Eu jamais assistiria à Globonews ou leria a Folha de S.Paulo se tal tarefa hercúlea não fizesse parte do meu trabalho. Já tenho coisas demais para torrar a minha paciência, e escutar um Guga Chacra ou um Marcelo Lins não é recomendável para quem tem pavio curto – e também para quem busca ser inteligente. Mas são os ossos do ofício, e apesar de tudo, o jornalismo é a minha vocação, a minha grande paixão.
Pois bem, estava acompanhando a cobertura – por cobertura entendam torcida ideológica da esquerda – das eleições chilenas feita pela Globonews. Acabei por presenciar algo que fala por si: acima da legenda que apresentava a pauta, havia algo do tipo ‘’esquerda x extrema direita’’. Ou seja, para o jornalismo global a disputa chilena era entre uma corrente política aceitável e outra em uma versão extremista, com consequências muito óbvias de compreensão para o telespectador mais desavisado.
A matéria do G1 traz a informação de que Gabriel Boric – o candidato esquerdista – concorre em uma coalizão com o Partido Comunista Chileno. Se isso não é motivo suficiente para classificá-lo como um político de extrema esquerda, eu sou o sr. Boric em pessoa. A dúvida que fica é o motivo pelo qual tal adjetivo deixou de ser aplicado a ele: mau-caratismo ou burrice genuína. No caso da nossa belíssima grande mídia, o mais provável é um misto de doses cavalares das duas coisas.
Há tempos o jornalismo virou máquina de militância esquerdista. A probabilidade de alguma notícia, pauta ou fato que desagrade aos sacrossantos escopos revolucionários ser veiculado na grande mídia é praticamente zero, e quando acontece, sobra para o jornalista que cometeu a heresia de fazê-lo – como foi o caso de Luís Ernesto Lacombe ao tratar do conservadorismo em seu programa na Band e por tal atitude foi demitido. Existia algum traço de imparcialidade até a eleição americana de 2016, quando a antipatia contra Donald Trump desnudou as paixões ideológicas do petit comité dos Gugas Chacras.
Por isso mesmo não é surpresa alguma a classificação de José Antonio Kast como candidato de ‘’extrema direita’’. Ao rotulá-lo como extremista, a imprensa pratica a boa e velha espiral do silêncio: com tal emblema negativo, as pessoas sentem vergonha em verbalizar alguma simpatia por Kast, logo elas não irão publicizar tal opinião, tornando-a marginal e estabelecendo a visão negativa como consenso inquestionável. A esquerda utiliza a espiral do silêncio em todos os temas de seu interesse com o objetivo único de impor a sua agenda como regra moral a ser seguida por todos. É o poder onipresente e invisível de um imperativo categórico que falava Antonio Gramsci.
O sr. Marcelo Lins, que também trabalha na Globonews, questionou o porquê do setor privado chileno não ter um posicionamento contrário a Kast pelo fato do candidato ter minimizado a ditadura de Augusto Pinochet. Pois bem, Boric é um aliado dos comunistas chilenos, que são partidários do totalitarismo mais cruel, desumano e assassino que o mundo teve o desprazer de conhecer. Mas nesse caso a democracia é negociável, não é mesmo? O esquerdismo mal disfarçado desses tipinhos é comovente.
A característica mais patética dos nossos queridos jornalistas é a certeza de que tudo o que não for tratado por eles próprios não existe ou carece de relevância, podendo ser colocado na lata de lixo do debate público. É o que eles adoram chamar de teoria da conspiração. Se alguém, por exemplo, fala em globalismo, nenhum jornalista procura estudar sobre o tema. O olhar torto de quem nunca ouviu falar do assunto basta para emitir a sentença da inexistência da coisa.
Voltando ao país dos insanos, uma mentira reverberada como verdade pela grande mídia é a do direitismo de Sérgio Moro. Alguns vão além na maluquice e classificam-no como ‘extrema direita’’, casos de Rodrigo Maia – o inesquecível presidente da Câmara que muito faz ao Brasil longe do posto – e de Reinaldo Azevedo. O último merece maior destaque por ser integrante e retratar bem a classe supracitada neste humilde artigo.
Reinaldo Azevedo alimenta a narrativa tosca do lavajatismo estar identificado com uma extrema direita que existe apenas em sua cabeça. Esquece ele das mensagens oriundas da Vaza Jato que demonstraram o desprezo inequívoco dos procuradores da força-tarefa por Bolsonaro e seus eleitores. Esquece ele que o Ministério Público é, como a maior parte do Judiciário deste país, um conglomerado de militantes progressistas. Também esquece das convicções políticas de Sérgio Moro – que nada têm de conservadoras. Tentar colocar Moro, seus compadres no MP e seus eleitores na direita é o cúmulo do ridículo, para não dizer outra coisa.
Não se enganem: tem método nisso. Moro seria o máximo de direitismo permitido na disputa eleitoral, com tudo o mais um pouquinho à direita sendo terminantemente proibido. Tratar como direitista um sujeito que elogiou Roe vs Wade – a decisão da Suprema Corte americana que legalizou o aborto nos Estados Unidos – e defende inúmeras pautas progressistas é desonestidade pura. E a imprensa brasileira não tem feito outra coisa a não ser precisamente isso.
Este é o dito jornalismo profissional brasileiro: torcida ideológica pela esquerda, desinformação, incultura, amontoado de mentiras e mau-caratismo. É impossível ficar um dia sequer sem encontrar alguma inverdade noticiada como fato na grande mídia. Como diria o meu querido amigo Paulo Figueiredo, o jornalismo profissional morreu.
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Carlos Júnior
Jornalista