Lembro da admirável luta do povo ucraniano pela democracia em 2014, tão bem retratada no filme ‘Winter of Fire’. Para quem, há décadas, como eu e uns poucos mais, denuncia a deterioração do Ocidente e seus valores, não há qualquer surpresa na atual atitude da Rússia em relação àquela nação independente e autônoma.
A Ucrânia está sendo vítima do desprezo do Ocidente por si mesmo, desprezo programado em laboratórios e com agendas em curso.
A Ucrânia acreditou que encontraria força no lado de cá, mas a debilidade do lado de cá está muito bem descrito pelo amigo Rodrigo Constantino em recente artigo do qual reproduzo este pequeno trecho:
"No momento após a invasão russa, as prefeituras de Berlim e Paris iluminaram monumentos com as cores da Ucrânia. Talvez não exista símbolo melhor para ilustrar a fraqueza ocidental. É como achar que cantar ‘Imagine’ e soltar bolas de sabão em favelas levará a paz ao local. Essa gente vive no eterno jardim de infância, com uma visão estética e romântica da vida, desconectada da realidade como ela é. Deveriam assistir ‘O Deus da Carnificina’, de Polanski, para entender melhor que o mundo não é o Central Park de Nova York.
Podemos até imaginar a nota que a OTAN gostaria de soltar numa hora dessas: ‘Nosses soldades estão prontes e com moral elevade para ajudar a Ucrânia’. Enquanto isso, Putin sorri aquele sorriso de Mona Lisa, de quem sabe mais. Será que as feministas ucranianas já sentem falta da ‘masculinidade tóxica’ ou ainda esperam que homens como o imitador de focas e Justin Trudeau ofereçam proteção contra os russos? A emasculação no Ocidente vem cobrar seu preço.
Isso sem falar das estranhas prioridades. Podemos vislumbrar a reação das lideranças ocidentais diante de Putin: ‘Mas que absurdo! O Exército russo tem pouca minoria, nenhum trans, negro ou mulher, sua artilharia não é ecologicamente correta e, pasmem, há soldados não vacinados e sem máscaras nos pelotões. Onde já se viu isso?!’ A ironia aqui serve como válvula de escape para o desespero de quem enxerga essa tendência faz tempo, mas se sente impotente diante dela."
É um resumo do Ocidente para o qual um ditador como Putin está se lixando, mantendo seu plano expansionista e imperialista, em parceria com Xi Jinping, que faz o mesmo e é cortejado como generoso Midas por suas cobiçosas e cândidas vítimas ocidentais.
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Percival Puggina
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.