A leitura dos clássicos nas escolas: É preciso enxergar o mundo de outras maneiras

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“Essa narrativa de professores ‘forçando Machado de Assis’ nos adolescentes é a mesma da ‘doutrinação marxista’ nas escolas. É debater algo que, na realidade da maioria, nem sequer existe”.

Bom, não é bem assim. Aliás, deixemos o marxismo de lado – literalmente. Contudo, destaco que a leitura dos clássicos nas escolas é tão importante quanto aprender raciocínio lógico, história, geopolítica, português, economia doméstica. 

Desde que um determinado influenciador digital, neto daquele Sr. Felipe, construiu a narrativa para questionar a obrigatoriedade da leitura de obras clássicas proposta pelas escolas, debates acerca dessa temática entraram na agenda de discussão das pessoas.

Ocorre que o influenciador e seus seguidores afirmaram que essa obrigatoriedade cria uma aversão à leitura e implica na fuga da realidade a qual o aluno está inserido. Isto é, a história da obra destoa da vida do leitor. 

Falar em história é considerar as complexidades das temporalidades, perspectivas e conflitos que a compõem. É falar também do tempo presente, porque é daqui que partem os olhares que lançamos ao passado. Logo, literatura, sobretudo a clássica, e história estão intimamente conectadas. Clássica é a obra que tem dimensão universal, que consegue atravessar gerações, fronteiras e nacionalidades, sem perder as suas características. 

O ensino da literatura não deve ser imposto, mas compreendido. Alguns autores possuem a escrita formal, erudita, e o papel do educador é apresentar ao aluno a obra e introduzi-la em algum contexto atual, trazendo para a realidade de quem a lê. Por exemplo, em Dom Casmurro, Bentinho e Capitu têm uma relação de masculinidade tóxica, abusiva, com ciúmes. Esse cenário é a realidade do aluno? Não sei, mas é da sociedade. 

Além disso, a leitura amplia a referência que o aluno tem de si. Ao ter acesso a um texto literário, o leitor começa a enxergar o mundo de outras maneiras, desenvolvendo uma atitude crítica diante da vida e do que acontece ao seu redor.  

A lógica é mexer com o imaginário do aluno e provocá-lo. A escola não deve ser entendida como um lugar confortável. A instituição deve estimular, questionar, ensinar a pensar. É papel do professor provocar o aluno com o intuito de formar seu senso crítico e ampliar o vocabulário.

Vale ressaltar que a leitura não é imposta somente aos clássicos. Aqui vale a variedade de temas. Não há mal em ler Harry Potter ou outros livros triviais. A multidisciplinariedade aumenta a capacidade de conhecimento dos alunos e de interpretação. 

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Foto de Nathália Fernandes

Nathália Fernandes

É formada em Jornalismo e Letras.

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