Toda vez que você ouvir ou ler alguém dizendo que as instituições da República Federativa do Brasil estão em pleno funcionamento, trate de desconfiar. Ou o interlocutor não sabe o que está dizendo, ou não reside no país nas últimas três décadas, ou, pior, está ganhando alguma coisa para mentir com tamanho impudor. Estivessem realmente funcionando, não teríamos neste momento o maior esquema de corrupção já registrado numa democracia ocidental.
Nas últimas duas semanas, ulula entre os jornalistas de política uma conversa inquietante. Alguns já até publicaram notas pequenas, aqui e acolá, com algumas informações primárias e aparentemente desconexas, mas capazes de disparar o alerta na sociedade brasileira.
Vera Magalhães sinalizou em Veja; Lauro Jardim perpassou o tema em ‘O Globo’; Murilo Ramos observou detalhes na revista Época; e a equipe de ‘O Antagonista’ foi incisiva, mas não alcançou o cerne da questão.
O resumo da ópera é um só: neste momento, há uma nauseabunda conspirata de ministros do Supremo Tribunal Federal contra a Operação Lava Jato e todos os seus ‘afluentes’ e ‘filhotes’.
Nos bastidores, circula que um grande advogado criminalista percebeu, entre o final de 2015 e o início de 2016, que estava sendo investigado pela força-tarefa da Lava Jato. Imediata e espontaneamente, ele teria procurado a equipe em Curitiba e oferecido a antecipação de uma delação premiada que, aliada à colaboração dos diretores da Odebrecht e da OAS, teria o potencial de fazer ruir a República e estariam obrigando o juiz Sérgio Moro a ‘dosar’ as informações sobre investigações em seus despachos.
Os principais alvos desse advogado — nenhum jornalista citou seu nome... ainda! — seriam ministros e desembargadores de tribunais superiores, em especial alguns membros do Supremo Tribunal Federal.
Fato é que, desde a circulação dessas notas, mesmo que aparentemente truncadas, houve uma forte inflexão na atuação de Suas Excelências, as togas.
Vazaram os áudios de Sérgio Machado para constranger o procurador-geral Rodrigo Janot e a Procuradoria Geral da República; intensificaram as ações contra o presidente-afastado da Câmara do Deputados, Eduardo Cunha, que tornou-se alvo preferencial para saciar a sede social pela punição aos corruptos; começaram a pressionar o Poder Legislativo pela aprovação da Lei contra o Abuso de Autoridade, coibindo o nascimento de novos ‘filhotes’ da Lava-Jato; desenterraram ações que tramitam no STF há mais de uma década; e, consolidaram uma maioria para referendar o malabarismo jurídico ‘inovador’ do ministro Dias Toffoli ao mandar soltar os pilantras presos na Operação Custo Brasil.
Fique claro: a Operação Lava Jato não interessa a nenhuma das autoridades que comandam as supostas instituições brasileiras, nem mesmo a alguns ministros do STF. Seus discursos de apoio à operação nada mais são que um exercício de cinismo.
Estejamos atentos aos próximos dias. As belas e caras togas negras vão tentar turvar os olhos do Brasil. Eles não têm outra saída.
A lambança é geral!
Helder Caldeira
da Redação