CPI da Pandemia quer perseguir o jornalismo independente

04/08/2021 às 14:17 Ler na área do assinante

Todo país tem um traço particular que o difere dos demais. Encontramos as singulares de cada nação nos livros de História, nas vivências cotidianas ou mesmo nas viagens fortuitas.

Uma das melhores partes de O Século do Nada, livro do mestre Gustavo Corção, é sua citação sobre a França: _ le plus beau royaume après celui du ciel_– o mais belo reino depois do reino de Deus.

O passado católico da nação que virou símbolo da infâmia revolucionária redefine a visão um tanto merecida sobre o seu significado para o resto do mundo.

Pois bem, o Brasil republicano – e principalmente pós-1988 – também tem a sua particularidade. Recorte de uma nação que jogou toda a sua história na lata do lixo ao sonhar com o futuro idealizado pelos positivistas, esse Brasil é marcado por uma coisa: o cinismo dos donos do poder.

Quanto mais eles se locupletam das benesses de suas posições, mais atentam contra a normalidade e a decência. Basta ler os jornais e... bingo! Lá estão fazendo em seus empregos o que se faz na privada.

O exemplo da vez é o pedido feito pela CPI da COVID-19 de quebra de sigilo bancário de portais jornalísticos identificados com uma visão política conservadora. Requerimento de autoria dos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Renan Calheiros (MDB-AL), tal iniciativa busca apurar um suposto financiamento público ou privado para que os portais publicassem ‘’notícias falsas’’.

São eles: Terça Livre, Conexão Política, Brasil Paralelo e Senso Incomum.

Ora, não há a menor justificativa plausível para tal atitude. A CPI tem um fato determinado: investigar ações e omissões do Poder Executivo na condução do combate à pandemia. O que jornalistas independentes fazendo o seu trabalho – alguns deles nem ganham por isso – têm a ver com os burocratas da máquina estatal? Absolutamente nada.

Esse pedido para quebrar o sigilo bancário de portais de mídia conservadora é uma piada de péssimo gosto, digna da CPI que é adjetivada de circense por inúmeros cidadãos comuns.

Mas não pensem que o sr. Renan Calheiros se enganou e cometeu um equívoco por ingenuidade. Raposa velha de Brasília, ele e seus pares sabem o que estão fazendo. Tem método nesse pedido. A intenção não é a de investigar a condução da pandemia por parte de agentes públicos eleitos ou não – longe disso. O que a turba oposicionista quer é gerar factoides ad infinitum para descreditar o governo Bolsonaro visando a eleição de 2022. Um instrumento legislativo absolutamente legal está sendo usado como palanque eleitoral pelos piores atores políticos do país.

Além de mirar o presidente Bolsonaro, as ações da CPI buscam perseguir seus apoiadores e pessoas comuns que não se rendem aos falsos consensos. Nessa última categoria estão incluídos os jornalistas dos veículos afetados pela quebra de sigilo, bem como médicos e cientistas que ousaram discordar dos engravatados.

Não é a primeira iniciativa persecutória contra a mídia de viés direitista. Tem-se no STF um inquérito ilegal que prende jornalista, censura publicações e remove perfis nas redes com o claro objetivo de silenciar os dissonantes. Todos os alvos desse inquérito são bolsonaristas ou adeptos de pautas conservadoras, o que torna clara a perseguição contra uma determinada corrente de pensamento. Se você está com um pezinho na direita, todo cuidado é pouco. A Polícia Federal pode amanhecer na sua casa e levá-lo para a cadeia por divulgar fake news, e quem define isso é o próprio juiz do caso.

O Poder Legislativo tem uma CPMI para investigar a divulgação de notícias falsas, mas todos nós sabemos a real motivação: perseguir jornalistas e ativistas conservadores. No mesmo sentido, foi apresentado um projeto de lei do senador Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE). Em artigos sobre ambos os temas, tratei da nebulosidade em definir o que é fake news – não retornarei a esse ponto. A desfaçatez com que políticos, burocratas e checadores querem controlar o que pode ou não ser veiculado é uma coisa abjeta no mais alto grau. E é precisamente o que esses senhores desejam.

Sonho dourado dos verdadeiros totalitários, o Ministério da Verdade do livro 1984 está sendo implementado na marra pelos mesmos. Não se surpreendam se daqui a algum tempo as notícias necessitarem um carimbo de veracidade de algum órgão estatal para serem veiculadas. Afinal, é mesmo um crime inafiançável querer praticar bom jornalismo dando uma visão que afronte os donos do poder.

Dom Pedro II dizia que a imprensa se combate com a própria imprensa. Nosso maior estadista era um defensor ferrenho da liberdade de expressão, nunca lançando mão de instrumentos diversos para perseguir quem o criticava. Distantes da sua perene grandeza, os tarimbados do nosso establishment querem calar jornalistas com as desculpas mais esfarrapadas possíveis. Que tentem. Seus espíritos medíocres ficarão ainda mais perceptíveis, bem como o caráter – a falta dele, no caso – dos entusiastas dessa censura velada.

Querem nos calar!

O Jornal da Cidade Online está sofrendo ataques escancarados das “velhas raposas” da política, através da malfadada CPI, comandada por figuras nefastas como Aziz, Renan e Randolfe.

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Carlos Júnior

Jornalista

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