A casinha de Ricardo Teixeira começa a desmoronar
O ex- presidente é acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos.
01/06/2015 às 22:37 Ler na área do assinanteFilho de família humilde, pai bancário, a história do mineiro Ricardo Teixeira começa a mudar com o namoro e depois casamento com Lucia Havelange, filha de João Havelange, na época presidente da extinta CBD (Confederação Brasileira de Desportos).
Ao nascer seu primeiro filho (1974) fez um agrado ao sogro ao registrá-lo com o nome de Ricardo Teixeira Havelange, colocando por último o sobrenome materno, ao contrário do que determinava a lei brasileira.
Chegou à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 1989. Sob seu comando o Brasil conquistou duas Copas do Mundo, 94 e 2002.
Findo a Copa de 2002, a trajetória aparentemente vitoriosa de Teixeira começa a ser atingida por uma série de escândalos e denúncias.
Também pesa sobre Ricardo Teixeira a acusação de que, com o dinheiro da CBF, financiou campanhas políticas de dirigentes esportivos, com o intuito de manter no Congresso Nacional uma bancada de deputados e senadores para defender os seus interesses (manter-se no controle da CBF, impedir investigações sobre corrupção dentro da CBF). A tal turma de parlamentares ficou conhecida como bancada da bola. Com a montagem deste esquema de poder, assegurou suas quatro reeleições.
Eis que, finalmente, parece que a casa está desmoronando. A Polícia Federal (PF) indiciou, sob suspeita de quatro crimes, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. O ex-dirigente é acusado de participar de ações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos. O processo corre em paralelo ao escândalo de corrupção da Fifa - que resultou na prisão de sete pessoas, entre elas outro ex-presidente da CBF, José Maria Marin. São casos diferentes.
O pedido de indiciamento cita ainda outras quatro pessoas. Entre elas, Sandro Rosell, que foi presidente do Barcelona entre 2012 e 2014 e renunciou ao cargo após ser investigado por suposto desvio de dinheiro na compra de Neymar. No inquérito da PF, ele é acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos.
As informações fazem parte de um relatório produzido pela Polícia Federal em janeiro deste ano e enviado ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. O ponto de partida para a investigação são as supostas relações de Teixeira com a empresa Ailanto Marketing, de propriedade de Sandro Rosell. É a mesma firma acusada de irregularidades na realização de um amistoso disputado no Distrito Federal entre Brasil e Portugal, em 2008. A partida custou R$ 9 milhões ao Governo do DF, dinheiro que teria sido pago sem licitação a Ailanto, criada um mês antes do jogo.
O relatório aponta como atípicas as movimentações financeiras de Teixeira no valor de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012 - quando ainda era presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. A análise foi feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
O relatório pede o indiciamento de Ricardo Teixeira pelos crimes previstos nos artigos 297 e 299 do Código Penal (falsidade ideológica e falsificação de documentos), além do artigo 22 da Lei 7.492/86 (evasão de divisas) e do artigo 1º da Lei 9613/98 (lavagem de dinheiro).