Liberdade! O Brasileiro quer uma morte perfumada!?

Ler na área do assinante

Fazendo analogia com um texto, escrito em 23 de junho de 1915, do médico, farmacêutico e professor, Dr. Aurélio Pires (Aurélio Egídio dos Santos Pires), certamente, o maior responsável por abrir a Faculdade de Medicina de Belo Horizonte no ano de 1911, cujo título é “Morte perfumada”, publicado no dia 1 de julho de 1915 pela extinta revista Vida de Minas, permito-me ao atrevimento.

O texto, replicado do original da publicação (abaixo) discorre sobre um assassinato trágico ocorrido naquele ano, e que envolvia três personagens da época: Olavo Bilac, Annibal Theophilo e Gilberto Amado.

O primeiro personagem dispensa apresentações. Annibal era militar, poeta e político (deputado federal) e Gilberto era advogado, escritor e também político (deputado federal), e para não passar batido, vale citar que Gilberto era primo do escritor Jorge Amado. Por desavenças que envolviam as críticas que Annibal fazia a alguns escritores, mas certamente, motivado também por questões políticas e pessoais, Gilberto assassinou Annibal, a tiros, nos corredores do Jornal do Commercio no RJ no dia 19 de junho de 1915.

Ainda no bojo do tema é justo mencionar, ao bem da história, que o assassino fora absolvido em julgamento presidido pelo juiz Manuel da Costa Ribeiro, o mesmo que absolvera, seis anos antes, Dilermando de Assis, assassino de Euclides da Cunha. Este parágrafo se deve apenas à motivação histórica judicial brasileira. Sem entrar no mérito, quaisquer semelhanças com a atualidade são apenas meras coincidências.

Voltando ao texto do Aurélio...

Algum tempo antes de sua morte, Annibal pedira ao amigo Olavo Bilac que se morresse antes dele, derramasse sobre seu corpo o seu perfume predileto, Victoria Essencia (outras versões dão conta que o perfume seria o Ideal de Hubricant, o que é irrelevante aqui). E assim fez Bilac atendendo o desejo do amigo.

A intenção de Annibal com o inusitado pedido pode estar atrelado às suas próprias origens e dons poéticos, quem sabe... Espirituais? Talvez!

O cortejo fúnebre de Annibal foi acompanhado por figuras da sociedade literária brasileira, como Alcides Maya, Oscar Lopes, Alberto de Oliveira, Raul Cardoso, Olavo Bilac, Martins Fontes, Heitor Lima, Gregório Fonseca e Raul Pederneira.

Eis o texto: 

A analogia pessoal, quem sabe romantizada por mim, admito, - mas, sem a menor pretensão poética da minha parte, pelo amor de Deus! - fica por conta, e faz referência, ao que está sendo submetido o povo brasileiro na atualidade. Dia a dia, atos insanos, como num assassinato, são desferidos contra o cidadão, e sob os auspícios de todo um sistema que julga ser sua a própria legitimidade de cometê-los. Desde aqueles que os bajulam até aqueles que os executam, os nossos algozes estão por toda a parte da sociedade e da república.

Alguns, como ratos, se espreitam sob os esgotos das instituições, outros, à luz do dia, não tem vergonha e atropelam o respeito, pudores e a consciência, sem o menor constrangimento.

Pouco a pouco, estes juramentados da discórdia e covardia, tentam com seus pretensos tiros certeiros, invadir nossa alma e macular nossos valores. Uns sucumbem, é verdade, alguns morrem, mas a maioria, a grande maioria, sofre muito, às vezes impotente, mas não entrega os pontos.

Podemos dizer que uma guerra espiritual é uma realidade, tanto que a luz no fim do túnel insiste em não se apagar.

Cabe a nós brasileiros e patriotas, aspergir o perfume dileto de nosso povo, perfume esse chamado Liberdade, sobre o corpo de cada vítima fatal do sistema em curso. Nossa dignidade, nossa honra e nossa valentia, para continuar a combater todo um processo maligno que tenta nos aniquilar enquanto cidadãos, vem com o aroma da Liberdade que nos é muita cara.

Mas uma coisa é certa: os que se foram, foram perfumados de Liberdade. Para aqueles que ficaram, preservar o perfume é prioridade. Creiam nisso!

Assine o JCO:

https://assinante.jornaldacidadeonline.com.br/apresentacao

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
  http://livrariafactus.com.br

Ler comentários e comentar