter razão: a conciliação mínima para coexistência pacífica com a recolocação da ordem republicana nas instituições de Estado.
O Brasil é maior que qualquer abismo, é verdade.
Mas as nuvens que pairam sobre nosso país, neste momento, são de trovoadas.
Luiz Carlos Nemetz
Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz