Ai de vós, supremos hipócritas, que usais de vosso manto negro não para fazer justiça, mas para urdir iniquidades.
Que traís a cada dia a missão para a qual fostes designados – ainda que não por mérito, mas por conluio.
Que vos julgais “deuses” da virtude e da infalibilidade, quando não passais de demônios amorais e pervertidos em vossas compassadas e desfaçadas perfídias.
Ai de vós, enfermos ególatras, que vos substituís aos vossos cargos como se fosseis maiores do que eles, convertendo-vos, por usurpação e fraude, na própria instituição que deveríeis apenas representar – mas que acreditais, em vossa indomável presunção, tinhosamente encarnar.
Ai de vós, que confundis a bajulação dos oportunistas que vos cerca, em vossa alheada “bolha”, com a admiração e o respeito da sociedade, em campo aberto. Pois vós não sois amados, muito menos “venerados” por ninguém; apenas temidos e enojados, por vossa tirania e incomplacência.
Sim, pelo arbítrio de legislar, censurar, denunciar, invadir, investigar, acusar, perseguir, caçar, intimidar, forjando e manipulando poderes que não vos pertencem, numa exibição nefasta de degenerado despotismo e ignominioso totalitarismo.
Em contrapartida e ao mesmo tempo, na contramão de vossa excelsa missão, protegeis e absolveis, corriqueira e delituosamente, organizações criminosas e grandes ladrões, em “hermenêuticas” formalistas esculpidas no casuísmo e na sem-vergonhice, passando às novas gerações a deplorável mensagem de que, em terras macunaímicas, o crime é tolerado e, “em última instância” (de vez que afiançado), compensa.
Ai, ai de vós, “justiceiros do mal”, “príncipes das trevas”, “imperadores do rancor”. Pois não sabeis nem o dia, nem a hora em que a vossa ilusória e efêmera “glória” será reduzida a pó, no interior de vossos túmulos (sepulcros caiados de absoluta nulidade) – restando tão somente insepulta a memória de vossa torpeza e de vossa podridão.
Ai de vós, “políticos frustrados”, que buscais celebridade – que jamais conquistaríeis pelo voto – em lives e entrevistas intencionadas e artificiosas, traindo, na essência, os princípios éticos de vossa magnânima função – cuja linguagem deveria estar restrita, unicamente, à liturgia dos autos e às insígnias do figurino da discrição e da sensatez.
Vós, que em vosso indecoroso ativismo judicial, transformastes o que deveria ser a principal Corte de Justiça do país – de defesa da Constituição, da ordem democrática e do Estado de Direito – num mísero “partido” sem voto, sem representação popular, destituído de qualquer autenticidade e legitimidade, corretor exclusivo de vossos devaneios corporativos – e dos interesses cabulosos de vossos “sócios” clandestinos.
Ai de vós, que raptais, sem compleição, o controle das urnas e a transparência sagrada do sufrágio universal – pedra angular de toda democracia –, ajuizando-vos, em vosso pedantismo e soberba, os únicos e insuspeitos “tutores” da segurança do escrutínio e da autenticidade do voto, como se as eleições vos pertencessem, e não ao povo brasileiro – único legítimo soberano num verdadeiro regime democrático.
Sim, vós mesmos, monarcas togados, que ontem dizíeis, arrogantes e impávidos, que as urnas eletrônicas eram invioláveis – ameaçando de prisão os seus questionadores (e até caçando mandatos de políticos que disso duvidassem) – e hoje, cinicamente, reparam, sem qualquer pudor ou probidade, os seus pretéritos e falsos argumentos, tão somente porque as circunstâncias mudaram e, por conta disso, as vossas sórdidas e sombrias “táticas” – desdenhando (como sempre fizeram) da inteligência mediana do povo em decifrar a vossa incorrigível intrujice.
O mesmo povo que paga, com o próprio suor (e parte substancial da mais-valia), os vossos polpudos e desmedidos honorários; as vossas infames e vergonhosas mordomias, regadas a vinhos e lagostas, em meio à fome e à miséria de uma massa de brasileiros excluídos das migalhas de vossos exorbitantes e iníquos banquetes.
Ai de vós, enfim, que posais de “iluminados” e “donos da verdade”, eternamente incapazes de perceber que a comédia e o pedantismo de vossa rebuscada retórica simplesmente escondem a mediocridade e o vazio de vossas almas.
Vós já estais julgados – e condenados – pelo povo brasileiro – e pela história. E só permaneceis onde, ainda, injustamente vos encontrais porque viveis num país, desgraçadamente, sem Homens (com H maiúsculo) e sem instituições (com lideranças à altura).
Vós sois o estorvo da Pátria, o esgoto da Sociedade, o câncer do Brasil.
Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).
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