Tudo na história é movimento. Mas, quando se trata de documentos históricos, aqui no Brasil o problema parece ser sempre o mesmo. Não é de hoje que se lê ou se ouve falar do descaso com que são tratados os documentos antigos, considerados papéis velhos, sem serventia ou interesse. Documentos antigos são frequentemente abandonados às traças e cupins ou à ação devastadora da umidade, depositados em locais nem sempre apropriados, isso quando não são deliberadamente queimados.
Para o historiador os documentos históricos representam a matéria prima sobre a qual trabalha. Daí a permanente preocupação com a conservação e a preservação dos papéis velhos, tarefa de competência do Estado e de instituições de cultura e pesquisa. Aos historiadores, professores e estudantes de história cabe outra tarefa que é a conscientização para a preservação de fontes históricas. No caso dos arquivos nacionais e regionais, é necessário ainda manter uma constante vigilância e denunciar os crimes perpetrados contra a memória histórica.
Os documentos históricos são os registros escritos e textos manuscritos ou impressos produzidos de diversas formas. Das administrações de âmbito público ou privado resultam ofícios, decretos, atas, livros de registros diversos, registros paroquiais, jurídicos e correspondências. Outros registros que podem ter valor histórico e devem ser preservados, por exemplo, são jornais de época, revistas, fotos, correspondências pessoais, postais, propagandas políticas ou não. São considerados registros de importância e devem ser tratados com carinho e cuidado os restos deixados pelas comunidades mais antigas, como as indígenas ou até mesmo anteriores, como cerâmicas, artefatos de defesa, utensílios domésticos e outros. Por outro lado, o mundo moderno vem produzindo fontes decorrentes do avanço tecnológico de tanto valor quanto os documentos escritos tradicionais. São fotos, registros cinematográficos ou vídeos, registros sonoros (caso de discursos gravados em acetato desde o início deste século) até disquetes de computador e CD-ROM.
As fontes primárias, modernas ou não, devem registrar a época dos fatos analisados, verdadeiros testemunhos dos acontecimentos. Já o que se chama de fontes secundárias correspondem aos textos e registros visuais ou sonoros produzidos em fase posterior à época enfocada, como livros e teses.
Atualmente os historiadores recorrem também às fontes orais, havendo uma metodologia específica para o trabalho com depoimentos e entrevistas. Entretanto, apesar de tantos recursos como a informatização o velho problema da conservação de fontes históricas permanece.
Em matéria de história regional, ainda funciona a velha frase: tudo está para ser feito. Hoje, contudo, a história regional está muito mais prestigiada, o que atesta a produção historiográfica das últimas décadas no Brasil. A história de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul está sendo produzida nas universidades regionais através de livros, monografias, dissertações e teses, além do trabalho importante de historiadores ou amantes da história, diletantes, o que significa um importante movimento no sentido de valorização de fontes e da produção historiográfica regional já existente.
Essa responsabilidade com a história não se restringe aos historiadores, pesquisadores e professores. Cada vez mais assume a sua parcela de responsabilidade para transmitir conceitos que promovam a defesa da memória histórica o professor do Ensino Fundamental e Médio, seja da rede pública ou particular. Na verdade, ao ensinar como preservar das fontes históricas, o professor está contribuindo para a formação de valores importantes para as futuras gerações, apesar de tão desvalorizados como o conceito de cidadania. O jovem, ao perceber que um determinado papel velho tem vida própria, pois representa uma viagem ao passado, com certeza será um militante junto às suas famílias para a preservação do patrimônio familiar, além de um diligente fiscal e defensor da memória histórica do patrimônio público.
A conservação de arquivos e fontes históricas, apesar de todos os problemas é tão necessária quanto o ar que se respira. Sem documentos não há história. E, sem história não há futuro.
Valmir Batista Corrêa
Valmir Batista Corrêa
É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.