É um grande engano pensar que o homem mediano só tem paixões medianas. (Georges Bernanos).
Vocês já notaram que alguns ministros do supremo, entre uma palestra e outra, citam a frase “os engenheiros do caos” para se referir aos que se opõem aos seus pensamentos e às suas vontades?
Também os políticos de esquerda ao falar de seus opositores repetem a frase “engenheiros do caos”, depreciando todos aqueles que não concordam com suas diatribes?
Na mesma toada, os jornalistas do “Consórcio de Imprensa”, dia sim e no outro dia também, repetem as mesmas palavras e fazem grandes rodopios linguísticos para explicar o que se passa no Brasil, nomeando e culpando as “fakes news” pelo repudio dos brasileiros aos ministros do supremo, aos partidos de esquerda e ao jornalismo do “Consórcio”?
Parece que todos leram o livro de Giuliano Da Empoli, intitulado “Os engenheiros do Caos” e o adotaram como Bíblia, como um manual verdadeiro, onde estão escritos dogmas invioláveis e então citam o tempo todo as ideias contidas no livro. É uma espécie de “Manual do Tadeu do Fantástico”: você quer satisfazer sua aspiração, abre o livro e... “Voilá”! Como mágica, lá está o artigo que você procura, certinho, para satisfazer o seu desejo.
Falemos um pouco do livro e de seu autor:
- “Giuliano Da Empoli é jornalista, desde 1996 é colaborador regular de vários jornais da Itália, ocupou diversos cargos, entre eles, os cargos de secretário da Cultura de Florença e Conselheiro Político de Matteo Renzi, ex-primeiro-ministro italiano.
Fui aos sites italianos à procura da atividade política de Giuliano e descobri que ele é filiado ao “Partido Democrata” (PD), que é um partido político italiano de centro-esquerda, fundado em 14 de outubro de 2007. Tem orientação reformista, progressista/socialista de centro-esquerda.
Pois é, o ídolo dos donos do Brasil é um comunista de carteirinha.
Nas eleições gerais de 2018, Da Empoli foi candidato pelo Partido Democrata ao Senado no collegio toscana 02 (Arezzo - Pisa - Livorno), mas foi o primeiro dos não eleitos. Não, não foi eleito. Não teve votos. Se entende tanto de política, de nações, porque não teve votos? Se sabe quem são “Os Engenheiros do Caos” porque não os evitou?
Em seu livro, Da Empoli faz uma análise e mapeia as principais tendências políticas da atualidade, explicando e detalhando como são ganhas as eleições nos tempos atuais. Olhemos um pouco o seu livro:
Na “Introdução”, Da Empoli nos fala sobre o carnaval e diz que “as pessoas deixam de ser elas mesmas nesse período de festa, se fantasiando do que mais lhes convêm”. Então compara o cenário político do mundo atual a uma grande festa de carnaval, festa essa que parece alegre, divertida, mas por dentro exala ódio, violência. Esse espirito carnavalesco, cria, segundo ele, o aumento do populismo, que despreza as normas, leis e códigos que regem a sociedade. Nesse caldo de cultura dançante, as falhas e as deformidades dos políticos, como num passe de mágica, se tornam virtudes.
1 - No capitulo inicial, “O vale do silício do populismo”, Da Empoli destaca que aqui habita uma ideologia: a sabedoria das multidões. As multidões não devem confiar nos especialistas, as pessoas comuns sabem mais. Afirma que os que mais se conectam, são os mais frustrados. Os regentes desse vale são Steve Bannon e o Movimento 5 Estrelas, italiano. Esses “engenheiros do caos” perceberam, antes de todos, que a raiva podia ser manipulada, direcionada pela tecnologia para qualquer fim.
2 - Em “A Netflix da política”, o autor nos mostra o funcionamento do blog do “engenheiro” Casaleggio, como o blog mobiliza as pessoas e depois como outros blogs e sites se juntam a ele: - “Eles são todos iguais. Eles nos arruinaram! Vamos manda-los de volta para casa”! É o grito de todos contra os políticos.
