Entre a intenção anunciada e o ato concretizado: O mal costuma vir embrulhado num celofane de benignidade
27/02/2022 às 15:15 Ler na área do assinanteQuem resiste, quando o seu "lado bonzinho" é cutucado?
Imaginem a hipótese: o poder público lança um projeto e diz que vai priorizar "jovens em situação de vulnerabilidade econômica e social e egressos do sistema socioeducativo".
Qual é o nosso primeiro impulso?
No cérebro dos patetas há um "aplicativo" que dispara uma advertência:
"se você não apoia, então você é contra a inclusão dessas pessoas!".
Bobagem! Pode ser que se esteja diante de uma armadilha cognitiva.
O mal costuma vir embrulhado num celofane de benignidade.
"Quem espera que o Diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa", diz Schopenhauer.
O governador socialista do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (que nunca se diz socialista), acaba de lançar o "Programa Avançar na Comunicação", que implica a criação da Escola Gaúcha de Comunicação e modernização da infraestrutura de comunicação pública.
É o Estado metendo o bedelho numa coisa da qual deveria ficar bem longe!
Sabidamente, os Estados totalitários (inclusive os regimes socialistas) manipulam a informação para manter o povo no cabresto.
Ah, mas as motivações de Eduardo são nobres: está criando a tal escola "a fim de dar mais transparência aos atos do governo e reafirmar a garantia do direito constitucional à informação." E será esse o meio?
Ora, um governo fomenta essa "transparência" respeitando a liberdade de imprensa, abstendo-se de relações promíscuas com a mídia, franqueando acesso às suas informações e respondendo dignamente à oposição.
Mas Eduardo Leite tem outras preocupações, dizendo que a escola vai funcionar "priorizando jovens em situação de vulnerabilidade econômica e social e [vejam bem isto!] egressos do sistema socioeducativo".
Em termos retóricos, é uma beleza; em termos concretos, um desastre.
Esse tipo de iniciativa apenas cria mais um mecanismo para um modelo de Estado que, além de arrogar-se a autoridade de monitorar a consciência dos viventes, nivela por baixo, quer dizer, socializa a pobreza.
Oh, mas a escola, segundo a página do governo, "oferecerá conteúdo para capacitação, qualificação e perfeiçoamento profissional de servidores."
Quem foi servidor estadual ao tempo dos governos petistas (que não tinham a elegância de Eduardo, mas eram, como ele, socialistas), sabe como os "cursos de capacitação de servidores" são usados para enfiar ideologia na cabeça dos desavisados, isto é, da maioria.
Se mantiver a palavra, Eduardo Leite não tentará reeleger-se. Então, para quem ele quer deixar de presente esse mecanismo de manipulação?
Ainda, haverá entre os deputados gaúchos alguém que tenha, ao mesmo tempo, discernimento e coragem para, na tribuna, denunciar os fundamentos ideológicos dessa pretendida "escola de comunicação"?
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Renato Sant'Ana
Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br