Bob Jeff tem um "cinismo" que queremos para o Brasil e que está mostrando a cara do STF
18/08/2021 às 14:58 Ler na área do assinanteFoto: Valter Campanato/Agência Brasil
Roberto Jefferson é um modelo de cínico que queremos para o Brasil. Vou explicar o porquê. Primeiramente, o porquê do próprio cinismo. O que é cinismo?
Existem cinismos do bem. Antes de tudo, devemos recordar um dos maiores cínicos que o mundo já conheceu. Diógenes, o cínico, vivia em Atenas, Grécia, num barril e acompanhado de cães para mostrar para a sociedade da época que, mesmo ele não sendo filósofo (na época a filosofia estava em ascensão) que o ser humano não precisa de muita coisa para viver bem, para ser feliz.
Roberto Jefferson se apoderou deste cinismo, o atualizou e está mostrando a cara do Supremo.
Como todos sabem (acho que o mundo todo já sabe), o Presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, foi preso por manifestações de opinião política e por ordem do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, a quem ele, Bob Jeff, apelida de “Xandão”.
“Xandão”, “orcrim”, “cachorro do Supremo”, “maridão da Dona Vivi”, foram expressões usadas por Bob Jeff na iminência de prisão, como metáforas alusórias a algo, alguém. Sarcasmo, cinismo, deboche.
Esse é o verdadeiro cínico, que deve ser levado a sério.
O motivo da prisão. Xandão se sentiu novamente ofendido. A primeira vez foi quando o deputado Daniel Silveira, um deputado federal, manifestou opinião e xingamentos tidos como ameaças ao Supremo Tribunal Federal. Um videozinho ofensivo que ele fez que circulou nas redes. Nos dois casos, Bob Jeff e Silveira, as manifestações foram por opiniões políticas.
Na audiência de custódia, quando questionado sobre o tratamento dado pelos policiais que o prenderam, Bob Jeff afirmou que teve "que aturar três flamenguistas na viagem, sendo ele botafoguense”. E, pra arrematar de vez, pediu prisão domiciliar porque “Dou uma por semana quando Deus ajuda”.
É diferente do cinismo de Luis Roberto Barroso ou de Alexandre de Moraes.
Os tais ministros conhecem de ponta-a-ponta a Constituição e ainda assim erram feio, fazendo o contrário do que ela determina. E fazem isso com uma maior seriedade. Bob Jeff não. Bob Jeff sabe do erro dos outros e reclama com ironias, sarcasmos, piadas, mostrando a verdade nua e crua e que quer o bem coletivo, que prevaleça a Constituição.
Estamos vivendo um espírito totalitário e nem todos sabem ou sentem isso. Ele está já afetando a liberdade de expressão de muitos e, daqui a pouco, vai ser a de todos ou de uma grande e imensa maioria discordante.
Por outro lado, o sentido de democracia ainda não amadureceu no espírito da sociedade brasileira, principalmente dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Falso cinismo e hipocrisia. Uma coisa é redigir decisões defendendo, de uma forma retórica e até mesmo exaustiva, que a Constituição resguarda os direitos individuais. Outra, bem diferente, é na hora do “vamo vê”, na prática. Prova mais do que evidente que ditados populares têm suas exceções. Ou seja, nem sempre do que fala a boca está cheio o coração.
Voltando a Diógenes. No barril de Diógenes cabe sim mais um, não dois ou três. E este um é apenas Roberto Jefferson, o Bob Jeff.
Sergio Mello. Defensor Público no Estado de Santa Catarina
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