Duas mortes, dois espancamentos, um santo e um impuro

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“A esperteza quando é muita come o dono”. (Tancredo Neves).

Em 286 depois de Cristo, o Império Romano tinha dois governos: no Oriente era governado por Diocleciano; no Ocidente por Maximiano. Conta a história que nessa época Sebastião, que ainda não era Santo, servia ao Exército Romano e era Capitão da 1ª guarda pretoriana. Cargo ilustre, que tornava seu ocupante reconhecido e amigo de pessoas influentes que cercavam o Imperador Maximiano.

Discretamente, Sebastião havia se tornado cristão e se recusava a participar dos martírios e das manifestações de idolatria dos romanos.

Em 2021, Alckmin, ex-governador de São Paulo, adentrou em um restaurante, mais precisamente em 19 de dezembro. Entrou sorridente, como alguém que entra na caverna dos 40 ladrões, olhando para todos os lados e acenando.

Ia paramentado de “santo” e pregava aos quatro cantos que tudo o que havia dito sobre a caverna e os 40 ladrões, nunca havia dito.

Cumprimentou a todos e sentou-se. Era um jantar-banquete promovido pelo grupo “Prerrogativas”, composto de advogados antilavajatistas. Sim, os advogados que haviam livrado os 40 ladrões da cadeia, agora davam as cartas, celebravam o acontecimento e convidavam o impoluto homem que era candidato a governador para integrar o bando.

Candidato a governador? Não!

Candidato a Vice-Presidente em uma chapa Lula-Alckmin. Sim! O candidato a governador é Fernando Haddad, do PT, que seria concorrente de Alckmin.

Os olhinhos do picolé-de-chuchu brilharam de ganância!

Em 286 depois de Cristo, o Imperador Maximiano não sabia que Sebastião era cristão, e que apesar de cumprir seus deveres romanos, servia a dois exércitos: o de Roma e o de Cristo. E Sebastião, às escondidas, visitava os cristãos presos, ajudava os que estavam doentes e os consolava.

Em 2021, Alckmin estava se afastando das hostes do PSDB, comandada pelo “calcinha-apertada”, o mesmo que Alckmin ajudara a colocar no Palácio dos Bandeirantes e que depois de eleito chutou o traseiro de Alckmin. Ele estava decidido a dar o troco e abraçava, agora, seu arquiinimigo Lula, pois o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”.

Em 286 depois de Cristo o Imperador Maximiano descobriu que Sebastião, o Capitão da 1ª Guarda Pretoriana Romana não era aquilo que ele pensava que ele era: um romano puro, mas sim, um traidor. E o condenou à morte. Uma morte sangrenta, exemplar. Os carrascos receberam ordens para matarem-no a flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste no estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferido, deixaram que ele sangrasse até morrer. Foi dado como morto e atirado em um rio, porém, Sebastião não havia falecido. Irene, uma cristã devota, e um grupo de amigos, foram ao local e, surpresos, viram que Sebastião continuava vivo. Levaram-no dali e o esconderam na casa de Irene que cuidou de seus ferimentos.

Foi o primeiro martírio e a primeira morte de Sebastião.

Em 2021, Alckmin, em um grande jantar-banquete, abraçou-se a seu grande arquiinimigo, Lula, e pensou ter acertado na mega sena. Logo após o jantar entre abraços e despedidas, Alckmin começou a receber pancadas pelas costas desferidas por seus “supostos novos amigos”.

Os ex-presidentes do partido Rui Falcão e José Genoíno armaram-se de paus e pedras e bateram no ex-governador como se fosse um cão sarnento, dizendo:

- “Lula não precisa do ex-tucano para vencer eleição”.

Os petistas do “baixo-clero” também se armaram e escarneceram de Alckmin:

“Ele fez inúmeras investidas contra a educação e os serviços públicos; colaborou com o governo golpista de Temer; fez a repressão aos movimentos sociais; armou escândalos para favorecer determinados grupos econômicos no governo paulista”.

