Preocupação com a aposentadoria
O governo acha que uma das melhores formas de economizar é cortando gastos com aposentados
23/06/2015 às 14:41 Ler na área do assinanteAs discussões sobre aposentadoria andaram tirando o sono de muitos nesses últimos dias. E não é pra menos, afinal, se hoje já está difícil pra viver, nada mais natural que cada um pense em si próprio e no seu futuro, não é mesmo? Ainda mais com os atuais problemas econômicos deste país.
Nem governo – e acrescente aí bancos e sistemas financeiros de todo tipo – têm hoje credibilidade total para inspirar confiança aos interessados em comprar planos para aposentadoria futura.
Exemplos na própria família mostram que meu pai errou ao comprar um plano privado que garantiria um bom dote para a filha na sua maioridade, mas nem ele e muito menos a filha nada receberam depois de vinte anos de carnês pagos. Eu mesmo paguei dezoito anos de um carnê, com contribuições previstas para 35 anos, com o objetivo de obter a aposentadoria mais elevada da carreira militar. Desisti quando descobri que meu plano foi mudado e se contribuísse os restantes dezessete anos, nem com salário de soldado raso me aposentaria.
Um irmão comerciante pagou religiosamente durante 37,5 anos as contribuições máximas ao INSS almejando se aposentar com dez salários mínimos. Hoje recebe R$2.340,00 por mês; o que nem chega a três salários mínimos.
Toda essa discussão nesses últimos dias porque o governo precisa economizar muitos bilhões meio pra já. E o governo acha que uma das melhores formas é cortar os gastos dos aposentados. A desculpa é que o tempo de vida dos brasileiros sobe a cada ano e, por conta disso, o número de aposentados cresce também. Porém, gente começando a trabalhar – e a contribuir, claro – não aumenta o suficiente para cobrir essa diferença de gastos.
Mas a verdade não aparece toda nessa discussão. Acontece que o sistema de previdência que atende 25,2 milhões de brasileiros causou no ano passado um rombo de R$56,7 bilhões. Contudo, o governo, também no ano passado, teve um rombo de R$66,9 bilhões para pagar aposentadorias e pensões de 1 (um) milhão de servidores federais aposentados. (Faça isso mesmo: leia novamente este parágrafo!).
Agora, sendo justos: ou se procura outras formas de cortar despesas e não se castiga os mais de 25 milhões de beneficiários, ou se discute também a redução desse rombo de quase setenta bilhões nas aposentadorias dos servidores federais.
Verdade que a partir de 2013 o governo criou o Funpresp, Fundo de Previdência do Servidor Público e que no longo prazo a conta do déficit dos servidores públicos será equilibrada, mas essa promessa está feita para o ano de 2044. (Quase certo que não vou conferir se essa conta vai fechar mesmo; então, deixa pra lá!).
Para corrigir nossos problemas futuros temos o exemplo da Grécia de hoje. E não preciso citar aqui, pois em todos os jornais do Velho Mundo só se comenta sobre isso: a velha Grécia está quebrada financeiramente.
Não foram os juros que levaram os gregos a se endividarem, foram os gastos sociais exagerados – para não dizer abusados. Eles não sabem o que fazer porque não estão conseguindo pagar suas contas; ninguém quer lhes dar mais créditos e se saírem da União Européia e da zona do Euro terão que pagar seus funcionários com Notas Promissórias, pois dinheiro não há.
Com a crise econômica se agravando cada vez mais no Brasil e com o governo todo ano tendo que dar pedaladas para fechar suas contas é perfeitamente compreensível que muitos brasileiros estejam preocupados com seu futuro, especialmente com sua aposentadoria.
Waldir Guerra
Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal. E-mail: wguerra@terra.com.br
Waldir Guerra
Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal. E-mail: wguerra@terra.com.br