Há alguns dias, Cuba foi tomada por protestos que ocuparam toda a ilha caribenha, em uma revolta popular espontânea — de proporções inéditas —, que deixou a elite socialista cubana em total desespero, receosa de perder o poder.
De fato, o que o mundo vê acontecer atualmente em Cuba é a verdadeira revolução cubana. O movimento que Fidel Castro liderou no final da década de 1950 — e que por fim o levou ao poder, em 1959, depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista — foi uma contingência de guerrilheiros armados, muito bem financiados pelo governo soviético, que buscavam o poder político. A tragédia revolucionária protagonizada por Fidel não teve absolutamente relação alguma com uma revolta popular. O que aconteceu foi um golpe de estado, que suplantou uma ditadura e a substituiu por outra muito pior.
Essa é a tragédia das revoluções. Elas não são movimentos genuinamente populares, mas insurreições políticas, que via de regra derrubam tiranos, para instaurar em seu lugar um regime muito pior que o anterior. Não obstante, nos últimos dias o mundo tem presenciado uma genuína conflagração popular na ilha caribenha — que há décadas serve como referência de êxito revolucionário para a esquerda política. Não obstante, a verdade é que, com a eclosão dessas revoltas populares, a esquerda começou a temer perder a plausibilidade da narrativa ideológica que ela tanto luta para manter.
Mais cedo ou mais tarde, no entanto, essa narrativa ideológica irá cair, porque ela é completamente incompatível com a realidade e com as aspirações do povo cubano — que está lutando arduamente para conquistar a sua liberdade, depois de décadas de opressão e tirania.
Os cubanos — compreensivelmente saturados pela tirania que os oprime há décadas — finalmente revoltaram-se contra os seus algozes. Agora, os cubanos despertaram e não aceitam nada menos que a liberdade. Chegou a hora de colocar um fim ao totalitarismo, e encerrar o ciclo de escravidão e tirania de uma vez por todas.
Com as conflagrações populares que tomaram inesperadamente a ilha inteira, os cubanos se insurgiram contra os seus opressores, mostrando que desejam assumir de uma vez por todas o controle de suas vidas, que há décadas é castigada por burocratas opressivos e dirigentes tirânicos, que condenaram a ilha caribenha a mais nefasta miséria e pobreza, pela insistência de mantê-la refém de uma doutrina política arcaica, degradante e obsoleta — o socialismo, que não produz absolutamente nada de salutar, valoroso e construtivo.
A esquerda brasileira está, evidentemente, convulsiva, histérica, em polvorosa — desesperada, desnorteada, sem saber ao certo o que fazer para manter a fantasiosa narrativa ideológica à qual ela se apegou tão fervorosamente. Dividida, a militância discute entre si nas redes sociais.
Uma expressiva parcela dos militantes recusa-se terminantemente a reconhecer que Cuba é uma ditadura. De tão doutrinados, ficam fatigados com as ingerências da realidade, recusando-se de forma intransigente a compreender os fatos como eles realmente se apresentam.
O atual presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, acusa os manifestantes de serem contrarrevolucionários. Por sua vez, ele convocou os revolucionários sob o seu comando para sufocarem a rebelião. Pior para ele. De acordo com algumas informações, ao menos alguns policiais da ilha haviam passado para o lado dos manifestantes. Uma boa parte da esquerda brasileira, no entanto — sobretudo aquela afiliada ao PT — manifestou apoio às medidas de repressão empregadas pelo estado totalitário contra os manifestantes, que tem sido bastante cruéis.
A esquerda brasileira — justamente por ter em Cuba a sua grande referência — está ostensivamente confusa. Desculpas, prerrogativas e justificativas das mais variadas estão sendo criadas na tentativa desesperada da militância de impedir o mito da revolução cubana de desmoronar. Inúmeros militantes passaram a culpar o embargo americano pela revolta popular que tomou a ilha de assalto. O que é mais uma dentre as inúmeras irracionalidades da esquerda.
