Não estava no local dos fatos e nem conheci pessoalmente Wesley Soares, o policial que enfrentou seus companheiros de farda enquanto gritava em nome da honra, da dignidade e da infâmia que é um policial prender e humilhar trabalhadores.
Porém, assisti ao vídeo que registrou a execução de Wesley. Depois de alvejado e já no chão, ouvem-se, ainda, várias dezenas de disparos de diversos calibres.
Nenhum vagabundo armado no Brasil, seja traficante ou assaltante de banco, foi tratado com tanto ódio e desprezo como esse policial. Há uma simbologia, há um significado nesse pipocar desnecessário.
O significado é este: a vida de um policial vale muito menos do que a vida de um bandido. Se fosse um animal do tráfico que tivesse sido alvejado dessa maneira, haveria uma crise nacional de proporções épicas.
E restam as perguntas. Foram quase quatro horas de negociações. Nesse tempo a polícia não providenciou um sniper para colocar um projétil no ombro direito de Wesley? A distância era curta, o sniper acertaria um tiro desses sem o menor esforço.
Mas Wesley irritou a guarda pretoriana do governador petista ao dizer frases como estas: "Seus filhos estão presenciando sua covardia, policiais militares do estado da Bahia"; “Venham testemunhar a honra ou desonra do policial militar da Bahia”.
É evidente que Wesley não estava em seu estado normal, o que não significa dizer que estivesse em surto. Ele estava transformado em um poço de indignação, algo só possível de ocorrer com pessoas que têm valores e sabem a diferença entre o certo e o errado.
Também é evidente que o caráter e a consciência que ele demonstrou deveriam ser os parâmetros da polícia que o assassinou: “Não vou permitir que violem a dignidade humana de um trabalhador".
Marco Frenette. Jornalista e escritor.
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