A anunciada filiação do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao Podemos, está longe de ser uma novidade.
Desde logo é preciso deixar claro que esse é um direito que lhe assiste como cidadão e como homem público.
Porém, está exposto a uma análise bem pontual dessa sua atitude que vai de encontro ao que sempre disse.
Quem é operador do Direito e vive os bastidores dos meios jurídicos sabe perfeitamente que o juiz Sérgio Moro estava certo no conteúdo, mas errado na forma enquanto judicou na Lava-Jato.
Sem dúvidas nenhuma, a persecução das ações penais que ele conduziu contra os ex dirigentes do PT e empresários, se baseavam em fortíssimas evidências probatórias.
Mas Moro também surfou na onda do clamor público patrocinado pela grande mídia e sem nenhuma dúvida, errou a mão ao judicar de forma seletiva, escolhendo a dedo alguns réus e protegendo outros.
E foi esse seu grande erro, que acabou pondo toda a bandidagem fora do alcance da lei.
Por exemplo, embora farto de indícios probatórios, os processos penais da Lava-Jato nunca evoluíram para encontrar outros réus do PSDB.
Na linha da história, fica evidente que o objetivo de Moro sempre foi isolar os líderes e a estrutura de poder do PT.
Embora sob o ponto de vista republicano recebesse a maciça adesão da opinião pública, sob os fundamentos do Estado Democrático de Direito, errou a mão. E feio, pois Justiça seletiva, não é Justiça, “senão injustiça qualificada”.
Na verdade, agora podemos constatar que Moro sempre fez parte e protagonizou um grande projeto político vinculado às estruturas de poder que queriam soterrar o PT.
E temos que saber perceber os mínimos detalhes desta trama.
Já escrevi que PSDB e PT sempre foram aliados políticos. Eram estrelas nas quais gravitavam outros partidos satélites.
É que a aristocracia medieval que sempre mandou no Brasil, ao invés de ter o desgaste e o custo de enfrentar as guerras eleitorais, optou por terceirizar o serviço sujo. Então foi construída essa aliança que colocou Lula e o PT à frente do poder para se perpetuarem nele.
E a coisa funcionou durante um tempo.
O PT e Lula mudaram o discurso para permitir um alinhamento de interesses, exatamente quando surgiu o “Lulinha paz e amor!” para ficar palatável.
Contudo, a partir de um determinado momento, eleitoralmente forte, o Lulopetismo, como criatura, pensou poder dispensar o criador e chutou o balde e os aliados.
Puseram a mão no baleiro sozinhos. A reação veio forte. Derrubaram Dilma e colocaram Lula e os empresários que lhe davam sustento na mira da lei.
Michel Temer ciente que não poderia lutar contra essa estrutura macabra que aparelha o Estado brasileiro se aliou a ela.
Mas havia a necessidade de se tirar Lula e o PT de cena para sempre.
Aí que entra Moro como o paladino da moralidade e da Justiça, perseguindo implacavelmente Lula e seus aliados e mantendo fora do foco o PSDB e os seus satélites.
O juiz ganha uma notoriedade absoluta. Vira uma unanimidade nacional.
Como era bonito ver aquele homem sacrossanto e puro se passar como o ser perfeito, impoluto e casto, perseguindo a bandidagem.
E sigamos prestando atenção nos detalhes!
Enquanto Moro perseguia somente Lula, tinha apoio e aplauso do Supremo Tribunal Federal.
Quando o juiz pensou ser mais que um mero peão no tabuleiro de xadrez, a coisa mudou.
E quando foi isso? Quando resolveu pôr as manguinhas da toga de fora.
Quando ele se alia à Bolsonaro, rasga o discurso, renuncia à magistratura e embarca no governo pensando ser absoluta sua consistência de apoio popular.
Na verdade, está cristalino e que embora negando, Moro sempre foi o que agora é: um ambicioso político!
Enquanto juiz foi e agiu politicamente representando um grupo, o qual abandonou na certeza que pulando de galho e ingressando no governo, seria popularmente imbatível e pautaria Bolsonaro obrigando o Presidente a se curvar diante da sua estrondosa reputação e densidade popular.
Ingênuo. Deu com os burros na água.
A partir do momento em que se aliou à Bolsonaro a estrutura de poder da qual era o agente até então, o deixou na rua.
Suas sentenças, até então hígidas e confirmadas pelo STF, caíram uma a uma.
Seu apoio junto à grande mídia também despencou.
Seu projeto de poder junto ao Governo ruiu, pois rapidamente a sociedade percebeu que Moro nunca agira em busca do bem comum, senão para viabilizar um projeto político pessoal já que seu discurso não mais combinava com a sua prática.
Ou seja, não se dizia motivado por interesse político, mas agia como se fosse um político!
Que juiz vocacionado e envolto por uma missão realmente republicana e histórica, deixaria sua toga para entrar na vida pública se não estivesse atrás das vaidades e das ambições?
Foi o que Moro fez!
Agora, no mais emblemático ostracismo, tenta voltar à cena política e administrar o espólio do seu capital de simpatia popular, ingressando efetivamente na vida partidária, na vã esperança de se transformar na 3ª via tão sonhada pela casta que se agarra ao poder com as unhas e os dentes.
Em política se perdoa tudo! Menos a traição! Traidor na vida pública, é como cachorro comedor de ovelha.
Moro traiu a casta política da qual tenta se reaproximar. Moro traiu Bolsonaro. Moro traiu a magistratura e traiu a Nação.
Só não traiu foi sua ambição política!
E isso não se apaga com uma filiação partidária!
É um pião que roda e roda, mas ninguém sabe onde vai.
Só o seguem os ingênuos e aqueles que não tem leitura dos seus reais interesses que são só seus e de mais ninguém.
É gente boa? Pode até ser...
Mas pessoalmente não consigo escutar uma só palavra do que ele diz. Sabe por quê? Porque tudo o que ele faz me deixa surdo!
Moro vai para a história como um grande engodo!
Pode ter enganado muitos por muito tempo. Mas não vai conseguir enganar a todos o tempo todo.
Ele vai para a história como vítima de si mesmo.
E essa é uma pena pesadíssima que ele outorgou como sentença a si próprio!
Com o perdão ao trocadilho, mas nós PODEMOS ver de tudo. Só não merecemos ver Lula e Moro aliados num eventual segundo turno.
Luiz Carlos Nemetz
Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz