Quando a profecia se cumpre

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Hoje, verdades se apresentam como mentiras e mentiras fingem ser verdades. Está cada vez mais difícil, para quem quer se manter atualizado, compreender fatos, notícias e informações, que circulam a todo segundo, sem ser influenciado. A falta de isenção pode levar a conclusões e reações equivocadas.

O sociólogo americano Robert Merton já explicou esse fenômeno. Trata-se da profecia autorrealizável, uma definição sociológica, mais aplicada a grupos, que influencia a interpretação do que ocorre, incitando determinado comportamento e fazendo com que o que é apresentado ao público se torne verdadeiro.

Recentemente, foi possível observar de forma clara essa profecia, a partir da distorção e consequente reação das pessoas com relação aos óbitos divulgados pela mídia e pelas redes neste mês. O primeiro foi resultado de um ato de barbárie em uma escola infantil de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, onde três crianças e duas funcionárias morreram, após ataque de um jovem com uma espada ninja.

Na mesma semana, um segundo fato dividiu a população: a morte de um policial e de 27 indivíduos ligados ao crime organizado durante uma operação policial na comunidade de Jacarezinho, no Rio de Janeiro.

O terceiro fato ocorreu no mesmo período. Depois de quase 50 dias internado em um hospital do Rio de Janeiro, o ator e humorista Paulo Gustavo faleceu por complicações em consequência da sarscov-2. Logo a seguir, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morreu, aos 41 anos, em decorrência de câncer da transição esôfago-gástrica e complicações do tratamento.

A tragédia de Saudades tem um giro de notícia e não interessou a grande mídia, pois as narrativas do armamento civil e da truculência dos bolsonaristas fascistas caíram por água abaixo. Talvez por isso tenha comovido menos que as demais mortes anunciadas. Já o caso em Jacarezinho alcançou enorme comoção.

Ao tratar como vítimas traficantes que roubam, matam e destroem famílias, a profecia autorrealizável transforma o cidadão comum, honesto e respeitador das leis, em refém da criminalidade, subalterno aos criminosos, além de transformar a polícia em algoz.

Já a lamentável morte de Paulo Gustavo foi usada pela narrativa midiática, que culpou a falta de vacinas pelo ocorrido, de forma ideológica, mesmo quando a própria mãe do comediante, em entrevista a uma grande emissora, esclareceu que o que mata é a corrupção.

Por fim, um prefeito que destruiu São Paulo com sua incompetência, fez carreira com o nome do avô, e ao morrer vira um dos maiores administradores de sua cidade, é uma crença fruto da profecia autorrealizável.

É necessário partir de um novo pressuposto e abandonar a situação profética que condiciona o comportamento para ser possível superar reações enraizadas e independentes da vontade individual. Do contrário, ideias falsas não se extinguirão quando confrontadas com a verdade.

Em todos os casos analisados, é evidente o poder da ideia da profecia que se auto-realiza no comportamento de quem recebe a notícia, que passa a acreditar no que é insistentemente pregado e transforma essa crença em realidade. Assim, no caso em Jacarezinho, a percepção leva a crer que a polícia é o bandido. Não importa se os policiais devem enfrentar o perigo e reagir com o poder de fogo compatível com as possibilidades do adversário.

Não se leva em conta que o combate se desenvolve em uma área desconhecida , em uma comunidade que tem fatores adversos para a ação policial. O avanço dos agentes é de casa em casa, com desvantagem para os policiais que tem como fator negativo o desconhecimento da área e a falta de suporte aéreo. As casas dos moradores, intimidados e acuados pelo poder do crime organizado, tratado pela mídia como vítima da discriminação e da "violência policial", devem ser abertas para criminosos que ali desejem se esconder.

Os traficantes de todas as regiões dominadas tiveram tempo para ampliar suas forças de defesa territorial. Com as barricadas reforçadas, efetivo bem armado, arsenais abastecidos e com uso de táticas do grupo terrorista palestino que utliza moradores como escudo e controle de todas as residencias da favela, e mata os seus só para por a culpa na policia, não há possibilidade de diálogo pacífico por parte da polícia.

A grande mídia, os círculos universitários, os políticos da esquerda progressista e os membros ativistas do judiciário (incluindo ministério público e defensorias) recorrem à profecia autorrealizável sem que os cidadãos percebam. Dificulta ainda mais a compreensão dos fatos a decisão que determinou que as operações deveriam ser “devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro”, responsável pelo controle externo da atividade policial.

Mesmo quando todos estes requisitos foram cumpridos pela Polícia Civil, no caso da Operação Exceptis, no Jacarezinho, a impressão é que nem mesmo o Ministério Público consegue apoiar de forma consistente o combate ao crime. Os documentos referentes à operação estavam disponíveis na internet antes mesmo de sua deflagração pela polícia. E documentos com informações sobre os alvos da ação policial foram encontrados dentro de uma das casas usadas por traficantes.

A grande mídia, ao cobrir o caso, insiste em uma pauta falsa da situação, vitimizando bandidos, e isso suscita um comportamento equivocado na sociedade e faz com que essa concepção originalmente falsa se torne verdadeira.

As reportagens trazem sempre imagens como suporte ao que afirmam, quase sempre associadas a depoimentos emocionados, induzindo ao erro de interpretação sobre a verdade dos fatos.Toda a narrativa da grande mídia direciona sua audiência no sentido de predizer o pensamento das pessoas, moldá-lo à crença que divulgam e ter êxito em concretizá-lo nas mentes receptoras, sem chances de perceber as crenças limitantes por trás dessas profecias ou de verificar a profecia contrária a que divulgam.

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Carlos Arouck

Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.

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