3 - “Waldo conquista o planeta”, é retirado da minissérie Black Mirror e o episódio “Momento Waldo”, serve como reflexão sobre a Internet, sobre como as pessoas se divertem usando a intolerância. Waldo é um urso digital azulado, apresenta um programa de TV, “que zomba do convidado do dia com piadas de péssimo gosto”. Faz sucesso, torna-se popular e acaba sendo convidado a se candidatar. Waldo e sua intolerância radical conquistam o mundo:
“A cena final se passa alguns anos mais tarde. Uma patrulha de milicianos uniformizados caça a golpes de cassetete um grupo de mendigos que dormem sob uma ponte. Diante deles desfilam na tela imagens que chegam dos quatro cantos
do planeta: estudantes asiáticos usando uniformes azul-turquesa-Waldo, aviões militares com a efígie de Waldo. Em superposição, destacam-se, traduzidos em todas as línguas, os slogans vazios do novo poder: Change (Mudança), Hope (Esperança), Believe (Crença), Future (Futuro).
O antissistema tornou-se o sistema e, por trás da máscara do Carnaval, estabeleceu um regime de ferro”. (pág. 70).
4 - Em “Troll, o Chefe”, aparecem Trump, Breitbart e Milo Yiannopoulos, o autor diz que eles sã trolls, gente que vive de atacar outras pessoas. Na linguagem da internet, designa usuários que disseminam a discórdia, a fúria e o caos nas redes sociais, aleatoriamente ou com estratégias definidas.
5 - Nesse capítulo, “Um estranho casal em Budapeste”, aparece Arthur Finkelstein e são destacadas ideias contra os imigrantes, contra o Islamismo. Para os populistas que dominam e direcionam as redes eles são inimigos mortais.
6 - Em Os “físicos e os dados”, os argumentos são finalizados com o aparecimento de Dominic Cummings e os usos das tecnologias na política, a expertise. Aqui é apresentada a fórmula mágica para vencer qualquer eleição, qualquer resistência, segundo o autor do livro, página 142:
“O diretor da campanha em favor do Brexit, Dominic Cummings, em vez de recorrer aos habituais consultores políticos, organizou a campanha com a ajuda de uma equipe de cientistas originários das melhores universidades da Califórnia e de uma empresa canadense de Big Data ligada à Cambridge Analytica, chamada AggregateIQ. O pedido que Cummings fez a esses dois grupos era bem simples: ajudem-me a mirar certo. Digam-me para onde devo enviar meus voluntários, em que portas devo bater, a quem devo mandar e-mails e mensagens nas redes sociais e com que conteúdos. Segundo declarações do estrategista do Brexit, os resultados ultrapassaram todas as suas expectativas”.
E chegamos à “Conclusão: A era da política quântica”, onde tanto as leituras quanto os próprios fatos variam, gerando-se bolhas onde as pessoas vivenciam suas experiências de radicalização política e isolamento do espaço público. Diz o autor na página 175:
“Na velha política newtoniana, a advertência de Daniel Patrick Moynihan, 'Cada um tem direito a suas próprias opiniões, mas não a seus próprios fatos', podia ainda ter valor, mas na política quântica esse princípio não é mais viável. E todos aqueles que se esforçam para reabilitá-lo contra os Salvini e os Trump, estão destinados ao fracasso.
A política quântica é plena de paradoxos: bilionários se tornam os porta-estandartes da cólera dos desvalidos; os responsáveis por decisões públicas fazem da ignorância uma bandeira; ministros contestam os dados de sua própria administração. O direito de se contradizer e ir embora, que Baudelaire invocava para os artistas, virou, para os novos políticos, o direito de se contradizer e permanecer, sustentando tudo e seu contrário, numa sucessão de tweets e de transmissões ao vivo no Facebook que vai construindo, tijolo após tijolo, uma realidade paralela para cada um dos seguidores”.