A verdade é que o embargo americano não proíbe Cuba de fazer comércio com outros países. Cuba — apesar de ser uma ditadura — não deixa de ser um país independente e soberano, que pode estabelecer acordos comerciais mútuos com quem desejar. O embargo proíbe apenas americanos de fazerem negócios em Cuba.
Se a esquerda fosse coerente e comprometida com o discurso anticapitalista que lhe é tão característico — visto que a militância está sempre reclamando do "imperialismo" americano — ela celebraria, ao invés de condenar, o embargo, dado que isso expõe de forma resoluta e irremediável o fato de que Cuba é um país livre, emancipado dos Estados Unidos. Coisa que Cuba não era, antes de Fidel Castro tomar o poder, na fatídica revolução de 1959.
Antes de Fidel Castro se tornar o soberano absoluto da ilha caribenha, Cuba era governada pelo militar Fulgencio Batista, que era basicamente um fantoche dos americanos. Naquela época, inúmeras indústrias americanas estavam estabelecidas em território cubano; a ilha caribenha era tratada basicamente como se fosse uma colônia americana.
O cultivo de cana-de-açúcar era uma das atividades mais importantes da ilha, sendo basicamente um grande oligopólio industrial controlado pelos americanos. Inclusive, foi com o cultivo de cana-de-açúcar que Ángel Castro y Argiz — pai de Fidel Castro e de seus irmãos, Raúl e Ramón, e de suas quatro irmãs, Angela, Agustina, Emma e Juanita — enriqueceu de forma abundante, conquistando enorme prosperidade, sendo assim capaz de oferecer à sua família um estilo de vida suntuoso, confortável e exuberante.
Depois de tomar o poder, Fidel Castro nacionalizou todas as indústrias e companhias americanas que haviam em Cuba. Depois que os laços comerciais com os Estados Unidos foram rompidos, no entanto, a miséria se acentuou, em virtude da ausência de liberdade econômica. Com o estado exercendo o controle discricionário da economia, a escassez invariavelmente tomou o lugar da abundância.
Onde não há respeito pela propriedade privada e pelo sistema de preços, haverá carestia, visto que o estado jamais apresentará a mesma eficiência que centenas ou milhares de empresas privadas competindo entre si em um regime de livre concorrência. De maneira que a pobreza e a miséria são sintomas inerentes ao socialismo, visto que esse sistema estabelece um regime onde centenas de milhares de fornecedores competitivos e eficientes — as empresas privadas — são substituídos por um único fornecedor precário e ineficiente: o estado.
Adicionalmente, a desculpa do embargo americano para tentar justificar a pobreza de Cuba é rapidamente diluída quando lembramos que Cuba recebeu auxílio material e financeiro considerável de países como Venezuela e Brasil.
Durante o apogeu do regime chavista, Cuba recebia mensalmente centenas de milhares de barris de petróleo da Venezuela. E foi com dinheiro enviado pelos governos petistas de Lula e Dilma — através do BNDES — que o governo cubano construiu o Porto de Mariel. Ou seja, as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos nunca impediram que a ditadura cubana fosse financiada por países ideologicamente alinhados. Antes de ser sustentada por republiquetas latino-americanas, no entanto, Cuba permaneceu por décadas sendo financiada pela União Soviética.
Toda essa riqueza que Cuba recebia de países aliados, no entanto, servia basicamente para — além de financiar algumas obras de infraestrutura — enriquecer a elite política cubana, sobretudo o clã dos Castro. Isso fica muito evidente no livro "A vida secreta de Fidel: As revelações de seu guarda-costas pessoal", escrito por Juan Reinaldo Sanchez, indivíduo que foi chefe da guarda pessoal de Fidel, trabalhando junto ao ditador por dezessete anos, de 1977 a 1994. No seu livro, Sanchez relatou que Fidel desviava para um fundo pessoal boa parte do dinheiro que o governo soviético enviava para Cuba, com o objetivo de financiar o seu suntuoso e extravagante estilo de vida.
