Alfaiate da CPI não costurou direito os fundilhos
22/05/2021 às 21:22 Ler na área do assinanteLeio na CNNBrasil (matéria de Daniela Lima e Renata Agostini)
Convocação de governador e quebras de sigilo ameaçam unidade do G7 da CPI
Debate interno no grupo de senadores que formam maioria na comissão foi um dos temas do novo episódio do podcast Horário de Brasília.
O depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello aumentou a pressão para que a CPI da Pandemia convoque o governador do Amazonas, Wilson Lima. Senadores do chamado G7, que reúne oposicionistas e independentes, passaram a admitir nos bastidores que a convocação não está descartada.
Esse debate interno no grupo de senadores que formam maioria na CPI foi um dos temas do episódio desta sexta-feira (21) do podcast Horário de Brasília. Até pouco tempo atrás, integrantes do G7 eram refratários a abrir a possibilidade de levar governadores para não expor aliados e manter o foco nas ações de Jair Bolsonaro.
Pazuello, porém, transferiu ao estado do Amazonas a responsabilidade pela crise de abastecimento de oxigênio que se abateu sobre Manaus em janeiro deste ano. A avaliação de parte do G7 é que, como o Amazonas está no objeto da CPI, pode haver espaço para chamar Wilson Lima e barrar a convocação de outros governadores. O argumento é que, conforme a CPI avança, ignorar o chefe do governo do Amazonas pode se tornar insustentável. A estratégia é arriscada, insistem outros integrantes do G7 que têm debatido a questão.
O grupo tenta ainda aparar arestas sobre como encaminhar os pedidos de quebra de sigilo. O debate sobre o tema ameaça expor na comissão um racha já presente nas reuniões do G7. Membros do grupo rechaçam, por exemplo, quebrar o sigilo do vereador Carlos Bolsonaro, enquanto parte entende ser essencial avançar sobre o filho do presidente.
Wilson Lima, por sua vez, quer evitar a todo custo parar no palco da CPI. A interlocutores, avalia que ninguém que ocupe cargo no Executivo vai se beneficiar comparecendo à comissão neste momento.
Comento
Quem acompanha a vida da CPI já percebeu que ela é uma armação cujo relatório já está pronto, e é um primor de erística.
Erística é um ramo um tanto espúrio da retórica, desenvolvido na Grécia pelos sofistas, e muito valorizado na política, pois estudava formas de vencer o debate de forma independente da verdade e da razão. Buscava unicamente o efeito prático do convencimento e seus mestres eram regiamente pagos.
Uma dessas técnicas consiste, como lembrava outro dia o Alexandre Garcia, em criar uma narrativa ficcional com aspectos da realidade, assumi-la como verdadeira e encadear um raciocínio lógico convincente a partir de uma mistificação.
Outra é atribuir ao interlocutor uma afirmação que ele não fez e atacá-lo ferozmente por essa afirmação.
Outra é atribuir uma intenção ao interlocutor e destruí-lo moralmente a partir de algo apenas suposto ou inexistente.
Outra, ainda, é atacar a pessoa com o intuito de descredenciar o que ela diz.
Pazuello, por exemplo, é atacado pelo que é e pelo que não é, por não ser médico e por ser militar...
Segundo Schopenhauer, são 38 estratagemas diferentes, à disposição de debatedores desonestos. Só que tudo que é demais salta aos olhos, principalmente se o conjunto fica mal composto e o alfaiate esqueceu de costurar direito os fundilhos.
No caso, o fio da investigação de governadores que são companheiros dos que conceberam e apoiam a tal CPI.
Se puxar esse fio, fica tudo exposto.
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Percival Puggina
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.