O presidente da França, Emmanuel Macron, é um fanfarrão. Inacreditavelmente reeleito em abril desse ano, pelo fragilizado povo francês. Ele se tornou um líder na decadente e globalizada Europa.
Macron juntamente com outros líderes europeus e o presidente americano, Joe Biden, foram fiadores da aventura ucraniana que escalou para a guerra Russo-Ucraniana.
Agora, como se não tivesse nenhuma responsabilidade nessa catástrofe humanitária que pode levar o continente a uma ‘era das trevas’, o presidente francês anuncia: "Estamos vivendo o fim da era da abundância. Liquidez, produtos tecnológicos, terras e matérias primas que pareciam permanentemente disponíveis” aos europeus. E que agora não o são mais.
O mandatário francês estava se referindo ao fim da disponibilidade a baixo custo de um insumo, que está se tornando cada vez mais escasso na Europa: a energia. A reunião ministerial foi gravada e amplamente divulgada pela mídia local. Fato inédito na história da França, pois esses encontros são cobertos do óbvio sigilo (até nisso Macron imita Bolsonaro).
A divulgação é por si só é uma mensagem aos cidadãos franceses: preparem-se, pois o inverno está chegando e não teremos energia suficiente para aquecer nossas casas e alimentar nossas indústrias.
TRUMP ALERTOU MAS NÃO QUISERAM OUVIR...
A Europa está enfrentando a pior crise energética de sua história, provocada pela redução do fornecimento de petróleo e de gás da Rússia, da qual é extremamente dependente. Moscou começou a diminuir progressivamente a quantidade de hidrocarbonetos (gás natural) entregues aos países europeus já no final de 2021, mas reduziu de vez o fluxo após a invasão da Ucrânia e a aplicação de sanções internacionais. O gás russo flui dos campos de extração da Sibéria para a Europa através de uma série de gasodutos, alguns terrestres, como o "Yamal", "Luz do Norte", "Soyuz" e "Irmandade", outros construídos abaixo do Mar Báltico, como o "Nord Stream 1" e o "Nord Stream 2".
A Alemanha depende por cerca de 50% de sua matriz energética do gás russo, e praticamente por 100% de sua energia elétrica é produzida através da combustão do gás que chega da Sibéria. Uma situação parecida com muitos outros países europeus, como a Itália, mas que atinge 80% no caso de países como a Bulgária e quase 100% no caso da Finlândia ou da Letônia.
Isso significa que se a Rússia interromper de vez o fornecimento de gás, basicamente toda a Europa continental ficará sem energia. As fábricas não conseguirão continuar produzindo, pois, os maquinários deverão parar. Um problema gigantesco para potências industriais como Alemanha ou Itália, que provocará uma explosão de desemprego e consequentes manifestações nas ruas.
Não foi por falta de aviso em julho de 2018, Trump alertou os líderes europeus (o vídeo voltou a circular na internet) pela excessiva dependência do gás russo. Claro que os líderes europeus torceram o nariz e ignoraram Trump – não apenas apostando na Rússia mas fechando várias usinas nucleares e termoelétricas porque essas eram ‘politicamente incorretas’ do ponto de vista ambiental.
Mas a batata dos líderes europeus vai esquentar (ou congelar) quando o rigoroso inverno chegar com sua força máxima no hemisfério norte, e as casas dos europeus não poderão ser aquecidas. O que provocará mais raiva popular, especialmente nos países onde as temperaturas baixam para menos de 0º, e o aquecimento em casa é indispensável.
Nenhum país europeu é energeticamente independente da Rússia. Para complicar a Europa está enfrentando uma seca catastrófica que reduziu a vazão dos rios e está limitando a produção de energia nuclear, que necessita de água para resfriar os reatores.
Na Itália, muitas padarias, pizzarias e bares estão colocando as contas de luz nas vitrines para denunciar as altas vertiginosas. Alguns comerciantes respondem aumentando os preços, perdendo clientes e faturamento. Outros não aguentam e fecham as portas. Tudo isso depois do equivocado ‘isolamento social’ que trancamento do comercio que não impediu a proliferação do Covid-19 e destruiu as cadeias produtivas. Louve-se a atitude do presidente do Brasio que lutou ferozmente contra esses ‘lockdowns’ mesmo sendo massacrado pela imprensa mundial.
O que preocupa mais os analistas são as possíveis convulsões sociais, consequência desse cenário, que poderiam abalar os países europeus. Os centenas de milhares de desempregados e as milhões de pessoas que não conseguem mais arcar com as contas de energia e aquecimento para suas casas manifestarão um descontentamento raivoso nas ruas.
O maior medo dos políticos em Bruxelas é que esses protestos possam se transformar em uma mudança repentina da opinião pública. Se até agora a maioria dos cidadãos europeus simpatiza com a Ucrânia contra a Rússia, existe o risco que o mal-estar generalizado provocado pela crise energética possa inverter essa percepção.
Exasperados, os europeus poderão preferir abandonar a Kiev ao seu destino em troca da normalização dos fornecimentos de gás russo.
Alguns sinais nesse sentido já estão aparecendo, com manifestações na República Tcheca e na Alemanha, onde dezenas de milhares de pessoas marcharam no último final de semana contra as sanções. E nas ruas apareceram muitas bandeiras da Russia.
A esquerda europeia de Macron, Angela Merckel e Boris Jonhson – os dois últimos já afastados de seus cargos – apostaram alto nas narrativas e no globalismo. Tudo indica que sofrerão uma derrota devastadora para o nacionalismo de Putin. Infelizmente quem pagará o preço serão o povo italiano, alemão, ucraniano etc.
Fonte: Exame
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.