Os Torquemadas globais: Análise da mecânica de um tribunal de inquisição do século XXI
23/08/2022 às 15:05 Ler na área do assinanteO que os brasileiros assistiram ontem, dia 22 de agosto de 2022, na Rede Globo de Televisão, é digno de se tornar objeto de estudos em todas as faculdades de jornalismo do país.
Os apresentadores da pretensa entrevista fizeram dos quarenta minutos e seis segundos de exibição do canal, um verdadeiro tribunal inquisidor a Jair Bolsonaro. William Bonner e Renata Vasconcellos se esforçaram para impor um protagonismo jornalístico que não cabe a um profissional da área, senão, por uma perspicácia e inteligência, inclusive emocional, para extrair de seus entrevistados a melhor informação para seus telespectadores, leitores ou ouvintes. Mas o que se viu, foram dois mequetrefes se abancando de algozes atuando em favor do sistema que quer derrubar um governante.
Para garantir essa minha convicção, peço atenção no formato das entrevistas que se seguirão com outros candidatos neste mesmo canal e horário, nos próximos dias. A diferença será abismal!
Porém, quero ater-me a uma questão mais pragmática, menos contextualizada, e assim verificar como a mecânica do inquisitório foi aplicada.
Nos quarenta minutos e seis segundos de duração da inquisição, podemos verificar que:
- Bonner e Renata usaram e abusaram de conjecturas, opiniões e mentiras em suas colocações, que vinham a permear suas perguntas;
- Os inquisidores cometeram 19 interrupções na fala de Jair Bolsonaro;
- Por 17 vezes, eles falaram por cima da fala do entrevistado;
- Em cinco momentos, abruptamente, Bonner e Renata mudaram o tema das perguntas, mas não, sem antes deixar seus pontos de vista por último aos telespectadores;
- Foram 26 intervenções dos interlocutores do canal contra 25 do entrevistado. Isso sem contar as interrupções cometidas;
- Bonner e Renata falaram por 15'01`` e Jair Bolsonaro por 22'48``, e as interrupções e falas sobrepostas dos globais somaram 2'17``. Ou seja, os entrevistadores usaram de 43,12% do tempo, cabendo ao entrevistado 56,88%.
Que o jornalismo sobreviva!!!
Alexandre Siqueira
Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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