Donald Trump, o poder e a ideologia dos ‘ianques’
06/06/2016 às 07:44 Ler na área do assinanteO processo civilizatório de qualquer país no mundo passa necessariamente por traumas irreversíveis quanto aos processos de colonização e dominação de seu povo, de sua gente.
A história dos homens relata de forma tácita, a relação advinda deste encontro entre povos sujeitos ao imperialismo de outras nações.
Quase sempre, podemos extrair desta realidade, quadros sistêmicos de crise, sublimação da cultura, aliciamento e violência mediante confrontos que deixam vítimas fatais, além de casos de tortura sem precedentes contra seres inocentes, mulheres, crianças e pessoas idosas.
Não é preciso entender a ideologia de uma nação que é refém de uma liderança marcada por uma leitura de opressão, medo, basta ver o que se sucede nos dias atuais na Síria, onde Bashar Assad surge como grande estadista e com capacidade para liderar uma nova etapa do mundo árabe e do seu povo, hoje com mais de 400 milhões de pessoas.
Em aliança com o Irã e a resistência imperialista da região, pode-se vislumbrar tempos difíceis tanto para o imperialismo estadunidense, quanto para o sionismo de Israel.
De toda sorte, vivemos numa arena de fatos que são mediados pela cultura, que são executados, interpretados e narrados, com maior ou menor aproximação, dentro dos limites da inteligibilidade humana.
O homem lê o mundo consoante seus sentidos e sua apreensão da realidade historicamente condicionada. Sob tais imperativos, a cultura se nos apresenta como o alfabeto, a linguagem que nos permite ler as coisas do mundo e nos impede uma existência de pura fatual idade, onde a sucessão dos fatos não se coaduna nem se interpenetram, fatos isolados, sem a priori ou a posteriori.
Desta forma, não obstante a precariedade é neste espaço espiritual-simbólico, que a humanidade produz e reproduz as suas ações sociais, conforme as suas culturas diferenciadas, que nada mais são que diferentes leituras da realidade.
Nesta perspectiva, a realidade humana ganha à multiplicidade de um caleidoscópio infinito, em função das diferentes culturas que, por sua vez, não conformam com exatidão os diferentes seres – humanos mergulhados em inescrutáveis sonhos, ambições e expectativas individuais.
Por aparentar auto evidência, somos levados a comungar com a ideia de que esta leitura do mundo se dá na medida exata das possibilidades do leitor, ou seja, cada indivíduo apreende o mundo conforme suas experiências de vida, seus apetrechos de leiturabilidade.
Isto pode ser enunciado tanto sob uma ótica de pretensa neutralidade, onde “O que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver”. (KUHN, 1994: 148), quanto imbuída de juízos de valor, onde “O julgamento de um cidadão do mundo ocidental é diferente do de um biafrense que morre de fome”. (ECO, 1993: 109).
Quando a leitura de mundo se reporta à realidade dos interesses coletivos, aos fatos sociais, estrito senso, observamos a interferência de forma vertical neste abecedário de ler a realidade. Aí reside a radicalidade do pensamento ideológico que atua como verdadeiro instrumento de falseamento e subversão do “real” enquanto realidade histórica das culturas.
Mas, o que é mesmo Ideologia?
Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos. A ideologia pode estar ligada a ações políticas, econômicas e sociais.
“A ideologia, como sistema de ideias que já não são pensadas por ninguém” (Weidle), tem além do elemento racional motivador, o vasto campo da vulgata, que se traduz tanto em elementos emotivos como em elementos míticos.
Ela traduz certa leitura do real, apresentando a cada grupo um sistema de ideias, crenças e valores coerentemente organizado que traduz o que ele é e que propõe a necessária orientação futura.
E também um elemento da cultura. É dentro da ideologia como um elemento da cultura que cada coletividade constrói uma representação de si própria, procura dar uma interpretação daquilo que é ao mesmo tempo em que explica as suas aspirações.
