Estudos do genoma se aproximam da explicação para a esquizofrenia e o transtorno bipolar

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Muitos são os motivos para a queda do galho de uma árvore. Um grande galho pode cair após uma violenta ventania, mas nem todos os galhos partem. Isto porque, aqueles que desabam não foram afetados apenas pela força do vento, provavelmente estavam fragilizados por uma série de fatores anteriores. Mesmo com a queda de um importante ramo da árvore, ela pode se manter viva, mas terá sua existência e desenvolvimento profundamente afetados.

Em muitos aspectos o sistema nervoso se assemelha a uma árvore. O tronco desta árvore cerebral é a parte mais básica e mais primitiva, sendo então responsável pelas funções mais automáticas e instintivas do comportamento. A copa, chamada de córtex, última porção a ser formada, é a parte que realiza as capacidades mentais mais complexas como o pensamento, criatividade e resolução de problemas de alta complexidade, como construir uma espaçonave que nos leve até a Lua.

Assim como uma árvore pode sofrer a queda de um galho, nossa árvore cerebral também pode. As ventanias que derrubam nossos galhos são chamadas de ‘estresse’ e os motivos que fragilizam nossos ramos antes de desabarem são os problemas na gestação, as doenças pelas quais passamos, os desafios do desenvolvimento psicológico, as adversidades sociais e econômicas e os nossos genes. Transtornos mentais graves como a esquizofrenia e o transtorno bipolar são a expressão do sofrimento pelo qual passa a nossa árvore, após o desabamento de um grande galho. Para cada pessoa, diferentes combinações de motivos podem ocorrer, o que faz com que seja tão difícil a descoberta das causas desses problemas mentais.

Milhares de pesquisas já foram realizadas e cada uma delas ajudou a esclarecer fatores como as influências do sistema imunológico, de mutações genéticas, do sistema hormonal, de traumas psicológicos, entre outros. Tais influências podem aparecer de forma diferente em várias populações de diversas partes do planeta. Uma investigação com um grupo de pessoas em um determinado lugar é importante, mas para o entendimento completo de problemas complexos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar é como procurar a Cordilheira dos Andes com uma lupa.

Com a intenção de estudar todas as populações mundiais, com suas diferentes origens e etnias, assim como todas as influências que fragilizam o organismo de forma simultânea, está em desenvolvimento o Psychiatric Genomic Consortium (PGC – Consórcio Genômico Psiquiátrico). Este consórcio é formado por centros de pesquisa ao redor do mundo, integrados com o objetivo de coletar informações das populações e de seu material genético completo.

Este material, o genoma, permite que se observem informações de como o organismo foi programado e como ele está se expressando diante das influências do ambiente. É como construir um satélite que permita observar desde os menores detalhes da Cordilheira dos Andes até a forma como ela está posicionada na América do Sul. O estudo do PGC que investiga a esquizofrenia e o transtorno bipolar chama-se Estudo Genômico de Coorte em Psiquiatria é formado por 10 mil pacientes com esquizofrenia, 5 mil pacientes com Transtorno Bipolar, 3 mil parentes de pacientes e 15 mil pessoas saudáveis, estando as informações armazenadas na University of Southern California (USC).

No Brasil, em parceria com a New York University (NYU), está desenvolvido o estudo ‘Genômico de Coorte em Psiquiatria entre Afrodescendente: Esquizofrenia e Transtorno Bipolar’. As pesquisas são coordenados em quatro centros de Campo Grande com a intenção de incluir as particularidades da população brasileira e de sua maioria afrodescendente na pesquisa. Os trabalhos de triagem dos voluntários, entrevistas e coletas de amostras de sangue já se iniciaram na Clínica-Escola da UCDB.

André Barciela Veras - Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

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