A verdade que a esquerda recusa-se a admitir é que Cuba é pobre porque — sendo uma nação socialista — seu regime político carece de liberdade econômica, o que é um componente fundamental para a aquisição de prosperidade. O maior culpado pela pobreza de Cuba não é o embargo americano, mas o socialismo. A ausência de liberdade econômica é o que faz a ilha caribenha ser uma nação terrivelmente pobre e miserável. Quando houver liberdade econômica em Cuba, os cubanos prosperarão.
O que está em andamento atualmente na ilha caribenha é a verdadeira revolução cubana. Na verdade, o que o cenário atual mostra é uma genuína revolução popular, que é de muitas maneiras similar à revolução romena de 1989 — que pôs um fim à ditadura comunista de Nicolae Ceaușescu, que escravizava de forma brutal o povo romeno desde 1965. Será que a história vai se repetir?
Em 1989 — exasperados depois de décadas de tirania —, os romenos se revoltaram contra o regime tirânico que os oprimia. Rebeliões populares eclodiram em diversas cidades no país inteiro, exatamente como agora acontece em Cuba. Eventualmente, uma grande multidão invadiu o palácio do governo. O ditador Nicolae Ceaușescu — com medo da revolta, que rapidamente se tornou uma enorme conflagração de proporção nacional —, decidiu fugir com a sua esposa.
As revoltas foram tão maciças, e tiveram uma adesão popular tão relevante, que até mesmo o exército ficou com medo, e, ao invés de apoiar o ditador, passou para o lado da população — da mesma forma como alguns policiais em Cuba estão se colocando ao lado dos civis nas manifestações.
Rapidamente, Nicolae Ceaușescu e sua esposa foram capturados. Depois de um julgamento sumário, ambos foram sentenciados à morte, sendo fuzilados no dia 25 de dezembro de 1989. A execução do ditador e de sua esposa foi um evento épico na história da Romênia, que foi transmitido pela televisão, em rede nacional, para toda a população assistir.
Em 1989 — quando os romenos decidiram dar um fim à própria escravidão — eles se uniram para acabar com o regime comunista que os oprimia e os castigava há décadas. Esse evento, conhecido como Revolução Romena, acabou sendo a única revolta violenta dentre as notórias revoluções de 1989, que desmantelaram diversas ditaduras comunistas no leste europeu. As notáveis similaridades desses acontecimentos históricos com o que ocorre atualmente em Cuba indicam que os cubanos podem estar exatamente nesse mesmo caminho — o de sua derradeira emancipação e livramento do comunismo.
Para enfatizar o que foi explicado no início do artigo, o que Fidel Castro executou com o seu grupo de guerrilheiros no final da década de 1950 foi uma ofensiva revolucionária, que buscava se apropriar do poder político. Algo muito diferente da revolução espontânea que está em andamento, que parte do povo e floresce de forma orgânica, sendo seu catalisador o desejo inerente de todo o ser humano escravizado de se libertar da opressão e da tirania, e conquistar o seu direito de ser livre.
O que está em andamento em Cuba é a verdadeira revolução cubana. Se os cubanos obterão êxito em se libertar das garras do comunismo — da mesma forma que os romenos obtiveram, em 1989 — é algo que saberemos em breve.
Atualmente, os cubanos estão lutando ostensivamente para se libertar da tirania que os escraviza há décadas. Depois de muito tempo sendo castigados pela degradação, pela miséria e pela escassez do socialismo, é compreensível que os cubanos estejam saturados. Agora — sedentos por liberdade —, eles lutam avidamente para conquistar a sua emancipação política, social, cultural e econômica. Algo inerente a todos os povos que já experimentaram a brutal, cruel e opressiva escravidão do socialismo.
Wagner Hertzog
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