Se a cultura como um todo orienta a ação da coletividade, a ideologia propõe-se orientar essa ação de modo voluntário e mais explícito, procurando sempre provocar, manter e salvaguardar uma unanimidade de ação e de motivação.
A ideologia não é um mero elemento da cultura, mas o seu verdadeiro núcleo. É dentro da ideologia que se criam novos valores ou se recriam os velhos dando-lhes um novo sentido.
A ideologia adianta-se à cultura na medida em que não propõe, apenas, a aceitação dos comportamentos sociais, antes pode produzir ação não conformista.
O conceito de ideologia foi muito trabalhado pelo filósofo alemão Karl Marx, que ligava a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe social dominante.
Foi Karl Max que começou a fazer uso político do termo ideologia. Ele retoma o termo, ele lhe confere, desde as suas obras da juventude, um sentido totalmente distinto.
“A ideologia é, aí, um ”sistema de ideias”, de representações que domina o espírito de um homem ou de um grupo social" (Althusser, 2003, P. 81).
Para Émile Durkheim, o fundador da sociologia o ideológico é um resto, uma sobra de ideias antigas, pré-científicas.
É a partir de então que a função da ideologia é entendida como algo que pretende ocultar a realidade da origem dos conflitos e classes sociais, dissimular os verdadeiros interesses das classes dominantes e opressoras, e legitimar as ideias de que as diferenças de classe são fruto de um processo natural, fundamentado no respeito à individualidade, esforço e habilidade das pessoas.
De nossa parte, torcemos, sinceramente, pela volta da paz na Síria.
Olhando para o discurso do pré-candidato a presidência dos Estados Unidos, percebo nele, uma disposição clara de tirar o poder dos líderes africanos que fomentam lideranças que violam tratados e que mantém a população sob o tacão impiedoso de regimes autoritários, não muito diferentes do que é parte da ideologia norte-americana no cenário do mundo, ao exercer seu domínio territorial, ideológico com discursos bem intencionados, eivados de promessas de liberdade, igualdade, direitos humanos.
O americano magnata Donald Trump disse que a África precisa ser recolonizada. Desta vez ele dirigiu a sua ira aos líderes africanos que de acordo com Trump, não conseguiram exercer liderança e estão mantendo as suas populações em condições piores. Falando em Nebraska, Trump disse que os africanos são escravos que vivem como escravos em sua própria terra, mas eles afirmam que eles são independentes.
Imagino que Trump, ao falar da ganância dos líderes africanos, afirmando que estes não se preocupam com sua gente, certamente, não há nele, outra disposição que não seja tornar os países africanos, mais dependentes do poderio e domínio das grandes potências, o que seria o mesmo que trocar seis por meia dúzia, ou seja, se moveria do poder, os tiranos de antigamente, e se instauraria um governo pautado em decisões advindas dos Estados Unidos, ou seja, tudo em casa.
Não seria o poder ianque vitalício, mais do que das ditaduras existentes no mundo?
Certamente, um dos traços fundamentais da ideologia consiste, justamente, em tomar ideias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais conceitos expliquem aquela realidade, quando na verdade o que existe, torna compreensíveis os pressupostos elaborados". Não é à toa que a ideologia é o cimento da sociedade.
Se para Donald Trump, o que pesa na mente dos líderes africanos, reside tão somente, na acumulação de riqueza dos contribuintes pobres, ele apenas afirma a sua intenção clara de dar segmento a esta forma de poder, que, aliás, sustenta a tirania dos ricos e acrescenta quadros de miséria itinerante, talvez porque, um povo destituído de identidade, seja, a melhor representação de um domínio que se arrasta por vários anos de guerras intestinas e incontáveis vítimas, além de ser uma presa fácil de regimes autoritários, que pensam escamotear a realidade, imaginando que sob o domínio de outros governos, não haverá resistência, opressão, a exemplo do que se sucede com os refugiados sírios que saem do seu país, sem destino certo, apenas por entender que a tirania e a opressão caminham de mãos dadas em direção à ruína. Será este o destino dos países africanos ?
