Mesmo com "proibição de demissões", Argentina enfrenta aterrorizante crise de empregos
13/12/2020 às 08:01 Ler na área do assinanteO presidente da Argentina, Alberto Fernández, vem enfrentando, ou "criando" ele mesmo, uma crise cada vez pior.
Uma das medidas que Fernández adotou em março visava impedir que empresas usassem a pandemia como pretexto para demissões em massa. Como precaução, o governo proibiu as empresas de demitir funcionários, e agora expandiu essa regra até 2021. O governo também tem exigido que as empresas paguem em dobro o valor normal da indenização para trabalhadores demitidos ‘sem justa causa’. Nenhum outro país de peso manteve esse tipo de proibição por tanto tempo.
Mas parece que a manobra que deveria estabilizar o mercado de trabalho tem efeitos colaterais muito piores do que o que visa combater: a inflação no país está em torno de 40% e a desvalorização da moeda já é um dos principais assuntos na imprensa local.
O mercado de trabalho da Argentina já era considerado ruim antes do início da pandemia, mas a situação vem se tornando cada vez pior ao longo de 2020. Apesar dos programas de estímulo executados pelo governo, como subsídios para que as empresas mantenham seu quadro de funcionários, o número de suspensões no país já é 10 vezes maior do que antes da implementação das medidas.
Mas o maior problema é que, segundo economistas, essas regras apenas adiam o inevitável. A previsão é de que, assim que a proibição de demissões for retirada, as empresas acabem por demitir ainda mais empregados do que teriam feito durante a pandemia, já que não terão estrutura financeira para mantê-los.
“Teremos muitos empregos formais destruídos no próximo ano”, diz Eduardo Levy Yeyati, ex-economista-chefe do banco central da Argentina e bolsista do Brookings Institution. O governo “em algum momento terá que permitir que as empresas reduzam o quadro de funcionários, porque, do contrário, muitas irão à falência”.
Mesmo com todas as medidas adotadas, o desemprego na Argentina aumentou neste ano. A taxa oficial é de 13%, mas esse número não abrange os 2,5 milhões de trabalhadores que deixaram completamente o mercado de trabalho formal (o que constitui cerca de 20% dos trabalhadores registrados), que, se contabilizados, fariam a taxa subir para 28%.
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