A Vontade política e a falta de compreensão do processo político
22/08/2016 às 07:04 Ler na área do assinanteA cada evento setorial que participo ouço sempre os mesmos chavões que pouco ajudam a progredir. São sempre reclamações e lamentações. Para o público interno. Conversa do ‘nóis com nóis’.
Uma colocação recorrente é que falta vontade política para dar apoio às ações ou investimentos que o setor reclama.
Esquecem que estamos vivendo uma crise política por excesso de vontades políticas.
O PT sempre defendeu políticas governamentais de apoio aos mais pobres e criticava os governos de então por falta de vontade política. Todos os discursos políticos eram favoráveis às políticas sociais, mas não se efetivariam, segundo aquele, por falta de vontade política.
Ao assumir o Governo não teve condições imediatas de impor a sua vontade política, mas aos poucos os foi impondo, com apoio da base aliada no Congresso. Que hoje se sabe como foi conseguida.
Dilma Rousseff, empossada Presidente, no seu primeiro mandato, tentou impor a sua vontade política, dentro de um processo autoritário. Conseguiu apenas parcialmente e o resultado foi catastrófico, seja do ponto de vista econômico, como político.
Apesar desse fracasso, persiste a ideia da "falta de vontade política". Que, na realidade, é a falta de compreensão do processo político.
O Brasil é um país democrático, com os Poderes Executivo e Legislativo eleitos diretamente pelo povo, com divisão de atribuições e de poder.
Não é uma ditadura em que o ditador impõe a sua vontade política, dentro de uma perspectiva pessoal ou de um pequeno grupo. Tampouco é um regime parlamentarista pleno onde o parlamento determina uma vontade supostamente coletiva e controla o Executivo.
O exercício do poder é compartilhado e a "vontade política" tem que ser acordada. Ou ser dominante, hegemônico.
Significa que um partido para impor a sua vontade política, precisa eleger o Executivo e a maioria do Legislativo.
Quem nunca foi de Governo, quem nunca foi político, não entende o jogo de forças e acha que o Poder deve ser racional e linear. E quer que siga a sua visão de racionalidade. E não entende porque o "óbvio não acontece".
Vontade política é necessária, mas não pode ser unilateral, não pode ser ditatorial. E para que se torne efetiva precisa negociar com as forças propulsoras e com as forças repressoras.
Jorge Hori
Jorge Hori
Articulista