Sabe-se que Donald Trump, se revela como um candidato ousado, à frente de Scott Walker (13%) e Jeb Bush (12%), ele conquistou o posto após uma série de declarações polêmicas — racistas, sexistas e xenófobas — que têm sido propagadas em esfera pública.
Ele é conhecido por ser um empresário bem-sucedido, um investidor e também uma verdadeira personalidade da mídia norte-americana, Donald Trump é um dos candidatos à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2016 pelo partido republicano.
Trump é presidente do conglomerado The Trump Organization e também é o fundador da Trump Entertainment Resorts. Ele ficou famoso e ganhou alta atenção da mídia com seu reallity show, o The Apprentice, quando o seu bordão “you’re fired” se tornou famoso.
Dono de uma carreira de sucesso e nascido em uma família milionária, Donald Trump faz sucesso na mídia há alguns anos, seja por seus três casamentos ou por seu reallity show de sucesso.
Porém, o que mais tem se destacado ultimamente são suas declarações e posições como candidato a presidente que tem agradado à parcela mais conservadora da população. Isso porque uma das bandeiras que ele defende é xenófoba, sendo completamente contra à entrada de imigrantes no país, principalmente os mexicanos e os muçulmanos.
Além disso, ele tem grande apoio do público, mesmo com declarações bastante polêmicas e controversas, por ser alguém que não só não é um político profissional, como também é uma celebridade. Isso porque americanos têm uma grande tendência a se conectar com celebridades, porque também desejam ser uma.
Para se ter ideia da verdadeira coleção de declarações polêmicas de Donald Trump, ele já declarou que imigrantes mexicanos são estupradores, já criticou o senador republicano John McCain por causa de sua captura durante a Guerra do Vietnã e inclusive já zombou de um jornalista deficiente. Para finalizar, ele aponta que o grande problema do país é o fato de ele ser politicamente correto.
E isso é apenas uma pequena parcela de tudo o que ele já falou em seus discursos, entrevistas e declarações. A verdade é que não dá para negar que Donald Trump chama atenção, ainda que negativa, e que tem feito muito sucesso entre os eleitores conservadores dos Estados Unidos.
Será que ele seria o modelo presidencial possível diante de posições conservadoras contra as chamadas “minorias”, além do preconceito visível contra etnias e outros grupos raciais?
Em outras palavras, Trump é um homem de negócios, um capitalista pragmático – e aqui capitalismo aparece como fenômeno real e não como publicidade ideológica do tipo que só existe nos livros de Ayn Rand e nos sonhos dos anarco-capitalistas.
Ele certamente não é um conservador em sentido clássico, mas tampouco é um “liberal” (independentemente da conotação que se dê à palavra), um socialista, um nacionalista ou um populista, como defendem, não sem argumentos plausíveis, alguns dos melhores analistas.
Trump, nunca aderiu de modo rígido a nenhuma ideologia e jamais ofereceu propostas fundamentadas em princípios ideológicos, preferindo sempre priorizar um discurso que defende que é necessário montar uma boa equipe, resolver os problemas, eliminar os entraves governamentais que impedem a iniciativa privada de propor respostas aos grandes desafios do nosso tempo e principalmente conseguir acordos melhores para restaurar a grandeza de seu país.
As razões que o levaram a ser rejeitado pela classe falante foram, portanto, as mesmas que o levaram a ser escolhido e sagrado vencedor pelo eleitorado republicano, demonstrando mais uma vez que a política não é um jogo de idéias ou propostas, mas sim um jogo de identidades.
Adotando critérios objetivos de análise, pode-se ver com a maior clareza possível que Trump, longe de ser um aliado democrata, tem tudo para entrar para a história como um dos maiores inimigos da esquerda americana — suas ações têm demolido o politicamente correto e as restrições à liberdade de expressão tão caros à esquerda, sua estratégia tem permitido vencer todos os confrontos travados com a grande mídia americana, e sua base de apoio é formada por republicanos e independentes que estão cansados do domínio das ideologias.
Pio Barbosa Neto
Professor, escritor, poeta, roteirista
Pio Barbosa Neto
Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará