Esbórnia de senadores em tempos de crise

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A restrição na gastança pública é tema de primeira ordem em qualquer lugar deste país. Dos tribunais aos salões de beleza, dos ministérios aos botequins, a expressiva maioria dos brasileiros decidiu debater, legitimamente, como os Três Poderes da República estão consumindo os escassos e suados recursos públicos. No entanto, o Senado Federal decidiu postar-se alheio ao debate, mantendo abertas as torneiras de gastos, muitos deles desavergonhadamente fúteis e absurdos.

No último dia 27 de outubro, a Mesa Diretora do Senado autorizou a publicação do edital de licitação relativo ao Pregão nº 124/2016 visando a contratação de “empresa especializada para prestação de serviços de buffet”. Nos termos do documento oficial, eles são necessários para realização de solenidades, palestras, seminários, etc. O Senado pretende gastar R$ 262 mil com um cardápio que inclui cortes especiais de carne, frutos do mar, peixes nobres, crepe suzette, creme brûlée e profiteroles, além da realização de coquetéis específicos, coffee break e welcome coffee. Como é dura a vida de um senador brasileiro e de seus funcionários e amigos, pois não?!

Não bastasse o descalabro anterior, naquele mesmo 27 de outubro foi autorizada a publicação relativa ao Pregão nº 125/2016, pelo qual o Senado estima gastar R$ 681 mil na compra de 220 aparelhos de TV Full HD para, de acordo com a justificativa do edital, “atender solicitações de gabinetes dos senadores”. As especificações são claras: 20 televisores de LED de 40 a 43 polegadas; e outros 200 aparelhos de LED de 55 a 60 polegadas. Ambos processos licitatórios serão concluídos na segunda quinzena de novembro.

Noutro caso emblemático, o Senado Federal consumiu R$ 217 mil na compra de livros para “atender as necessidades de informação técnico-científica dos senadores, consultores, advogados, diretores e demais servidores”. Segundo o edital do Pregão nº 78/2016, homologado em 28 de agosto, foram adquiridos livros de Direito, Filosofia, Sociologia, Artes e congêneres, independente de quem são os autores, se possuem reconhecida qualificação técnica ou quais são as editoras indiretamente beneficiadas pelo processo licitatório. Os livros vão abastecer a Biblioteca Luís Viana Filho, homenagem ao ex-governador da Bahia e imortal da Academia Brasileira de Letras.

Agora, observe com atenção os fatos: apenas nos três casos supramencionados, o Senado Federal pretende gastar mais de R$ 1 milhão dos cofres públicos dos pagadores de impostos para atender ao “melhor conforto” de Suas Excelências. Justo num momento quando é exigida do povo brasileiro a disposição para aceitar imensos sacrifícios e pagar a fatura amarga da perdulária e irresponsável década petista no comando do país e todos os estratosféricos escândalos de corrupção.

Teto de gastos, reforma previdenciária, revisão da legislação trabalhista, redução drástica de investimentos, uma crise econômica sem precedentes na História recente e o Senado Federal dá-se o luxo de queimar dinheiro público com contratação de buffet e compra de centenas de mimos caríssimos. Os senadores dão sinais claros de que estão noutro planeta, noutra galáxia, noutra realidade. Muito distante da vida e do cotidiano dos cidadãos que dizem representar.

A esbórnia protagonizada pelos senadores da República não é apenas desatenção ou ignorância. É a consagração do desprezo pelo Brasil, sentimento basilar de quem corrompe e tem convicção da impunidade. É a mais vertiginosa e solene falta de vergonha na cara.

HELDER CALDEIRA, Escritor.

www.heldercaldeira.com.brhelder@heldercaldeira.com.br

*Autor dos livros “Águas Turvas”, “O Eco”, “Pareidolia Política”, entre outras obras.

Foto de Helder Caldeira

Helder Caldeira

Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
*Autor dos livros “Águas Turvas” e “A 1ª Presidenta”, entre outras obras.

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