Erraram de longe, como em 2018, as pesquisas eleitorais, para um lado e para o outro, expondo o fracasso (ou a falta de ética profissional) da “ciência social” aplicada em terras tupiniquins.
Os mais destacados institutos de pesquisa, como o DataFolha e o Globo/IPEC (antigo IBOPE), indicavam, às vésperas do pleito, a vitória de Lula, já no primeiro turno, pelos placares de 50% a 36% e 51% e 37%, respectivamente, enquanto que a Brasmarket, em contrapartida, a de Bolsonaro, por 45% a 31% – ao passo que o escore pró-Lula foi de apenas 5 pontos percentuais (48% a 43%).
Os equívocos se estenderam, igualmente, aos resultados previstos para as cadeiras do Senado e para os Governos dos estados, com maior realce para o escandaloso caso de São Paulo, em que o quociente das urnas foi, justamente, o inverso do prenunciado pelo DataFolha e pelo IPEC: ao invés do triunfo de Haddad por 15 pontos de diferença, a vantagem de Tarcísio de Freitas em 8 – ou seja, uma imprecisão em mais de 20 pontos!
Ficou, assim, o veredicto final da disputa presidencial para o 2º turno. E todo 2º turno, como se sabe, é uma outra eleição. Um cenário com dinamismo peculiar, em que tudo pode acontecer: ora a confirmação dos resultados preliminares, ora a sua reversão – talvez por isso não tenha havido comemorações precipitadas na noite do dia 2/10, salvo tímidos e localizados festins.
São inúmeros os fatores intervenientes que, diante da pequena (ainda que não desprezível) diferença registrada entre os oponentes, recomendam máxima cautela, não permitindo celebrações precoces ou antecipadas. Dentre esses, importa considerar, por seu significativo grau de impacto:
a) O redirecionamento do apoio dos demais candidatos derrotados e de seus eleitores aos disputantes finais;
b) O posicionamento e atuação dos novos governadores e parlamentares sufragados nas urnas, que poderão agora, uma vez já eleitos, concentrar-se com mais foco e determinação no suporte direto a seus presidenciáveis de preferência;
c) A mobilização dos cidadãos que se abstiveram em participar do 1º turno e que representam, potencialmente, cerca de 30 milhões de eleitores (5 vezes mais que a diferença de votos entre Lula e Bolsonaro);
d) O apelo das campanhas midiáticas nos grandes meios de comunicação, agora com tempo equivalente entre os candidatos;
e) Novas abstenções relativamente ao 1º turno, uma vez já definidos os demais cargos proporcionais e majoritários;
f) O eventual relaxamento do empenho dos políticos já eleitos relativamente à derradeira disputa presidencial;
g) O desempenho da economia nesse ínterim – além de outros elementos secundários.
Caio Coppolla, em seu Boletim Coppolla (Jovem Pan) de 3/10, tem razão em afirmar que, em tese, Lula está praticamente eleito, bastando canalizar menos de 2% dos votos de Simone Tebet e Ciro Gomes. O que precisa ser acrescentado ao argumento, contudo, são três observações pertinentes, que relativizam a projeção:
a) a quase totalidade dos que votaram em Tebet e Ciro rejeita Lula e Bolsonaro, com maior proporção ao primeiro (o que levará à anulação maciça de seu voto no 2º turno ou a uma pequena migração majoritária a Bolsonaro);
b) de 10 a 20% dos cidadãos que se abstiveram no 1º turno (de 3 a 6 milhões de eleitores) podem mudar de posição frente a uma percepção mais clara de ameaça aos seus interesses políticos;
c) os governadores e parlamentares eleitos podem influenciar mais fortemente os seus eleitores a se engajar, com mais afinco, na campanha presidencial, com algum impacto no saldo da contenda – como é o caso de Minas Gerais (decisivo colégio eleitoral), cujo governador já se declarou, abertamente, ferrenho opositor de Lula.
Dentre todos os fatores, contudo, em movimento, o mais determinante a ser considerado, pelas sequelas deixadas no primeiro tempo da peleja, é o da transparência e segurança dos procedimentos de programação (código fonte) e escrutínio dos votos (boletins de urna e contabilização). Isso porque restou muita suspeição quanto à apresentação progressiva dos resultados parciais da apuração, moldada por um padrão retilíneo e invariável de evolução da totalização (improbabilidade estatística), tanto quanto pela diferença abissal registrada entre os votos canalizados a candidatos apoiados diretamente pelo Presidente da República (como no notório caso de Minas Gerais) e aqueles destinados ao próprio – a denotar uma
dessintonia incomum em termos de comportamento político coletivo.
Algo terá de ser feito, portanto, com urgência, a contrapelo da resistência do TSE, para se evitar que o resultado do derradeiro sufrágio de 30 de outubro gere mais desconfiança e mal estar, com consequências, à essa altura, extremamente danosas e imprevisíveis do ponto de vista político, social e econômico.
Se o TSE não tem nada a esconder, não há por que não permitir ao Exército, conforme reiteradamente requisitado, uma parceria mais fina e engajada na supervisão e controle do sistema de apuração, em nome da lisura e transparência de todo o processo. Isso apascentaria os ânimos e garantiria uma melhor e definitiva aceitação do resultado do pleito, sem indesejáveis contestações subsequentes. Afinal, o que está em jogo é a própria democracia – e o TSE não é o dono das eleições.
Ou é assim, ou já se anuncia uma grande turbulência no horizonte, de alarmante e sinistro prognóstico.
Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).
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