A Globo e o próprio diretor, que faz “humor politicamente correto”, se manifestam sobre denúncias
25/10/2020 às 06:01 Ler na área do assinanteMuito cuidado com o discurso.
Principalmente com o tenebroso “politicamente correto”.
O ator e diretor Marcius Melhem fazia parte desse time.
Pregava respeito às minorias e combatia preconceitos, mas, pelo visto, só no discurso.
Uma vez detentor de poder, como diretor de núcleo da emissora, aflorou a ‘tirania’.
A ponto de trancar colegas em salas e tentar beijá-las a força.
É o que dizem as denunciantes, que são inúmeras.
Segundo Mayra Cotta, advogada das vítimas, Marcius é um chefe que se vale de sua posição para tentar usar o poder que tinha de contratar ou demitir para constranger as vitimas a se envolver com ele.
“Houve um comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas [nos programas de humor]. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo. Foi um constrangimento sistemático e insistente, muito recorrente”, disse a advogada.
E prosseguiu:
“Ele isolava as atrizes, tinha o poder de não as deixar ir para outros lugares [na emissora], fazer outras coisas. E criava um ambiente de trabalho tóxico. As pessoas se sentiam presas, sem conseguir se livrar daquilo. Ele usava situações de trabalho para as tentar agarrar à força, inclusive usando violência. [...] De agarrar, de as colocar contra a parede, tentar beijar à força. Isso é bastante violento.”
E mais:
"Foram casos de assédio sexual mesmo. De mulheres falando não, não quero, me solta, não vou beijar, não vou ficar com você. E ele tentando, agarrando. Não tem zona cinzenta, isso é violência. E aí tem algo muito sério: ele era chefe delas. Ele tinha uma posição de poder."
Diante de tais acusações, o próprio Marcius Melhem se manifestou no Twitter:
“Culpados e inocentes dizem a mesma coisa. Por isso qualquer coisa que eu diga pode soar falsa de cara”.
Prosseguiu:
“Mas preciso falar e com o tempo mostrar minha sinceridade no que vou dizer aqui. Estou disposto a reconhecer meus erros, pedir desculpas e, se possível, reparar pessoas que eu tenha de qualquer forma magoado. Quero enfrentar isso com verdade e humanidade e me expor se for preciso”.
E finalizou:
“Mas mesmo abraçando profissionalmente a causa feminista, ainda combato o machismo dentro de mim. Erro, posso ter relações que magoam. Tento melhorar e aprender. E queria muito falar sobre isso. Mas diante de acusações tão graves que de forma alguma cometi, o que eu posso fazer? Negar”.
A TV Globo, por sua vez, elaborou uma nota para tentar se justificar.
Eis o conteúdo:
"A Globo não comenta assuntos da área de compliance, mas reafirma que todo relato de assédio, moral ou sexual, é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e, neste sentido, mantém um canal aberto para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo. Por esse Código, assumimos o compromisso de sigilo do processo, assim como o de investigar, não fazer comentários sobre as apurações e tomar as medidas cabíveis, que podem ir de uma advertência a té o desligamento do colaborador. Mesmo nas hipóteses de desligamento, as razões de compliance não são tornadas públicas.
Somos muito criteriosos para que os estilos de gestão estejam adequados aos comportamentos e posturas que a Globo quer incentivar e para que as medidas adotadas estejam de acordo com o que foi apurado. Não foi diferente nesse caso.
Isso não quer dizer que os processos de compliance sejam estáticos. Ao contrário. Eles evoluem constantemente para acompanhar as discussões da sociedade. As práticas e as avaliações são revistas o tempo inteiro, assim como são propostas e acolhidas sugestões de melhoria nos mecanismos de comunicação interna. A própria sociedade está se transformando e a empresa acompanha esse processo."
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Fonte: Folha de S.Paulo