Moro desmascara mais um delator ‘pinóquio’ na Lava Jato

01/07/2016 às 06:43 Ler na área do assinante

Em plena audiência, mas com extrema elegância, o juiz Sérgio Moro desmascarou uma ‘mentira’ ou, pelo menos, uma grave omissão do empresário Augusto Mendonça, que foi sócio do estaleiro Setal.

Uma propina de US$ 32 milhões, paga na construção de duas plataformas para a exploração de petróleo - P51 e P52 – foi questionada pelo magistrado, durante uma audiência em que o delator prestava depoimento como testemunha.

O empresário omitiu em seu acordo de delação o pagamento da propina, considerada um dos maiores subornos de toda a Operação Lava Jato.

Em seu depoimento na delação premiada, ele limitou-se a dizer que apenas tinha ouvido comentários sobre eventuais subornos na construção das duas plataformas.

Desta feita, na audiência como testemunha, o tal ‘ouviu falar’ transformou-se na milionária propina.

Ele contou que as duas plataformas foram contratadas em 2003 e 2004 por US$ 1,6 bilhão (R$ 5 bilhões) e que houve o pagamento de 2% de comissão, ou US$ 32 milhões.

A propina, segundo Mendonça, foi dividida em partes iguais entre o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque e Zwi Skornicki, que atuava como representante comercial do estaleiro Keppel Fels, de Cingapura, um gigante desse mercado.

‘Salvo engano meu, senhor Augusto, eu não lembro de ter ouvido o senhor relatar esses últimos fatos aqui antes’, disse o juiz Sérgio Moro.

A P51 e a P52 foram construídas em Angra dos Reis e Niterói, por um consórcio formado pela Setec, antigo nome da Setal, e o Keppel Fels.

Moro demonstrou-se estupefato diante do que considerou uma revelação.

Mendonça tentou se explicar dizendo que havia prestado depoimentos à PF sobre esse suborno. O juiz pediu então que imediatamente o Ministério Público acrescentasse esse depoimento ao processo.

Os procuradores juntaram o trecho da delação de Mendonça em que fala apenas que ‘ouviu comentários’ sobre propina no contrato das duas plataformas.

Diante dos fatos, o juiz vai decidir que medida tomar. Num caso semelhante, envolvendo o lobista Fernando Moura, Sérgio Moro foi implacável, mandou prendê-lo novamente e anulou o acordo de delação premiada.

da Redação

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