Reinaldo Azevedo e a frente antifascista de Nárnia

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Não sei quem exatamente consagrou o bordão ‘’O Brasil não é para amadores’’, mas ele serve de maneira inequívoca para a política tupiniquim. Geraldo Alckmin, tucano histórico, protagonista de querelas eleitorais contra o PT, escolheu caminhar ao lado do ex-presidente Lula, seu algo em 2006 e em tantas outras oportunidades. Não mais pelo PSDB: Alckmin agora é filiado ao PSB.

Aproveitando o fato, o sr. Reinaldo Azevedo tratou de apresentar a aliança aparentemente contraditória – só aparente mesmo, explicarei adiante o porquê – como uma frente ampla pela democracia em oposição ao rival ‘’fascistóide’’, o presidente Jair Bolsonaro. É óbvio que a situação nem de longe lembra a aproximação entre Carlos Lacerda e João Goulart, mas o jornalismo brasileiro acredita – ao menos finge acreditar – que estamos diante de um pacto virtuoso entre um direitista e um esquerdista pela democracia.

A contradição é apenas aparente: Geraldo Alckmin sempre foi um homem de esquerda. As primeiras legislações progressistas no campo cultural do país foram implementadas primeiramente em São Paulo quando ele era governador do Estado.

Para além do supracitado, o PSDB nunca escondeu a inclinação à esquerda ao defender a moral politicamente correta como nova régua moral, protagonizando o chamado ‘’Teatro das Tesouras’’: divide-se o campo político em duas facções esquerdistas tal como na Revolução Russa. Os bolcheviques seriam os petistas, ficando a equivalência menchevique aos tucanos. Nada disso foi por acaso: leiam o artigo de Olavo de Carvalho intitulado ‘’quem inventou o Brasil?’’ e saberão do que estou falando.

Pois bem, Alckmin agora é do PSB. Rivalizou por anos com o petismo e travou querelas eleitorais contra os vermelhos, ganhando a pecha imerecida de ‘’direitista’’. A sua dobradinha com Lula seria a concretização da Frente Ampla contra o fascismo bolsonarista pela democracia brasileira – assim pensam os iluminados do establishment tupiniquim. A realidade mostra um quadro totalmente diferente.

Ao falar em ‘’frente antifascista’’, Reinaldo Azevedo deixa implícito duas coisas:

I. A existência do fascismo na realidade contemporânea brasileira
II. Lula, Alckmin e as esquerdas representam a antítese desse fascismo tupiniquim

Que o sr. Reinaldo seja homem e não distorça o que ele mesmo falou. Chamar Bolsonaro de ‘’líder fascistóide’’ depois de não reconhecer a existência do fascismo ipsis litteris em nosso país é um truque besta que não vai colar. Os dois fatos postos neste artigo são conclusões óbvias do seu comentário a respeito da dobradinha Lula-Alckmin.

A associação de Bolsonaro ao fascismo vem por uma suposta postura ‘’autoritária, truculenta e golpista’’ – palavras de Reinaldo Azevedo. O presidente mais desrespeitado, vilipendiado e limitado por opositores políticos e agentes de Estado – que no final acabam por se confundir com o primeiro grupo – foi um dos poucos atores institucionais a jogar dentro das regras, pecando inclusive pelo excesso litúrgico de tal postura. Classificar as manifestações de 07 de setembro do ano passado como ápice de anseio golpista é inverter cinicamente as coisas. Pedir ao STF o mínimo respeito pela Constituição não é golpismo em lugar nenhum desse mundo.

Jair Bolsonaro é um político de direita que, bem ou mal, encarna princípios e valores postos para debaixo do tapete na Nova República. Liberdade dos mercados, defesa dos pilares civilizacionais do Ocidente, respeito pela autoridade e entendimento do Brasil como país majoritariamente cristão são partes de uma plataforma política ignorada nas últimas décadas. Colocar isso no mesmo balaio do fascismo – que defendia um modelo econômico estatal e anticapitalista, bem como uma civilização egressa do relativismo cultural do século XIX – é insanidade. Pode-se gostar ou não de Bolsonaro. Críticas a ele são válidas. Mas a associação ao fascismo é coisa de maluco.

Não contente com isso, o sr. Reinaldo coloca Lula, PT e as esquerdas na linha de frente antifascista. Pois bem, o próprio Lula o desmente com a maior naturalidade possível.

“Quando vocês verem o preço da gasolina ou uma mãe de família sem dinheiro para comprar um botijão de gás, lembrem que esse país pode e precisa ser do tamanho dos sonhos de Getúlio", disse o ex-presidente em evento no ano passado.

Se o Brasil teve efetivamente um líder fascista, esse líder foi Getúlio Vargas. O homem que subiu ao poder através de um golpe, rasgou duas Constituições e instaurou um aparato repressor como base da pior ditadura já vista em nosso país era altamente simpático ao Eixo Nazifascista da Segunda Guerra Mundial. Além, é claro, da similaridade com o fascismo em implementar um modelo econômico totalmente intervencionista.

Quando Lula se vangloria ao considerar-se herdeiro do varguismo, é precisamente disso que ele fala: estatismo. Lula e as esquerdas querem a mão forte do Estado não apenas na economia, mas em todas as áreas possíveis de nossas vidas. O PL das Fake News, uma excrescência autoritária digna das piores ditaduras possíveis, é apoiado em peso pela esquerda brasileira justamente por dar ao Estado o controle do que pode ou não ser veiculado. Tal poder é sem precedentes na história da humanidade e faz o próprio Getúlio Vargas parecer um menino de ginásio.

A frente antifascista que engloba ideias e práticas semelhantes aos verdadeiros fascistas é propugnada aos quatro cantos pela velha imprensa. Reinaldo Azevedo, outrora crítico ao petismo, virou um servil porta-voz das esquerdas, e fala os maiores absurdos nessa difícil tarefa. Nas suas análises, Lula é candidato de centro e a esquerda brasileira é antifascista. Talvez em Nárnia faça sentido.

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Carlos Júnior

Jornalista

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