Roberto Campos tinha razão sobre a ‘burrice brasileira’ – a classe política explica

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Acompanhar a política brasileira é uma sensação ambígua. Se por um lado eu percebo a total falta de perspectiva e fico cada vez mais convencido que a melhor saída para o Brasil é o aeroporto, por outro lado não deixo de achar graça das peripécias protagonizadas pelos nossos representantes. Roberto Campos – um gigante que o nosso país teimou e teima em não ouvir – disse que a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor. Impossível não dar razão.

Aqui vai um exemplo: o senador Styvenson Valentim (PODEMOS-SE) publicou em seu Twitter o seguinte:

“STF forma maioria e honra a Constituição no caso nebuloso das emendas do ‘orçamento secreto’. Se a maioria dos ministros suspendeu é porque essas emendas de relator são ilegais. Transparência sobre como é distribuído e usado dinheiro público não é favor, é um dever.”

Ele não consegue imaginar a possibilidade do Supremo errar. Se a corte é a mais alta instância do Judiciário, pronto. Está declarada a sua imunidade a qualquer erro.

O que é um inquérito de ofício aberto aqui, uma intromissão em outro poder acolá?

Diversos juristas tarimbados já apontaram as inúmeras violações à Constituição cometidas pelos supremos togados, mas todos eles devem estar equivocados. Se o Santo Padre da Igreja Católica tem a Infalibilidade Papal, nossos eminentes juízes da Suprema Corte gozam de semelhante prerrogativa no campo secular.

O senador Styvenson me parece boa pessoa, mas certamente é um péssimo político. Sua ingenuidade – ou mesmo burrice – supera o tolerável para quem ocupa tal posição.

Acreditar nas bobagens do mainstream é algo indesculpável para um homem público, de quem se exige capacidade intelectual para representar o povo.

Reverberar a narrativa sacrossanta sobre o STF ao fingir não enxergar o ativismo judicial – é o termo que ainda se pode usar, amanhã nem isso mais – dos onze supremos desqualifica qualquer analista sério que ouse falar de política. Imaginem então um senador da República.

Ao ler o tuíte do senador Styvenson, lembrei de outro caso, dessa vez envolvendo o ex-senador Pedro Simon. Ele ficou embasbacado com a ingerência estrangeira na Amazônia em pleno governo Lula, o que parecia uma impossibilidade pela retórica antiamericana do PT. Como bem comentou ninguém mais ninguém menos que Olavo de Carvalho, tal surpresa do senador Simon é fruto da total ignorância dos brasileiros no assunto.

Embebidos num nacionalismo idiota travestido de ódio antiamericano, nossos compatriotas projetam no “imperialismo ianque” o grande inimigo das soberanias nacionais, quando o real inimigo é o globalismo fabiano, advindo dos megainvestidores e financistas que planejam um governo mundial há pelo menos dois séculos.

Através da ONU, da classe política de cada nação, da grande mídia e dos bem-pensantes, a elite fabiana quer implementar a moral politicamente correta progressista como régua moral da nova civilização erguida nos escombros da atual, e para tal é necessário destruir a moral cristã e as soberanias nacionais – por tabela, a americana é a principal delas.

O PT é um partido com uma plataforma esquerdista que está de acordo com os ditames globalistas, portanto, é o inimigo número um da soberania brasileira. Tal fato seria facilmente percebido se a farta bibliografia que documentou as estratégias e os envolvidos na trama globalista fosse estudada pelo senador Simon. Mas ele, como todo brasileiro, informa-se exclusivamente pela grande mídia. Qualquer coisa fora da Globo, da CNN e tutti quanti perde a veracidade e logo passa à categoria de ‘’teoria da conspiração’’. É o retrato mais acabado da miséria nacional.

As coisas são assim no país dos insanos. Aqui a alta cultura e a inteligência foram destruídas desde a década de 1960, quando a esquerda brasileira resolveu adotar os conselhos de Antonio Gramsci para empreender a tão sonhada revolução.

O teórico comunista italiano alertou a esquerda sobre os erros cometidos na União Soviética e estabeleceu o caminho para o filme não se repetir. Se os bolcheviques tomaram o poder para depois convencer o proletariado dos benefícios do novo regime – o que deu errado e gerou resistência popular –, o correto seria inverter a ordem e conquistar a hegemonia de pensamento antes do poder.

Para a conquista da hegemonia é necessário a conquista do senso comum, que nada mais é do que a mistura de valores componentes da régua moral das massas. Os intelectuais são os encarregados de realizar a tarefa, começando discretamente a modificar a cultura para gerar o resultado esperado: todos pensarão de acordo com o Partido-Príncipe, o ente revolucionário inquestionável. Como qualquer ideia nada vale se verdadeira ou falsa para o gramscismo, qualquer porcaria pode virar coisa respeitável, até mesmo uma verdade absoluta.

Foi justamente o que se viu no Brasil: a consagração do medíocre, a guerra ao intelecto e a destruição da alta cultura – tudo isso atendendo aos escopos do esquerdismo hegemônico. Os almofadinhas do show business consagraram a miséria de um país que esqueceu deliberadamente dos seus verdadeiros guias intelectuais. A burrice virou norma obrigatória. Roberto Campos tinha total razão.

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Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista

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