O marketing, o corpo, a liberdade, a questão de gênero e os limites da consciência de cada um

22/05/2016 às 07:46 Ler na área do assinante

‘O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior’. (Albert Einstein)

O emprego da noção de gênero tem origem na tradição antropológica e psicanalítica feminista, e visa, como na gramática, acentuar a diferenciação entre seres e coisas designadas como da ordem do masculino e do feminino. Ou seja, a partir de uma diferenciação anatômica – pênis ou vagina – a sociedade classifica e institui os sujeitos em uma ordem social previamente instituída.

Essa ordem define lugar, objeto e comportamento específicos a homens e mulheres, distribuindo a cada um funções, saberes e poder social de acordo com as características distintivas que a própria sociedade constrói como sendo pertinentes a cada um dos sexos. A exemplo de inteligência e coragem para os homens, afetividade e fragilidade para as mulheres.

Alguns autores argumentam que a categoria de gênero pode ser tomada em duas acepções – forma de classificação e dado constitutivo da identidade dos sujeitos, entretanto, há que se considerar o fato de que gênero é categoria construída em um solo especifico que é a academia. Instituída, portanto, pelas concepções de homens e de mulheres de classe media branca, - sujeitos das revoluções políticas e comportamentais desde o final da Segunda Guerra Mundial. 

Ao mesmo tempo, os gêneros se instituem e se entrecruzam socialmente de vários modos: classe, etnia, religião, opção partidária, faixa etária, escolarização e profissão.

Certamente, a sensação que temos diante de uma realidade que se alimenta do comércio do corpo, é algo que nos leva a refletir sobre a mutação dos valores vigentes em nossa sociedade.

Pensar o corpo e sua construção na contemporaneidade é, primeiramente, partir da premissa de que muito já se escreveu sobre este. Isto nos leva a encará-lo como algo não unitário, já dado em si, mas que se apresenta enquanto múltiplo, visto que várias foram as metodologias utilizadas para estudá-lo. 

Esse caráter múltiplo do corpo já o coloca em uma posição de não ter uma natureza pré-fixada, mas que ela se constrói ou que é construída.

"O corpo tem seu próprio modo de saber, um conhecimento que tem pouco a ver com lógica, e muito a ver com verdade; pouco a ver com controle, e muito a ver com aceitação, pouco a ver com divisão e análise e muito a ver com união." - Marilyn Sewell.

Ele é produto de uma construção moral pautada nos mais variados momentos históricos.

Na verdade a nossa essência não é o corpo, mas o ser. A valoração do corpo é algo que muitas vezes chega ao ápice de uma relação de mistificação deste.

Quando isso acontece, perdemos o foco do valor de nós mesmos, posto o fato de que, não somos somente matéria, mas um todo organizado que deve perceber-se como algo com infinitas construções, a começar da nossa identidade como pessoas.

O corpo diz, em uma linguagem não verbal se está havendo o feedback, ou seja, boa receptividade na forma como estamos tentando nos comunicar.

Eu e meu corpo somos qualquer um e todo mundo, eu e meu corpo e nós e nós todos não servimos para vender nada, não somos nada de tudo aquilo que vemos na televisão, no cinema nas revistas, nos cartazes publicitários.

O ser humano manifesta o que sente através da sua corporeidade, seja através do olhar, da forma de ouvir, do falar, enfim em todos os gestos exprimimos os nossos sentimentos, isto é, são expressões corporais do nosso estado de espírito.

O corpo materializa a presença do humano no mundo e desse mundo participa carregando sua mente, sua capacidade intelectual e emocional, numa relação dialética constante.

Desejar o corpo não é somente assumi-lo como fonte de nossas aspirações, outrossim, é provocar nas sensações deste universo, espelhos de um mundo, onde o que quereremos é a mais pura e intensa busca de nós mesmos.

É assim que vejo o corpo, movido por tantas paixões, que fazem o nosso coração prender sua atenção ao inimaginável desejo de obter sensações, prazeres, mas isto tem que ser assunto pra outras reflexões, afinal, não posso delimitar o corpo, nem negar suas paixões, pois elas nos sustentam e nos fazem sonhar apesar de tantos ousarem imaginar ser o corpo, um estorvo, um peso, um fardo pesado, prefiro deixar que o corpo fale por si mesmo, o que ele potencialmente deseja, sem que isto me leve a um tribunal onde o réu maior seja a minha consciência livre, que apenas deseja visitar o íntimo e desvendar seus mistérios, seduzindo-o mais que o corpo, o coração.

Concebe-se, pois, a propaganda, como um gênero presente praticamente em todos os meios de comunicação. Ela impõe valores, mitos e ideais, obedece, pois, aos desejos do público e deve primar pela informação e por apelos, a fim de persuadir o destinatário. 

Ela tem por missão integrar o esforço promocional, operando no sentido de atingir o subconsciente do consumidor com a penetração do apelo, influenciando na sua decisão de compra, e funciona como uma forma de comunicação que, ao transmitir informações, induz a outros comportamentos, cumprindo, ainda, um papel de ativadora da economia através do aumento do consumo.

Portanto, a função persuasiva na linguagem publicitária consiste em tentar mudar a atitude do receptor. Para isso, ao elaborar o texto o publicitário leva-se em conta o receptor ideal da mensagem, ou seja, o público para o qual a mensagem está sendo criada. 

Tomando por base o vazio interior de cada ser humano, a mensagem faz ver que falta algo para completar a pessoa: prestígio, amor, sucesso, lazer, vitória. Para completar esse vazio, utiliza palavras adequadas, que despertam o desejo de ser feliz natural de cada ser.

Por meio das palavras, o receptor “descobre” o que lhe faltava, embora logo após a compra sinta a frustração de permanecer insatisfeito.

Os diversos recursos empregados nas propagandas têm o poder de influenciar e de orientar as percepções e os pensamentos, conciliando o princípio do prazer e da realidade, apontando o que deve ser usado ou comprado.

Fica patente a ideia de que, as representações de gênero na mídia, sejam elas verossímeis ou não, são passadas para o público como verdade incontestável. 

Os modelos de comportamento idealizados pelos meios de comunicação caracterizam-se para a grande massa como produto final, pronto para o consumo, seja por meio de novelas, comerciais, vídeo clipes e até lançando mão de formas menos sutis de persuasão, como o merchandising televisivo, recurso este que tem como função exatamente o inverso, ser sutil.

O propósito de criar uma polêmica acerca da roupa que se veste, é apenas uma forma ardilosa de achar que todos devem assumidamente desenvolver uma mudança de hábitos, costumes, como se, o ato de despir-se de uma identidade real e travestir-se de outra, fosse algo plenamente, comum, aceito. 

Decididamente, vivemos em mundo manipulador, que tenta rebelar-se contra a natureza humana, criada por Deus, e não adianta alguém cultuar a liberdade fazendo apologia a condutas permissivas, afinal, liberdade existe, cada um tem a sua, mas impor de forma aliciadora um “produto” como verdade, é mentir duas vezes.

Pio Barbosa Neto

da Redação
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