Desde as revelações da Operação Lava Jato, muitos ainda se perguntam, atônitos ou embaralhados, o que é, de fato, o “Mecanismo”? Ou, em outros termos: que “forças ocultas” e corrompidas são essas que dominam e comandam os destinos do país a partir dos intestinos invisíveis de seu impenetrável organismo político?
Em poucas palavras, pode-se arguir que o “Mecanismo” é uma teia de interesses econômicos e políticos organicamente articulados, de fins privados e corporativos delitosos (contrários ao ordenamento democrático e republicano), que se utiliza, preponderantemente, dos aparelhos de Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), em suas várias instâncias e níveis decisórios, para viabilizar (inclusive sob a aparência de dissimulada legalidade) os seus objetivos cabulosos.
Ou seja: uma disfarçada organização criminosa, coligada em rede, conjurada e atada por um sem-número de facções (da “direita” à “esquerda”) que, de posse do Estado, nutre-se do erário público e de parcerias público-privadas de delituoso compadrio, visando, unicamente, a consecução e a perpetuação de vantagens e privilégios para os seus condôminos e associados, à custa do esbulho e da extorsão do patrimônio que pertence à população.
Constituem essa malha quadrilheira: partidos políticos e lideranças partidárias (de todas os credos e estampas); grandes conglomerados do setor privado (de empreiteiras e bancos a grupos de comunicação); representantes titulares de organizações profissionais, sindicais e da sociedade civil em geral – neste caso, flutuantes conforme o contexto.
Em torno a esse núcleo central do “sistema”, orbitam interesses menores de apoiadores eventuais ou “plantonistas”, em usufruto próprio, decorrente das “oportunidades” que lhes são concedidas para pecuniária finalidade: artistas, acadêmicos, analistas, religiosos, jornalistas – e todo tipo de “passista”.
Trata-se, essa anojosa engrenagem, de um verdadeiro “mecanismo” ou “sistema”, na exata medida em que se autorreproduz no tempo graças à forma de ordenamento jurídico-político que sustenta a dinâmica do poder, impedindo, nos meandros da hierarquia e da mecânica dessa arrumação, a sua transformação ou metamorfose.
Assim, por exemplo, os partidos políticos, geneticamente constituídos como “tribos” de poucos “caciques”, privilegiam candidaturas que estejam comprometidas com o esquema vigente, da mesma forma que vêm escolhidos, seletivamente, os presidentes das casas legislativas e das comissões parlamentares, os ministros das cortes superiores (como o STF), demais magistrados de destaque e direções de ministérios e empresas estatais – tal-qualmente os dirigentes de toda organização estatal (ou privada, sob sua influência) que desempenhe papel significativo no tabuleiro do xadrez político.
Nessa contravenção direta ou indiretamente combinada, por força coercitiva do viciado coletivo sobre cada agente individual ali entranhado, o sistema se reproduz e se renova ad aeternum, ainda que com eventuais solavancos e pontuais ajustes, mormente (e não raro) com o apoio de poderosas e influentes corporações financeiras e/ou políticas internacionais, estrategicamente interessadas nos destinos do Brasil.
A maestria de toda essa complexa e internamente contraditória “orquestra” ora é executada por lideranças conjunturalmente situadas em posições políticas estratégicas de destaque, em quaisquer dos Poderes da República (inclusive no Judiciário!), ora é operada por detrás das cortinas do proscênio, com a ajuda e o desempenho dos principais atores (e figurantes) em cena, em sua combinada e premeditada performance.
Fato é que, na moldura desse desditoso cenário, resta ao povo, unicamente, “escolher” a maioria dos seus “representantes” dentre aqueles mais tóxicos, antecipadamente ofertados pelas ORCRIM travestidas de partidos, sem outras opções – já que, propositadamente, é proibida a candidatura avulsa –, para em seguida receber dos consuetudinários “donos do poder” (e de seus “intelectuais orgânicos”) a cínica imputação da responsabilidade exclusiva pela escolha daqueles que, ato contínuo, irão lhe surrupiar e sequestrar, em nome da “democracia” (sic!), a vontade, a dignidade e a soberania.
Eis porque, sob o domínio do “Mecanismo”, a pretensa “democracia republicana”, ilusoriamente pintada na Constituição, não passa de uma cleptocracia oligárquica (governo delinquente de poucos), de tendência ditatorial e totalitária, para o infortúnio das massas. Uma farsa monumental, a condenar o país à vala eterna do subdesenvolvimento, da miséria (material e imaterial) e da incivilidade.
Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).
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