O padrão nosso de cada dia é a omissão. Mas, de vez em quando, aparece alguém que, além de esclarecido, tem coragem para "dar nomes aos bois".
O líder nacional do PV (Partido Verde), Eduardo Jorge, não quer que Mont'Serrat Martins, candidato da sigla derrotado em 1º turno à prefeitura de Porto Alegre, apoie a comunista Manuela d'Ávila, que passou para o 2º turno.
Eduardo Jorge está pensando na corrida presidencial de 2022. E quer integrar o que ele chama de "opção de centro democrático viável", motivo para rejeitar a "opção antidemocrática" da candidatura comunista.
É um posicionamento correto. Ainda que esqueçamos, a política existe para pôr limite às inclinações abusivas do ser humano, as quais, aliás, nada têm a ver com sexo, idade, situação econômica, cor da pele, etc.
E o que Eduardo Jorge está repelindo é o abuso, o autoritarismo estatal, a pior espécie de ditadura já inventada, isto é, o regime comunista.
Como entender que, embora concordando com ele, uns quantos se omitam?
Por razões não explícitas, alguns dos adversários de Manuela d'Ávila não fustigaram a sua índole inegavelmente autoritária.
Tal omissão favorece falácias do tipo "oh, o comunismo nunca deu certo só porque jamais foi feito como nós faremos": parece piada, mas é o argumento dos militantes quando confrontados com os crimes (milhões de assassinatos) perpetrados pelo regime inumano que eles defendem.
Fatos não são de direita nem de esquerda. Ignorá-los e, apesar disso, ter opinião formada é uma das mais repugnantes formas de omissão.
Como desconhecer, por exemplo, que Manuela d'Ávila (Porto Alegre) e Guilherme Boulos (São Paulo) são candidatos de corte revolucionário?
Claro, a revolução deles é sutil, usando meios democráticos para tomar o poder e, depois, implantar as bases de um Estado totalitário.
Eles nunca ocultaram sua aprovação a governos revolucionários e respectivos métodos: Cuba, Venezuela, Nicarágua e assemelhados.
O plano é, uma vez no governo, usar, por exemplo, dinheiro público para patrocinar "projetos culturais" que ataquem os valores fundantes da sociedade ocidental (inclusive a família). E infectar com dogmas marxistas a educação de modo a pôr um cabresto ideológico na juventude.
Nada disso é possível, porém, sem a omissão da maioria que reprova o projeto revolucionário e que quer um país em que se viva com liberdade, segurança jurídica, esperança e compaixão, além doutros valores da democracia que esses ativistas ideológicos pretendem extirpar.
Não, a omissão não é dos políticos, até porque eles só refletem a sociedade que somos. A omissão, tantas vezes de boa-fé, é generalizada.
A omissão é de quem não se pergunta "como posso contribuir?".
É de quem, por preguiça de pensar, toma como pensamento próprio os refrões populistas criados para capturar patetas.
É, ainda, dos bonzinhos que pensam estar fazendo a sua parte só por não fazerem nada de errado.
Aprendamos enquanto é tempo. A Venezuela era um país riquíssimo e virou uma nação de indigentes graças à omissão de muita gente boa. Por igual motivo e apesar do exemplo, a Argentina está a esvair-se: a Argentina venezuelizou-se - e está mergulhada no pavor.
E nós? Será que, por omissão, vamos permitir a argentinização do Brasil?
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Renato Sant'Ana
Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br