Desde que foi lançado as esquerdas abraçaram o livro como uma explicação para suas derrotas. No Brasil, o intelectual Italiano que hoje vive na França, foi saudado como novo guru: os jornais a Folha, o Globo, o Estadão, e o resto do “Consórcio de Imprensa”, a revista Veja, fizeram e replicaram entrevistas e explicações do novo “mestre”. A comuna/marxista, Manuela D’Ávila entrevistou o escritor e disse que ele “desmascarou a estratégia desinformativa de Bolsonaro”. Uma festa para os “canhotas insossos” de todo o mundo.
Agora a minha análise:
a) O livro é uma grande toalha para os “canhotas” do planeta enxugarem as lágrimas. Eles necessitavam de uma explicação, de um “porquê” a direita ter renascido. Não vale a explicação capitalista. Não vale afirmar que as pessoas têm medo das atrocidades feitas pelos comunistas aos povos que foram enganados por suas mentiras. Os “canhotas” dizem que a direita venceu porque dominou as redes sociais. Venceu porque fez discursos de ódio, fake news, conflitos raciais, violência, polarização, atacou a democracia... E os comunistas perderam porque fazem discursos bonitinhos, cheios de amor, de solidariedade, de paz, são todos uns fofos, dão flores, não quebram as lojas, não invadem propriedades, não assassinam e são democráticos...
b) Da Empoli, perdeu a eleição para o senado italiano. Da Empoli é filiado a um partido comunista. Tudo isso foi escondido pelos grandes veículos de comunicação do Brasil. Da Empoli, é uma espécie de “cientista” que elaborou uma teoria e a fórceps inseriu nela os usuários da Internet como pessoas tolas, que não pensam e são extremamente violentas e a partir dessa premissa, explicou como as fakes news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições.
c) Quem frequenta as redes sociais, segundo o autor do livro, está cheio de ódio. Leia o livro, pois em todos os capítulos o que mais o autor destaca é a repugnância, a antipatia, o desprezo, a repulsa, a violência, os desejos do mal, a execração, o rancor, a raiva, a ira. E repete incessantemente que os “engenheiros do caos” capturaram esses sentimentos e os direcionaram contra os “fofos comunas”, os “inocentes comunas” para vencer as eleições.
c) Matteo Salvini, Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Orbán, Nigel Farage e Beppe Grillo, são feiticeiros que contrataram cientistas e especialistas em Big Data para chegar ao poder.
Se tudo isso é verdade, as esquerdas agora sabem como ganhar as eleições: basta aplicar o esquema descrito por Da Empoli e tudo estará resolvido.
Se tudo isso não é verdade. Se as pessoas que frequentam a Internet não são movidas pelo ódio, mas usam a Internet porque querem se comunicar, se divertir, ver coisas diferentes, usar um novo meio de comunicação, trocar ideias, fofocar, ler, buscar novidades, ver idiotices, ler poesias, ler textos filosóficos de todos os tipos, buscar novas ideias, se a verdade é essa, então o manual de Da Empoli não serve para nada, é apenas mais uma explicação oferecida para a repulsa que todos sentem pela ideologia comunista.
Notem, ainda, que as palavras de Da Empoli, tais como “discursos de ódio”, “ameaça a democracia” e frases do livro, são repetidos pelas autoridades de viés esquerdista, jornalistas, articulistas, artistas, blogueiros, numa tentativa desesperada de barrar a liberdade de comunicação, como fez o Ministro Barroso em entrevista ao programa Amarelas On Air, de #VEJA, em 28 de set. de 2021, onde falou sobre a disseminação de informações falsas nas redes sociais e a necessidade de se combater esses conteúdos. A primeira frase está lá na página 175 do “Manual do Tadeu”, também chamado de “Os Engenheiros do Caos”:
- "As pessoas têm direito à própria opinião, mas não aos próprios fatos", disse mais: “As milicias digitais tentam criar uma realidade paralela para poder difundir teorias conspiratórias que geram medo pra eles oferecerem a solução autoritária”
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)