Estamos vivendo dias de Olimpíadas e uma pergunta fica: o que acontece com os atletas do Brasil que na hora ‘H’ não conseguem realizar e ter a competência suficiente para conquistar aquilo que se compreende por aptidão poderem alcançar?
A competição seja qual for é fonte de estresse, e não é diferente no esporte. Mas, o que seria competir? De forma simples competir pode ser entendido quanto uma disputa, essa disputa acontece contra alguém e por algo que se almeja, um ato de rivalizar.
Você compete por uma vaga de emprego, por um amor, por um título, ou por atenção; nós quanto espécie estamos sempre duelando uns contra os outros, almejando a vitória e a superação sobre o outro, e é a busca pelo patamar mais alto da concorrência. Só que enfrentar os desafios por si contribui para a produção do estresse, o qual é influenciado por questões subjetivas e situacionais.
No esporte sabemos que cada prática esportiva requer um tipo particular de preparação, com demandas fisiológicas, técnicas, psicológicas, táticas e operacionais.
O campeão é representado por suas qualidades pessoais ou intrapessoais, as quais rementem a sua personalidade, as atitudes, a motivação, as suas capacidades e habilidades. Essas qualidades podem ser determinantes no nível de ansiedade competitiva.
A situação estressante pode ser dividida entre a situação competitiva objetiva (SCO) e a situação competitiva subjetiva (SCS), enquanto na primeira situação o atleta está sob a pressão do ambiente e a necessidade do resultado, a segunda é a interpretação que o atleta faz da primeira.
O (SCO) seria como um atleta entrar em um ginásio com 10 mil pessoas o assistindo, com a imprensa mundial fazendo a cobertura de tudo, os comentaristas o avaliando, o técnico e o patrocinador o cobrando, e uma corrente de responsabilidade de representação de um país lhe pressionando.
O (SCS) poderia aqui ser representada por uma avaliação positiva do ambiente quanto feliz e motivador, ou por outro lado, avaliado negativamente por uma incapacidade de suprir as expectativas e ter eficácia na sua realização.
O comportamento indicativo é considerado uma resposta (RES) as situações com manifestações fisiológicas, emocionais, cognitivas, psicomotoras e sociais, assim sendo consequências (CON) que podem resumir-se a fuga ou ao enfrentamento, traduzindo o resultado final. Seria a barreira entre o vencedor e o perdedor numa competição entre atletas de mesmo nível técnico.
Aaron Beck em sua psicopatologia cognitiva ou mais conhecida como modelo cognitivo de Beck tem como base o conceito de que a maneira como o sujeito percebe e processa a realidade influenciará a maneira como ele se sente e como vai se comportar.
A ansiedade competitiva tem uma ligação direta com a personalidade por crenças em que se refletem sentimento de perda e desamparo, numa estética representativa de si, do mundo e do futuro, passim, à ansiedade cognitiva e/ou somática têm efeitos diferenciados no rendimento do sujeito conforme claro a natureza da atividade atlética, contudo, por característica baseado no modelo de Beck, podemos sugerir que o atleta que apresenta ansiedade pode se sentir ou perceber-se inadequado, em um ambiente hostil e com futuro incerto, atingindo diretamente sua energia em luta ao limite do congelamento e desistência.
O estresse a qualquer situação da vida é normal, aliás, sem o estresse não sobreviveríamos, contudo, a forma de pensar sobre, e crer às situações objetivas da competição, podem gerar distorções de pensamento que em suma devem afetar a autoestima, o autoconceito, a autoeficácia, a concentração, a atenção, as emoções, o comportamento e claro, a fisiologia do atleta podendo o mesmo chegar à exaustão mais rápido que os demais concorrentes.
Diante da perspectiva do modelo cognitivo de Beck e do processamento mental, podemos concluir que numa competição esportiva quanto menos estressado o atleta estiver e quanto menos ansioso for por sua maturidade operacional, estrutural e conceptual, mais chances de conquista (s) ele terá.
Em pelo menos dois casos nesta olimpíada do Rio de Janeiro, atletas que vinham de grandes derrotas em olimpíadas passadas, superaram suas barreiras mentais com ajuda da Psicologia e hoje são depoentes do seu crescimento e da importância da Psicologia do Esporte no preparo para grandes competições.
Mas ainda há o porém quando o nosso crescimento econômico não acompanha nosso crescimento sociocultural, e penso que quanto povo que atribui a si a inferioridade comparativa (“síndrome de vira-latas”), e por razões óbvias, estaremos sendo representados por muito tempo ainda, por atletas estigmatizados pelo subdesenvolvimento conceptual e pelo medo da competição.
É por isso que afirmo: a preparação psicológica é tão importante quando a nutricional, física e/ou técnica. Para se alcançar a vitória o atleta precisa ter equilíbrio em todas as suas capacidades atléticas: ordem subjetiva e ordem situacional; não cabe a um país investir apenas em estrutura e tecnologia esportiva, é preciso investir também no ser humano, na sua formação educacional, cultural e intelectual. Insisto sempre na mesma tecla, a superação cultural é o grande ponto de mudança que emergi em si-mesmo até as conquistas intimas e profissionais.
Robson Belo
Psicólogo, Psicopatologista e Psicoterapeuta
da Redação