O voto e suas implicações

18/09/2016 às 09:58 Ler na área do assinante

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. (Rui Barbosa)

A democracia indireta ou por representação é a mais comum no mundo, porém ainda possui algumas mazelas, nalguns países, que remontam a ditadura militar ou de grupos dominantes.

O voto democrático deve ser livre e facultativo ou não obrigatório, pois é à vontade e a decisão do eleitor que deve prevalecer diante do desejo de exercer ou não o voto. Enquanto obrigatório, o voto será mera obrigação e não um direito, como é comum se confundir no Brasil.

Há muito que não tenho gasto parte de meu tempo para ouvir as propostas dos candidatos ao cargo de prefeito de nossa cidade. 

Preferencialmente, busco colher algumas opiniões, vagas, soltas, mesmo porque, considero que neste momento, toda "maquiagem" quanto a imagem daqueles que almejam cargos eletivos, sucessórios, deriva sempre da necessidade de revelar projetos de campanha que possam trazer aos ouvidos da população qualquer esperança.

Tenho pensado sinceramente sobre o voto e as implicações que temos mediante a obrigação doutrinária, regida pela Magna Carta , de exercermos o papel cidadão de escolher nomes e candidatos.

No artigo 14, a Constituição Federal afirma: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei”.

Discordo da OBRIGATORIEDADE DO VOTO, considero que melhor seria, ser este fosse FACULTATIVO.

Percebo as palavras do meu amigo Rodrigo da Rosa, esclarecedoras, quando se reporta de forma esmerada, lapidar, aos fatos e decisões advindas das más escolhas quanto aos candidatos escolhidos.

Certamente o cenário político do país, nos faculta de forma clara, a “leitura” desta realidade tão imersa em problemas que nos remetem a incertezas quanto aos nomes escolhidos, especialmente quanto ao futuro do país.

O Brasil tem problemas estruturais, advindos também de sua formação histórica como povo. 

O texto nos esclarece acerca de pontos dos quais temos uma percepção nítida, acerca do que gera o desconforto e a insatisfação nossa, diante da escolha de candidatos outros, que não representam de maneira digna, mediante suas condutas, o projeto idealizado por toda sociedade.

Considero um tarefa hercúlea, grandiosa, encontrar dentro de um colegiado escolhido, representantes com intenções limpas e verdadeiras.

Um outro problema oriundo das más escolhas, reside na impunidade e na lentidão das leis diante dos crimes praticados pelos agentes públicos no exercício de seus mandatos. 

Frise-se ainda a inconsciência de alguns eleitores, que de forma irresponsável, destinam o futuro do país, a nomes conhecidos muito mais por suas vidas ímprobas, imersas em acordos que resultam em propinas, crimes financeiros ( peculato), caixa 2, lavagem de dinheiro, enfim, somadas as infrações cometidas, ato contínuo, seria prudente, a suspensão imediata da imunidade parlamentar, mas, o que se sucede, é a manutenção mediante amparo legal ao direito de resposta destes personagens, que de maneira sorrateira, promovem defesas infundadas, diante de denúncias abertamente objetivas, contrariando assim, os anseios de todos nós, que queremos ver fazer valer o que preceitua a Carta Magna quanto à conduta improba de nossos agentes e representantes, diante da quebra do decoro e da ética.

Certamente, o Brasil é um país cheio de contrastes. Ao mesmo tempo em que temos o maior litoral do Atlântico Sul, temos ainda analfabetismo, cólera e dengue para vencer. Existe muita miséria por aqui, como se não bastasse, herdamos uma cultura de sujeição e dominação que nos possibilitou uma má formação ética de nosso povo. 

É fato que o brasileiro não age dentro dos ditames de uma ética e moral que deveriam nortear a conduta exemplar de políticos, profissionais liberais, empresários, enfim, toda sociedade, que se encontra entregue à prática de uma realidade que sustenta e preserva a violência, a propina, o suborno, a prostituição, a homofobia, o racismo, como práticas toleradas e aceitas livremente.

No que pese a cultura que herdamos dos portugueses, além dos inúmeros contrastes que culminaram com a devastação da cultura indígena e o trabalho escravo, somos um país, marcado por uma herança nada recomendável.

Confesso, que o exemplo dos japoneses, é algo surpreendente, fascinante, que deveria ser seguido por nós, brasileiros, que nalgumas vezes, preferimos acobertar, iludir, trapacear, jogar sujo, quando, o melhor de tudo, seria ser honesto e não ter vergonha de ser assim.

A discussão acerca da honestidade é tema para ser refletido pelos altos escalões em Brasília, no Congresso, no Senado, tão contaminada por posturas isentas de moralidade e respeito ao próximo.

Que país é este que junta milhões numa marcha gay, outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas na marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?

Mudar o país, não depende de atos normativos, medidas provisórias, mas de caráter e carisma. Será possível encontrar gente que nos inspira a pensar na ética, na honestidade como valores a serem praticados? Quem se habilita? Quem?

Nunca é demais lembrar o que afirmou Martin Luher King; ” O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.

Pio Barbosa Neto

Professor, escritor, poeta, roteirista

Pio Barbosa Neto

Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará

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