Em 28/03, o cabo Wesley foi abatido. À tiros foi silenciado por seus próprios pares. Sem chance de defesa, apesar de portar um fuzil. Não desferiu um único tiro contra qualquer cidadão, em defesa de quem, diga-se e não de passagem, se levantou para que se fizesse ouvir o sofrimento da população.
Um tiro amigo o neutralizou!
O cabo Wesley não atirou contra seus pares e tampouco estava a 3 metros deles, mais de 20 metros o separavam do chamado grupo de elite da PM da Bahia.
O silencio que sucedeu aqueles tiros desferidos pelas armas da corporação da qual ele fazia parte e que respondia às ordens do governo estadual é ensurdecedor. As ordens que seus algozes cumpriram, partiram do mesmo lugar de onde saíram às ordens que o cabo Wesley se negou a cumprir pela honra ou desonra da própria corporação, em suas últimas palavras.
As ordens eram inconstitucionais e o silencio é ensurdecedor.
Saiba você meu caríssimo leitor, decreto não é lei. Mais que isso, o decreto é uma ordem administrativa para que se faça executar determinada Lei, mas, o campo de batalha jurisprudencial no Brasil, ficou inseguro. Ninguém pode ser impelido a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei. Princípio da legalidade que torna a ordem governamental inconstitucional.
O cabo Wesley estava sozinho em seu último campo de batalha, o farol da barra, famoso ponto turístico de Salvador.
O resgate do cabo Wesley não veio, ele não foi rendido, no jargão militar, por um colega que fosse seu salvador em Salvador, onde ele não tinha residência, no entanto, onde encontrou a sua última parada.
O resgate do cabo Wesley não veio, tombou sozinho!
O resgate do cabo Wesley se fará por intermédio da memória e do comprometimento dele em não cumprir uma ordem ilegal, uma ordem inconstitucional.
O resgate do cabo Wesley se dará pela luta por justiça, pela investigação independente e isonômica, que permita a ele o resgate da honra que ele pretendeu defender em seu último ato no campo de batalha do farol da barra.
O resgate do cabo Wesley não chegou a tempo, não foi tentado, ele foi silenciado e o silencio é ensurdecedor.
Quando uma vida negra é ceifada, defensores dos seus direitos se levantam para gritar em seu nome, presente George Floyd, presente Marielle, ausente cabo Wesley, seu resgate não veio.
O resgate de sua história merece que se quebre esse silêncio e mais, não só há o silencio dos defensores de vidas negras como há o grito de uma oposição de ódio do bem dizendo que era um soldado louco e que não irá se tornar herói.
O resgate do cabo Wesley, ainda que seja tímido nestas poucas e mal traçadas linhas, que chegue em boa hora, que relembre que era um cabo que se negou o cumprimento de ordens ilegais e que defendia o cidadão como deveria ser o ideal de todo policial militar.
O resgate do cabo Wesley, ainda que tímido e pouco ouvido no som da minha voz proferindo estas indeléveis palavras, faça-nos lembrar que ele tinha uma família, que ele era sim, o herói de alguém, que se dedicava a alguém e que, tal qual um verdadeiro herói, se recusou a transformar em perseguido um cidadão livre e trabalhador.
Resgatem o cabo Wesley.
Cláudio Luis Caivano
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