Onde condenados são inocentes e os inocentes são objeto de todas as suspeitas

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O modo como os grandes grupos de comunicação noticiaram a transferência da presidência do TSE para o ministro Edson Fachin só se explica pela decadência de seu jornalismo.

O antagonismo do ministro ao presidente da República e o emprego de chavões de nítida matriz ideológica já disponibilizariam vasto repertório a todo jornalismo ciente de sua missão.

Muito mais, contudo, foi servido e jogado às redes sociais como restolho desprezível.

Enquanto o ato em si criava um clima de guerra aos que, em seu delírio, os ministros imaginam ser a síntese dos eleitores de Bolsonaro, o novo presidente da Corte eleitoral lascou:

"Paz e segurança nas eleições com o máximo de eficiência e o mínimo ruído, é o que desejamos".

Sobre isso, Mara Montezuma Assaf escreveu:

“E quando foi que nas campanhas não tivemos paz e segurança? Somos um povo ordeiro, ministro, com exceção de uns bandos que tomam as avenidas para quebrar portas de vidro de bancos ou de lojas... mas essas manifestações passam por democráticas aos olhos da lei, não é? O senhor fala como se o período  das campanhas eleitorais fosse o caos no Brasil. Não, ministro, nunca foi. Mas o que o senhor deseja mesmo com  o "mínimo ruído possível", é nos amordaçar durante a campanha para que as redes sociais não bombem o nome de Bolsonaro ou  as críticas justas aos outros candidatos”.

Boiada ainda maior passou acriticamente pela mesma porteira, sob  olhos e ouvidos da massa media subalterna. Disse Fachin:

“Senhoras e senhores, em breve iniciaremos nossa gestão. E há robusto conjunto de desafios que encontraremos. Segurança cibernética, por exemplo, é um item essencial. Há riscos de ataques de diversas formas e origens. Tem sido dito e publicado, por exemplo, que a Rússia é um exemplo dessas procedências. O alerta quanto a isso é máximo e vem num crescendo. A guerra contra a segurança no cyber espaço da Justiça Eleitoral foi declarada faz algum tempo. Deixemos dito de modo a não pairar dúvida: violar a estrutura de segurança do Tribunal Superior Eleitoral abre uma porta para a ruina da democracia. Aqueles que patrocinam esse caos sabem o que estão fazendo para solapar o Estado de Direito”.

Deixo ao leitor a conclusão sobre o quanto essas palavras contradizem as arrogantes certezas do ministro Barroso.

De minha parte, como cidadão, preocupa-me ver o Tribunal enfrentando crescentes dificuldades geradas pelos seus próprios fantasmas e pela forma autoritária e politicamente alinhada como tem pretendido lidar com eles. É uma perspectiva em que os condenados são inocentes e os inocentes se tornam objeto de todas as suspeitas.

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Percival Puggina

Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

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