Assim que chegou ao poder, no início de 2003, José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, ganhou um belíssimo filhote de Labrador, nomeado ‘Nego’. Dizem as boas línguas que foi um presente de José Sarney, recém-eleito presidente do Senado Federal.
Defenestrado dos palácios durante o Escândalo do Mensalão, em 2005, Dirceu, um ser humano de primeira categoria (?!), simplesmente abandonou o cachorro na residência oficial da Casa Civil, localizada na charmosa Península dos Ministros, em Brasília.
Naquele mesmo ano, Dilma Rousseff deixou o Ministério de Minas e Energia e assumiu a Casa Civil durante o governo do passista de quadrilha Luiz Inácio da Silva, vulgo ‘Lula’. Por tabela, acabou herdando o ‘Nego’.
Era um tempo quando a expressiva maioria do povo brasileiro tinha Dilma Rousseff na cota das ‘gerentonas’, ‘supercompetenta’, ‘linha-duríssima’, mas ‘inacessível’. O que faz um marqueteiro oportunista? Para humanizar a fulana nas eleições de 2010, João Santana passou um ano filmando longos passeios matinais da então ministra-chefe com seu ‘adorado’ labrador às margens do lago Paranoá.
Tendo em vista o ‘poste’, ‘Nego’ foi a grande estrela da campanha!
Nesta terça-feira, dia 06 de setembro de 2016, ao deixar definitivamente o Palácio da Alvorada, a ex-presidente Dilma Rousseff abarrotou quatro caminhões-baú com sua mudança e foi seguida por doze veículos executivos de luxo e duas vans, embarcando num jato de médio porte da Força Aérea Brasileira para o destino de seus dias entre o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro.
Quem foi abandonado, de novo?
Aos 14 anos, idade considerada avançada, ‘Nego’ ficou pra trás. Alguns setores da imprensa dizem que ‘a saúde frágil do animal impediria uma viagem longa’; outros dão conta de que ‘o labrador foi deixado aos cuidados de um ex-assessor da ex-presidente’; e alguns, como ‘O Antagonista’, informam que Dilma Rousseff autorizou que ‘Nego’ seja sacrificado.
Seja como for, não consigo imaginar como um ser humano consegue abandonar seu animal de estimação, principalmente no momento mais dramático de sua existência (do cachorro, não dela!). É desumano demais. É demasiado frio.
Para quem regozija-se por ser grande fã de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, provavelmente Dilma perdeu as vigorosas páginas sobre as Baleias.
É emblemático. Pobre ‘Nego’. ‘
Helder Caldeira