A doutrinação dos falsos educadores escancarada em uma questão do Enem

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A prova do Enem do dia 17 de janeiro de 2021 trouxe uma questão cujo enunciado descrevia a grande diferença de remuneração entre os jogadores de futebol Marta e Neymar. Comparava a quantidade de gols de cada um pela seleção e o salário anual de ambos. Uma foto montagem com os dois traz a pergunta no alto: “Quanto vale o gol?”, insinuando que a remuneração deveria variar em razão do número de gols marcados pela seleção.

Ao final, o enunciado afirma que “O esporte é uma manifestação cultural na qual se estabelecem relações sociais. Considerando o texto, o futebol é uma modalidade que”. Em seguida vem cinco opções de resposta que constrangem o candidato a concordar que é a identidade masculina do futebol que confere maior remuneração aos jogadores homens.

A leitura dessa questão gera algumas preocupações:

A primeira, é constatar que os professores que formam a banca da mais importante prova do país não conseguiram entender que o futebol é uma atividade profissional e empresarial, que gera remunerações proporcionais ao retorno de público e mídia que os atletas trazem para suas equipes e patrocinadores.

O aspecto cultural do futebol nada tem a ver com o padrão de remuneração, mas o enunciado e as opções da questão induzem os candidatos a afirmarem que a diferença de remuneração é meramente identitária (identidade masculina), e não uma consequência lógica do maior interesse dos expectadores em assistirem o Neymar e sua equipe.

O segundo, e mais grave fator de preocupação, é ver os candidatos ao ingresso nas universidades serem induzidos a concluir que estudar não é tão importante, pois a resposta dessa e de outras questões decorre de uma leitura superficial do texto. A possibilidade de acertar facilmente sem qualquer conhecimento prévio desmoraliza o esforço do aluno, que é essencial para sua evolução. Parece ser esse um dos objetivos dos elaboradores de questões como essa.

Por fim, é preocupante constatar que os alunos são estimulados a pensarem de forma elitista e leviana. Por que comparar apenas a remuneração das estrelas e não dos demais jogadores, homens e mulheres?

Por que escolher o critério dos gols marcados para avaliar a remuneração, se o futebol é um esporte coletivo em que a maioria dos jogadores não tem a função precípua de marcar gols, mas de prepará-los ou evitá-los?

E, principalmente, qual o sentido de escolher os gols marcados pela seleção como critério para aferir a justiça das remunerações se não é a CBF que paga os salários e se a grande maioria dos jogadores, homens e mulheres, não chega à seleção?

A questão induz ao raciocínio simplório, leviano e assistemático, típico dos falsos educadores que imperam nas escolas e universidades brasileiras. A utilização da posição de poder para induzir milhares de alunos a optarem por distorções como essa representa um grande abuso de poder e desserviço à educação brasileira. Não é à toa que a colocação do Brasil nas avaliações do PNUD é repetidamente humilhante.

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