A ‘radiografia’ da violência nas grandes cidades
28/05/2016 às 08:04 Ler na área do assinanteA imagem de uma cidade sitiada, entregue as hordas de criminosos, comumente, não é apenas uma caricatura de um lugar eivado de crises intestinas, onde a população vive dentro de "trincheiras” entre o tráfico e o combate ostensivo a sua presença no entorno da sociedade brasileira, não somente no Brasil, mas em todas as capitais do mundo.
Somos uma geração perplexa, somos uma geração insegura, somos uma geração aflita – mas, como tudo tem seu lado bom, somos uma geração questionadora. Sofremos com a falta de uma espinha dorsal mais firme que nos sustente, com a desmoralização generalizada que contamina velhos e jovens, é o que afirmou a escritora Lya Luft em seu artigo, “Quem ama Cuida”.
Analisando as palavras do jornalista Rowland Nethaway quando escreveu um artigo para o Cox News Service, ficamos a imaginar a gravidade do conflito gerado no seio da nossa juventude. Em uma de suas reflexões afirmou a seguinte frase: “Ao que parece, a juventude não somente usa cortes de cabelos radicais, tocando músicas extravagantes, mas, sobretudo, imprimindo um nível de agressão, promiscuidade, cinismo e violência que arrepia o cabelo dos pais.”.
O medo faz parte de existir, e de pensar.
Não precisa ser o terror da violência doméstica, física ou verbal, ou da violência nas ruas – mas o medo natural e saudável que nos torna prudentes (não acovardados), pois nem todo mundo é bonzinho, adultos e mesmo crianças podem ser maus, nem todos os líderes são modelos de dignidade.
Diante deste processo de crises profundas em que se encontra a nossa sociedade, Millôr Fernandes certa vez afirmou: “Sinto a sensação cada vez mais inconfortável de ser feliz num mundo em que isso está completamente fora de moda.”.
Certamente, o cenário das grandes metrópoles, assiste de forma assustadora, o crescimento de grupos armados, que se enfrentam livremente à luz do dia, ou em qualquer hora da noite, pelo domínio territorial do comando do tráfico.
É preciso pensar indagar acerca da proporção de mortes existentes, se estas, não esta contemplando o combate ostensivo a criminalidade, especialmente, a quantidade de marginais menores de idade e/ou maiores que causam horrores e traumas na sociedade?
Fica fácil apontar os números e dizer que somos um país violento, mas, outros países não ficam atrás, nem mesmo os Estados Unidos, enfim, se esta acontecendo mortes, é preciso avaliar se estas estão ocorrendo por combate ostensivo ao crime, se isso inclui a ideia de pensar que estamos diminuindo o número de criminosos, delinquentes, se há um combate ostensivo nas ruas ao criminoso que busca intimidar pessoas, enfim, não é apenas afirmando um percentual que vamos resolver o problema.
Será que a polícia não tem o direito de agir em defesa da sociedade, ou será que o bandido tem que permanecer vivo para que as estatísticas de mortos, não sejam computadas a polícia?
Enfim, estranhamente, percebo que apenas existe a configuração de um lado - da polícia somente, e quanto aos marginais que violam as leis, eles devem ser premiados, conduzidos impunemente como números fantasistas sem serem arrolados no trauma de um "tecido social” roto e sujo, eivado de marginalidade plena.
Ora, se o menor, tem a inimputabilidade penal, o que nos resta, se ele, goza de privilégios, enquanto as vítimas que ele causa, não são devidamente assistidas até pelos Direitos Humanos? Acaso, somente o menor infrator tem defesa, enquanto a vítima não tem assistência e nem proteção do Estado?
Acho que nunca aprendemos a viver como seres humanos nesse mundo, que nunca aprendemos a ser livres, que nunca aprendemos que aquilo que a gente mais odeia é o que mais se parece com a gente, que a gente nunca descobriu como viver de verdade, porque caso contrário estamos vivendo um ”faz de conta”.