No final de dezembro de 2021, fizeram circular um abaixo-assinado contra Alckmin como vice de Lula e que já conta com mais de 1,2 mil assinaturas, a maioria de militantes. Nele, há um manifesto que ataca o ex-tucano por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a prisão de Lula, em 2018.

Foi o primeiro espancamento público e a primeira humilhação sofrida pelo “santo” Alckmin.

No mesmo ano de 286, Sebastião, curado de seus ferimentos, teve a infeliz ideia de se apresentar ao imperador Maximiano, insistindo para que ele parasse de perseguir e matar os cristãos. Desta vez o imperador mandou que o açoitassem até morrer e depois fosse jogado numa fossa, para que nenhum cristão o encontrasse.

Foi o segundo martírio e a segunda morte de Sebastião.

Em janeiro de 2022, Geraldo Alckmin, depois de cair na lábia criminosa do petismo saiu convencido de que haveria uma união política com Lula. Mas as hostes petistas, através de Rui Falcão, voltaram a carga e começaram a surra-lo novamente. Disse ele:

- “Lula não precisa de uma muleta eleitoral”. Luiz Marinho, disse ao Estadão que Alckmin precisa se mostrar “engolível” e passar a “falar diferente” se quiser ser vice de Lula.

Congregados históricos, como Guilherme Boulos e Juliano Medeiros do PSOL, também são contra aliança.

Foi o segundo espancamento público e a segunda humilhação sofrida pelo “santo” Geraldo Alckmin.

Sebastião, o soldado romano, depois de sofrer dois martírios e ser executado duas vezes, tornou-se Santo da Igreja Católica e passou a chamar-se São Sebastião. Por seu exemplo de virtude, de sua resistência e sua vida guerreira também foi assimilado pelas religiosidades africanas e indígenas: tornou-se as flechas do orixá caçador Oxóssi, conhecedor da mata e da cura que vem das plantas. Caçador e curandeiro, Oxóssi é também considerado o chefe dos caboclos. No catolicismo, é reverenciado como protetor contra as pragas e pestes. Isso fez com que fosse acolhido também como padroeiro dos gays.

Geraldo Alckmin entrou com cara de santo na caverna dos 40 ladrões e os abraçou e beijou, selando um pacto de amizade para governar o país. Foi espancado e humilhado duas vezes em virtude de sua ambição.

O santinho Alckmin, que era o primeiro nas pesquisas para govenador de São Paulo, foi desconstruído pelos petistas que fizeram caça-ao-pombo divertindo-se e humilhando Alckmin. Os soldados de Lula, espancaram e humilharam Alckmin por ordem de quem? Soldado só atira se receber ordem superior!

Nesta quarta-feira (19) em uma entrevista coletiva, disse o chefão Lula, depois da humilhação e o espancamento público de Alckmin:

- "Não terei nenhum problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar esse país. Só não posso dizer ainda porque ‘falta definir para qual partido ele vai, ver se o partido vai fazer aliança com o PT. Temos divergências? Temos. Por isso pertencemos a partidos diferentes. Temos visões de mundo diferentes? Temos. Mas isso não impede a possibilidade de que as divergências sejam colocadas em um canto e as convergências de outras para poder governar”.

O soldado Sebastião virou Santo porque era verdadeiro cristão.

O ex-governador com “cara piedosa de santo” tornou-se um capacho por dois motivos:

a) se desistir da chapa, desmoralizado, avacalhado, achincalhado, sem nenhuma credibilidade, perde a eleição para governador;
b) se realmente fizer parte da chapa petista Lula-Alckmin, será uma mera figura decorativa, sem poder algum, pois os petistas já demonstraram que não o aceitam e muito menos aceitam qualquer pedido ou sugestão que parta dele.

Pobre Alckmin! Foi dar uma de esperto entre ladrões tarimbados e não percebeu que tudo foi uma trama bem urdida para retirá-lo da disputa de governador e deixar Haddad, o candidato petista sozinho na disputa.

Moral da história: a ambição desmedida nos torna cegos.

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Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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