Capitólio... E agora? Quem estava certo?

11/01/2022 às 15:35 Ler na área do assinante

Em um texto com o título A tragédia de Capitólio: Imprudência e irresponsabilidade, falo sobre o ocorrido este final de semana e afirmo que houve imprudência dos barqueiros diretamente envolvidos, por estarem próximos demais da área onde a rocha caiu.

Nos comentários dos leitores do Jornal Cidade Online, muita gente julgou o texto "desumano", e essas mesmas pessoas atribuíram o ocorrido à "fatalidade".

A pergunta que faço: Existe "fatalidade" em tragédia anunciada, ou a palavra "fatalidade" é somente um eufemismo emocional para passar pano sobre negligências?

Coisas como gerenciamento de riscos e consciência situacional devem estar presentes em qualquer atividade. Os outros barqueiros se afastaram da área.

Naquele cenário havia todos os elementos para a tragédia:

Cabeça d'água + rochas sofrendo processo de erosão + proximidade dos barcos. Bastaria cortar um elo dessa corrente e o desastre seria evitado.

Vejamos... Dois deles não poderiam ser controlados por ninguém, então restava o terceiro, que era se afastar da área como os outros barqueiros fizeram e evitaram que a tragédia fosse maior. Em qualquer ambiente dinâmico, onde há elementos que não estão 100% sob controle do homem, deve haver uma precaução redobrada.

Não é possível alegar completa ignorância, pois existem vários vídeos e artigos falando sobre cabeças d´água, e os profissionais que fazem passeios turísticos em locais sujeitos à esses fenômenos devem ser conhecedores dos riscos.

Quando se observa um curso d´água ganhando repentinamente um volume 20 vezes maior do que o normal, já se percebe que alguma coisa está errada. Basta um mínimo de raciocínio para entender que todos os riscos foram potencializados em níveis inimagináveis. E o que manda a prudência? Se afastar! No caso de Capitólio esse aumento repentino foi narrado em vídeo nos minutos que antecederam a tragédia.

Aqui no Rio de Janeiro todo verão morre gente por causa de imprudência. Mar de ressaca ou com correntes fortes, as pessoas veem a bandeira vermelha na praia, ignoram os avisos dos salva-vidas (que não podem impedir ninguém de entrar na água, só alertar) e mesmo assim encaram SEM CONHECIMENTO DE MAR.

Aí quando morrem, dizem que foi "fatalidade".

No Himalaya os shepherds avisam aos alpinistas para que retornem aos pontos de apoio. Os caras resolvem encarar assim mesmo e sobem sob nevasca forte. Quando morrem... "fatalidade".

Na praia de Boa Viagem, em Recife, há avisos por todo lado sobre os perigos dos tubarões. Salva-vidas avisam as pessoas e tentam demovê-las da ideia de entrarem na água além dos arrecifes. Elas insistem e algumas acabam morrendo. "fatalidade" ou IMPRUDÊNCIA?

Nada acontece sem aviso! A diferença é que uns respeitam os sinais e outros não.

O que as pessoas precisam ter é a consciência de que fatalidades são as ocorrências que acontecem sem qualquer aviso e sem que haja uma possibilidade de evitar o pior, o que não foi o caso de Capitólio. Quando se tem todos os sinais de alerta e eles não são respeitados, o nome disso é NEGLIGÊNCIA.

RESPONSABILIDADES

Em relação ao que eu havia afirmado sobre a responsabilidade da Prefeitura de Capitólio em não chamar um geólogo para avaliar a estabilidade da formação rochosa, também não estava errado.

Segundo o que foi noticiado pelo Correio Braziliense:

O Monitoramento geológico evitaria tragédia em Capitólio, apontam especialistas.
Geólogos comentam sobre fatalidade ocorrida no interior de Minas Gerais; ao menos sete pessoas morreram e mais de 20 continuam desaparecidas

"O monitoramento constante das rochas poderia ter evitado as mortes de turistas ocorridas em Capitólio (MG), na manhã deste sábado (8/11). Além disso, o período de chuvas deveria ter sido motivo de alerta para as autoridades impedirem a movimentação de pessoas no local. Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que, apesar de o Brasil ter bom conhecimento sobre questões geológicas no país, ainda falta aplicar os conceitos para evitar tragédias."

"De acordo com o especialista, a pior característica é 'deixar acontecer primeiro para agir depois'. 'A gente é um país que enfrenta a desgraça e depois vai atrás do prejuízo, como aconteceu na barragem de Brumadinho (MG). Os grandes cânions precisam ser monitorados por uma equipe específica', frisou. França também criticou a proximidade dos barcos na encosta, 'era um perigo constante'. A interação humana também é pouco provável. 'O ser humano para fazer isso precisa explodir muita coisa em atividades de mineração para acontecer o que aconteceu. Mas, é tudo muito controlado, e como ali é um cânion não tem exploração mineral', disse."

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