Acho que tem alguma coisa na historia da humanidade que falta a gente descobrir, acho que é algo que venha nos ensinar a sermos mais humanos, com uma capacidade de amar, porque só o amor mudará o mundo, mudar o mundo no sentido de revolução mesmo, acho que isso só acontecerá quando pararmos de agimos como idiotas que vivem sempre atrás de vidros e metal, sempre com medo, o medo que nós mesmos criamos e que agora refletiu em alguém que quer ver alguém morrer pôr causa do colar de brilhante ou o relógio de ouro. ´
É evidente que o discurso da marginalidade ao que parece, reside em práticas que banalizam a vida e torna a realidade, algo mais tolerada, aceita, num conformismo que parece se acentuar, mediante a impunidade do crime.
Será justo aceitar a criminalidade sem combater os males que ela traz no "tecido social", já roto, velho, condicionado ao desuso, em roupagens que maculam a vida, e afronta a liberdade nossa todos os dias?
Será este o destino, o caminho a ser seguido? Obviamente que não queremos, sequer desejamos que nossos filhos, trilhem as sendas do crime, não nos interessa decisões fora da lei, que minam a vida e que deixam lares vazios, filhos sem pai, pais sem filhos, mães a chorar, por que um dia, alguém chegou à porta de sua casa e chamou seu filho pra viver uma mentira e ele aceitou pensando ser verdade.
Pena que algumas vezes, a vida aponta caminhos e aí, quando alguém pensa que esta trilhando no rumo certo, o mundo ensina que não, afinal, há caminhos que ao homem parece direito, mas o fim deles é a morte.
Será esta a escolha que temos que aceitar sem refletir acerca do que virá depois, de uma decisão errada, de uma escolha incerta, enfim, se não há maneira certa de se fazer o errado, então por que tentar convencer o erro como algo naturalmente digno, justo?
Como interpretar a vida marginal de quem pouco ou quase nada usufruiu da existência, e que se dedicou a práticas corrosivas, violando leis e ironizando vítimas?
A vida marginal, a busca desesperada por uma identidade, o florescimento como trapaceiro, se fundem e se cristalizam numa falsa existência.
De alegria e de tristeza, de ânimo e constrangimento, de motivação, em ciclo e contra ciclo, se vai desenhando e redesenhando aquilo que nos anima - a vida. Estas ideias soltas nasceram sem por elas se darem conta, a reboque de alguns questionamentos, sempre com um espírito de denúncia do que me parece passível de ser melhorado e cuja condição humana teima em não permitir.
Fala-se do acessório, esgrimem-se banalidades, valoriza-se o perene e não passamos da tona, do azeite que turva a base, a insegurança do caos, os significados do que não percebemos e que de nós somos - essa contradição de todos pugnarem pelo bem sendo o mal que mais praticamos.
A sina comum de quem ousa negar a si mesmo a chance de crescer na direção de uma postura ilibada, distante daquilo que consideramos resultado avesso às leis e ao bom comportamento social, quase sempre colide na formação de um caráter degenerativo e opressor, resultando numa formação de uma personalidade decomposta de sensibilidade aos mais altos e sublimes alvos da vida, quais sejam, a moral e a reputação dignas, aptas a uma boa relação e convivência humana.
Percebo com certa preocupação o quanto tem crescido no seio da sociedade o surgimento de uma geração que precocemente se deixa envolver pelo vício, construindo uma relação marginal distinta de preceitos de retidão e respeito à família, aos outros, como também a si mesmo.
Como resultado desta escolha infeliz, temos a lamentar o crescimento da mortalidade entre jovens e a formação de uma coletividade cada vez mais corrosiva, entregue as incessantes preocupações diante do esfacelamento da família como “célula mater” de uma totalidade que se mostra cada vez mais enferma.
Pio Barbosa Neto
Pio Barbosa Neto
Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará