Wagner Moura tenta mas não consegue reescrever a história de Marighella

18/11/2021 às 16:47 Ler na área do assinante

Os primeiros segundos do filme já desmentem boa parte do mimimi do diretor iniciante Wagner Moura. A primeira imagem que se vê é o logo da ANCINE. O filme conta com parceiros de peso como a produtora O2 a maior do Brasil, a Globo filmes e foi distribuído pela Paris filmes e a Downtown. Ironicamente um dos patrocinadores é a PROTEGE uma das maiores empresas de segurança do país.

Fica difícil entender o critério do departamento de marketing da Protege ao patrocinar o filme sobre um terrorista cuja especialidade é assaltar bancos !?!

Marighella não é de todo ruim até porque a verdade é tão mais forte que o discurso de Moura que vira e mexe ela aparece o filme a revelia do diretor.

Um exemplo é quando ele tenta mostrar o filho de Marighela ‘discriminado num colégio opressor’ e mostra os alunos de um colégio público, em ordem, com uniformes limpos e cantando o hino a bandeira – a sensação é de nostalgia de quando nossos estudantes agiam como tal.

A cena foi tão forte que o diretor tentou recriá-la nos pós créditos com os terroristas da ANL, gratuitamente cantando o hino nacional, não convenceu.

Para surpresa de todos Bruno Gagliasso acaba roubando a cena com o personagem “Delegado Lúcio” – na verdade trata-se do temido Delegado do DOPS Sérgio Paranhos Fleury – construído para ser o vilão do filme, o personagem acaba revelando um patriota, rebelde e extremamente eficiente. Quando um agente da CIA tenta enquadra-lo, ele responde na lata: - Não recebo ordens de você, tô nessa guerra porque sou patriota! E você (americano) vai continuar me ajudando sim porque você sabe que sou o único capaz de captura-lo” se referindo ao Carlos Marighella.

A morte: o delegado S. Paranhos Fleury era aplicado em seu ofício e estudou muito o livro de Marighella, “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”. E foi com uma emboscada, exatamente como Marighella ensina em seu livro. que ele pegou o líder guerrilheiro. Na elegante Alameda Casa Branca, o Delegado Fleury e sua colega, Estela Borges, fingiram ser um casal de namorados bem próximo do fusca onde dois freis dominicanos aguardavam o terrorista. Fleury usa um conceito militar milenar “Conheça seu inimigo como a si mesmo...”

E, ao contrário do que mostra o filme, Marighella estava sim armado e reagiu, tanto que a delegada Estela Borges morreu baleada naquela noite.

Não foi o pior filme que assisti, vale para ver como é difícil ‘reescrever a história’. Wagner Moura quis contar uma história mas o filme conta outra...

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Eduardo Negrão

Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.

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