Por que no te callas, Casagrande?

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Walter Casagrande, ex-jogador e atual comentarista esportivo do grupo Globo, fez uma análise em seu blog no site Globoesporte.com inserindo os acontecimentos na Arena do Grêmio em um contexto maior. Segundo ele, os torcedores gremistas que protagonizaram a selvageria após mais uma derrota do clube gaúcho no Brasileirão fazem isso por se sentirem encorajados pelo ódio difundido pelo presidente Bolsonaro.

Como não poderia deixar de ser, Casagrande atribuiu a Bolsonaro os piores pecados possíveis. Mas teve uma parte que me chamou atenção: o lamento pelas agressões aos jornalistas que cobriam a viagem do presidente à Itália.

O sr. Casagrande falou alguma coisa quando jornalistas conservadores foram alvos da perseguição mais covarde possível advinda do Judiciário? Ele defendeu a liberdade de expressão quando a suprema censura calou quem faz um trabalho digno?

A resposta é óbvia: não. Casagrande enxerga nos direitistas a encarnação do mal, estando justificada qualquer coisa para combatê-los.

É a velha moral revolucionária como guia, na qual todos os meios disponíveis para o sucesso da revolução e a cristalização da utopia idealizada são justificados sem a menor contestação. Se a construção de uma sociedade perfeita exige o fim do preconceito, a mordaça politicamente correta é o meio justo, mesmo que determinadas opiniões nada tenham de preconceituosas ou algo do gênero. O caso Maurício é a prova acabada desse quadro mental revolucionário.

O sr. Casagrande falou em seu artigo que episódios violentos no futebol sempre aconteceram, mas com Bolsonaro na presidência a coisa tomou proporções maiores. Não sei se passou pela sua cabeça o simples fato de que tais bizarrices não resultaram em mortes, ao contrário de outros tempos – quando Jair Bolsonaro era um deputado irrelevante no cenário político. Se a culpa da violência vista na Arena do Grêmio é do presidente, por qual motivo as brigas anteriores entre torcidas eram mais virulentas e resultaram em mortes – e as atuais não?

Óbvio que esta tentativa de estabelecer um paralelo entre os gremistas ensandecidos e o presidente Bolsonaro não faz o menor sentido, e só poderia ser feito por alguém como o sr. Casagrande. É o retrato mais acabado possível do Brasil. Por essas terras, nada vale pela substância ou semelhança com o real. Basta algumas palavrinhas atraentes e qualquer abobrinha vira análise intelectual de alto calibre – mesmo que venha de um sujeito absurdamente inculto como Casagrande. Seremos eternamente o país dos bacharéis que nada sabem fazer com seus orgulhosos diplomas.

Aliás, Casagrande sempre gostou de lembrar a tal ‘’Democracia Corintiana’’ da qual sempre foi um dos expoentes. Recordou-a quando criticava Marcelinho Carioca, um dos maiores ídolos do Corinthians, pelo simples de uma aparição pública com o presidente Bolsonaro – no caso, Marcelinho defendia a aprovação da MP do Mandante, iniciativa benéfica aos clubes que findaria o reinado da Globo. Ao tentar justificar o injustificável, Casagrande disse que nenhum ex-jogador tem o direito de representar o clube politicamente. Pois bem, onde estava o mesmo Casagrande quando Lula recebeu de Tite – então técnico corintiano – em 2012 a taça da Libertadores conquistada pelo clube?

Entendam de uma vez por todas: Casagrande não é democrata coisíssima nenhuma. Politizar o futebol quando é bom para a esquerda, pode. Quando alguém se utiliza da tão defendida democrata para expressar no esporte suas preferências políticas direitistas, aí não pode. Só vale se eu concordar; do contrário, tem que calar a boca e aceitar a mordaça.

Ora, não foi precisamente isso que Casagrande fez com Ana Paula Henkel – definida por ele como ‘’defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade’’? Ana Paula é direitista e nunca escondeu suas ideias, praticando o bom jornalismo tão ausente no Brasil. Tudo isso ofendeu o sr. Casagrande, que parece não sonhar com outro mundo a não ser aquele habitado por pessoas que concordam com ele. Sem a menor condição de refutar qualquer posicionamento ou fala dela, o único caminho encontrado foi o de praxe dos seus asseclas: difamação histérica sem amparo na realidade.

Como amante do futebol, gosto de acompanhar o esporte e muita coisa chega até mim, ainda que por osmose. Os comentários do sr. Casagrande sempre ganham visibilidade. Não pela qualidade, mas pelo absurdo. Basta observar e... bingo! Lá está Casagrande falando bobagem sobre qualquer assunto

Quando digo ‘’por que no te callas, Casagrande?’’, não faço isso por querer amordaçá-lo – como ele deseja com os divergentes. Diferente dele, sou um defensor ardoroso da liberdade de expressão, e faço essa defesa justamente para que indivíduos como ele verbalizem suas ideias insanas para o descrédito ser a consequência lógica. Repito a fala do rei emérito espanhol Juan Carlos por não aturar mais tanta bobagem – como ele não aturou de Hugo Chávez.

Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista

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