E chegamos ao final do ano.
Esfarrapados, mas chegamos.
Foi o ano mais incrível que o Brasil já viveu.
Ano em que perdemos a inocência!
Ano em que a natureza cruel esfregou em nossa cara a realidade de que nada somos, apenas fazemos parte dela, que podemos ser varridos a qualquer momento, seja por fenômenos naturais, seja por pandemias desconhecidas, seja por experimentos científicos.
A natureza é desumana, assim como a vida.
A natureza é como é e não como idealizam as “Gretas Thunmbergs” do mundo digital.
É desigual no reino vegetal, no reino mineral e no reino animal.
Árvores maiores consomem mais oxigênio, trepadeiras sufocam árvores às quais se agarram.
O Everest não se importa com os pequenos morrinhos ou com pedrinhas.
Um animal come o outro. Mas alguns comem todos e não são comidos por ninguém.
Um veado bebe água, come gramíneas, e serve de antepasto aos carnívoros. Todos comem todos. Todos se envolvem com todos numa luta gigantesca, sem regras e sem limites.
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” - (Lavoisier).
Fugindo de tudo isso o homem criou um mundo artificial dividido em países, com línguas diferentes, costumes diversos, cidades, vilas, crenças, religiões.
Nelas vivem os homens e suas sociedades distintas. Nesse mundo particular do “homo sapiens” a vida deveria ser mais amena, mais suave, mais bela.
Mas, nesses lugares, a luta entre os homens é intensa. Luta por poder. Poder ilimitado.
E os homens pelejaram intensamente nesse ano uns contra os outros em busca de dinheiro, sexo, controle, poder, ideias....
Lutaram animalescamente!
E no meio dessa luta insana apareceu em vírus mortal abatendo a todos. Todos contra o vírus, todos contra todos...
Nessa luta insana sofremos carência de tudo, mas comemos um pouco de pão. Tivemos sorte e sobrevivemos.
Sim, sobrevivemos! Vamos lamber nossas feridas, consertar os rombos feitos no casco e nas velas do navio em que navegamos e que foi jogado contra os rochedos íngremes.
Reconhecer que somos frágeis, mas não fugir da luta. Reconhecer que de um jeito ou de outro vencemos a morte numa batalha duríssima.
Então comemore e agradeça ao Ser Supremo, pois se este não foi um ótimo ano, foi uma ótima luta!
Feliz Ano Novo!
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Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)