“Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito”. (Marquês de Maricá).
Em 19/09/1992, Fernando Collor, então presidente, chamou Ulysses Guimarães, deputado federal (PMDB-SP), de "senil e desequilibrado".
Eis a resposta dada por Ulisses:
- "Sou velho, mas não sou velhaco! (...) Os remédios que tomo não me criam problemas com a polícia, pois são comprados em farmácia".
Collor sofreu impeachment e renunciou.
Em 2022 dois políticos, Lula e Alckmin, esqueceram tudo o que diziam um do outro e juntaram-se. Depois do casamento apresentam-se na maior cara-de-pau à sociedade brasileira pedindo votos e fazendo elogios mútuos.
Lula tem 76 anos e afirma, jurando, sobre Alckmin:
- "Tive extraordinária relação com Alckmin, foi um governador responsável aqui em São Paulo” ... "Não importa se no passado fomos adversários, é hora de grandeza política, espírito público e união".
Alckmin tem 69 anos e afiança, com seus olhinhos brilhantes, acerca de Lula:
- “...O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios, avançar e garantir a retomada do crescimento ... Nosso país precisa de pacificação ... O momento exige grandeza política, espírito público e união”.
Dois velhos ou dois velhacos? Dois picaretas ou dois astuciosos em busca da presidência do país? Dois tratantes ou dois trapaceiros que zombam dos brasileiros?
Eis o que asseguravam Lula e Alckmin, um a respeito do outro, em um tempo não tão antigo assim:
Em 24 de outubro de 2006, em um debate na TV Record, Alckmin disse que o governo Lula tinha duas marcas:
“Parado na economia e acelerado nos escândalos".
No outro dia afirmou sobre o debate:
- “O tom não foi agressivo. Estou absolutamente zen. Inclusive dormi tranquilo, estou com a consciência tranquila. O Lula não pode achar que é normal essa mentirada toda que ele fala pelas costas. Eu falo a verdade e frente-a-frente”.
Lula, por sua vez, acusou Alckmin e disse:
- “O projeto deles é o de pessoas que falam de nariz em pé e com arrogância. Para política, isso é muito pobre. Alckmin é uma sanfona quebrada, que faz o mesmo som de arrogância na campanha inteira...”
Em 2014, disse Lula sobre Alckmin:
- “Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu. É insosso, como se fosse comida sem sal. Nunca fala de nenhum problema do Estado, nunca responde por nada”.
Em 2016, disse Alckmin sobre Lula:
- “O Lula é o Partido dos Trabalhadores. O Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites”.
- Naquele mesmo dia, o petista reagiu por meio de nota:
- “Seria mais proveitoso para a população de São Paulo se a imprensa perguntasse e o governador explicasse os desvios nas obras do metrô e na merenda escolar, a violência contra os estudantes e os números maquiados de homicídios no estado, ao invés de tentar desviar a atenção para um apartamento que não é e nunca foi de Lula”.
Em março de 2016, quando Lula era investigado pela Lava Jato, Alckmin disse que o petista usava subterfúgios para fugir da Justiça:
- "O presidente Lula se vangloriava de que, pela primeira vez na história do Brasil, a polícia tem independência para poder investigar. Então não pode agora usar de subterfúgios para fugir da Justiça. Isso é inadmissível”.
Em dezembro de 2017, Alckmin afirmou:
- “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, ele quer voltar à cena do crime. Nós o derrotaremos nas urnas. Lula será condenado nas urnas pela maior recessão da nossa história, pelos 15 milhões de empregos perdidos, pelas milhares de empresas fechadas, pelos sonhos desfeitos e negócios falidos”.
Lula acabou não disputando as eleições. Estava preso em Curitiba e sua candidatura não foi autorizada pela Justiça Eleitoral. Em agosto, disse em um artigo publicado no site de seu instituto:
- “Geraldo Alckmin (PSDB) e Michel Temer (MDB) são duas faces de uma mesma moeda: a agenda neoliberal que já afundou o país nas gestões do ex-presidente FHC, e que agora colocou o país em uma das maiores crises da sua história, sob a batuta do governo ilegítimo de Michel Temer. Isso é facilmente demonstrável através da posição de seus respectivos partidos nas votações no Congresso Nacional favoráveis a medidas tão nefastas, como a emenda constitucional do teto dos investimentos públicos e a reforma trabalhista”.
Durante a campanha de 2018 para a Presidência, Alckmin atacou o PT e rejeitou totalmente a possibilidade de uma aliança com o partido.
- "Não existe a menor chance de aliança com o PT. Vou disputar e vencer o segundo turno, para recuperar os empregos que eles destruíram saqueando o Brasil. Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime. Seus apoiadores são aqueles que acampam em frente a uma penitenciária".
Desavergonhadamente os dois esqueceram tudo. As acusações que um fez ao outro foram todas deslembradas. Nada era verdade. Nem um era corrupto, nem o outro era ladrão. Era tudo brincadeira. Cinicamente os dois estão na mesma chapa e na caradura afirmam estar construindo um plano de governo para ser apresentado aos brasileiros nas eleições de outubro de 2022.
Dois velhos ou dois velhacos?
Dois picaretas ou dois astuciosos em busca da presidência do país?
Dois tratantes ou dois trapaceiros que zombam dos brasileiros?
Em de 12 de outubro de 1992, o deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP), uma das figuras mais importantes da história brasileira, morreu em acidente aéreo de helicóptero, em meio a uma violenta tempestade, no mar de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Dos 5 mortos o corpo de Ulysses Guimarães foi o único que nunca foi encontrado. Desapareceu misteriosamente. Seu nome foi inscrito no Panteão dos Heróis da Pátria Brasileira pela lei federal nº. 13.815, de 24 de abril de 2019.
Ulisses Guimarães deve estar chorando de vergonha em sua tumba dentro do mar ao assistir os dois políticos imorais em sua trama para engabelar os brasileiros.
E todas as noites, quando os brasileiros descansam de sua faina diária, Ulisses emerge das águas como Netuno e grita a nação pela qual tanto lutou, advertindo homens, mulheres e jovens sobre roubalheira, corrupção, perversão moral, políticos cínicos, tudo embutido em sua frase e que todos se mostrem firmes como ele espantando os roedores dos cofres públicos:
- "Sou velho, mas não sou velhaco”!
Veja o vídeo de Lula e Alckmin falando mal um do outro:
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)