O ébrio, a prostituta e as escolhas insensatas

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O típico bêbado de chanchada: imundo, maltrapilho, cambaleante, tropeçando nas pernas e nas palavras, celebrado no O Ébrio, um filme brasileiro de 1946, reuniu nos primeiros quatro anos cerca de quatro milhões de espectadores pelos grotões do país. Que na época acabara de chegar a 50 milhões de habitantes. 

Saindo da ficção para a realidade, a figura humana vituperada, ultrajada pela vergonha, insulta, agrava, ofende, afronta muito mais a si mesmo como também aos outros.

Não é a toa que causalmente quando encontro um ser entregue a uma vida desregrada de vícios e fraquezas, penso no estado íntimo de sua vida, como reflexo condicionante de sua condição envolta numa existência miserável, sem prumo, sem rumo.

Ora, quem bebe, sempre diz o porquê de sua decisão. Alguns bebem por que estão tristes, alegres, infelizes, outros por que gostam de "encher" o copo e cantar canções vividas em áureos tempos. 

É fato natural que, quem se vicia no álcool, logo terá cirrose, inevitavelmente, mas, em que lugar surge à mulher feia? 

Talvez o acaso, permita encontros nunca esperados, afinal, em uma "roda de bar", não é preciso ser conhecido, basta chegar e sentar e jogar a conversa fora, que todos, igualmente, compartilharão do copo, em um momento que não chega a ser grandioso, apoteótico, deslumbrante, mas, que certamente, traz no íntimo, sementes de vidas, amargas, conflitivas, dotadas de sonhos, ilusões quanto ao futuro que virá.

Às vezes imagino o que vai à mente de tantos dependentes do álcool, alguns seres que percebo, vivendo a amargura de suas escolhas, lançados nas ruas, caídos nas calçadas, desacordados, entregues a uma letargia, a um estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir, além de uma incapacidade de reagir e de expressar emoções; apatia, inércia e/ou desinteresse.

Certo é que nada é mais deprimente, do que olhar cenas assim, gente de diferentes idades, profissões, largados a uma sorte vil completamente dominados pelo vício que os corrói por dentro e por fora.

Mas, o que dizer da presença da mulher feia? Aliás, a atribuição dada às mulheres que estão nas ruas, prostituídas, entregues a um viver dissoluto, devasso, geralmente, traz, de forma incisiva, uma linguagem ferina, cruel, desumana, julgamentos sumários e decisões arbitrárias, que impõe a ideia de que, quem vive de maneira libertina, sempre será motivo e assunto de alguns aproveitadores que na ânsia de desfrutar o corpo, de saciar seus instintos bestiais, não se importam em deitar com qualquer mulher e produzir momentos de sexo e aventura êxtase, apesar de saber que o dia seguinte, trará suas marcas indeléveis na mente, contudo, para elas, isso é indiferente, afinal, o prazer se resume a aventurar-se e desejar o corpo alheio, sem compromisso algum, apenas, uma troca de orgasmos e nada mais.

Em geral, as mulheres prostituídas, em sua maioria, foram condicionadas para ser prostituta através dos maus tratos, da violência, da discriminação e da falta de autoestima, que as faz vulneráveis e passivas. 

Dentro desses condicionamentos, as mulheres sentem que não valem nada em si e que seu único recurso é o uso de seu corpo como objeto sexual.

Existe “prostituição de casa”, nas “zonas de confinamento”, e “prostituição de rua” ou “trot-toir”. Na “prostituição de casa”, as mulheres atendem os seus clientes nestes locais, recebendo ordens, geralmente, de uma cafetina. São obrigadas a usar drogas e bebidas alcoólicas para beneficiar a cafetina.

Na “prostituição de rua”, é lá que ela conquista os seus clientes e paga aluguel em quartos de hotéis de alta rotatividade. Há, ainda, locais de prostituição disfarçados como algumas casas noturnas, casas de massagem, “relax for men”, além de anúncios na imprensa e sites na Internet.

Neste cenário, ela surge do nada, senta a mesa e começa a participar da "roda" de bebida, é claro, ela não vai pagar nada, e aí, não importa no calor do momento para uns "papudinhos", se ela é mulher, bonita, “gostosa”, se tem um passado ou um presente suspeito, se vive a trair ou a atrair parceiros, neste momento, só se vê o coração e nada mais, porque rosto, pele, coxa, bunda, todo mundo tem, agora saber separar o incerto, o duvidoso do que é o real sentido das pessoas, isso não se descobre em uma mesa de mar ou em uma noite apenas de muita aventura, resta saber como vai estar à cabeça da dupla no dia seguinte.

Fico a pensar se o que é pior seja aventurar-se com alguém sem amor, apenas numa troca de corpos e calor e prazer ou dedicar sua vida a um vício danoso que trará fatalmente sua sentença nalgum momento da existência de quem, opta em se dar ao vício, como uma forma de apego e dependência.

Enfim, acho que as escolhas que fazemos determinam o que decidimos realizar, o que sentimos, além dos valores que temos diante das questões apresentadas. Elas se revestem de certa complexidade, é preferível ponderar para que mais tarde não surjam arrependimentos. E nem sempre é necessário que se trate de decisões capazes de afetar a vida para sempre; por vezes aquelas decisões que à partida parecem mais simples, podem na verdade vir a causar dissabores.

A diferença entre ser corajoso e ser temerário às vezes é uma pequena atitude ou a falta dela. E nem sempre cada um é o que seu nome sugere. No diferente, talvez o inverso. O contrário não necessariamente ruim, mesmo que amargo tenha o gosto.

Entre as questões diárias resolvemos agir ou reagir diante das questões apresentadas pelos outros e pelos fatos evidenciados.

São nossas escolhas que revelam o que realmente somos muito mais do que nossas qualidades, lembrando que nem sempre escolhas sensatas acontecem.

Pio Barbosa Neto

Professor, escritor, poeta, roteirista

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Pio Barbosa Neto

Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará

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