Advogada de vítimas de assédio de ex-diretor da Globo abre o jogo e conta detalhes dos abusos
24/10/2020 às 17:37 Ler na área do assinanteOs últimos anos estão sendo reveladores para a Rede Globo.
Escândalos e mais escândalos assombram a emissora.
Talvez uma das maiores indecências que já aconteceram dentro do canal seja o caso envolvendo o humorista e ex-diretor Marcius Melhem, acusado de assédio por várias mulheres da emissora.
No total, são seis vítimas de assédio sexual e seis testemunhas que recentemente decidiram que a advogada criminalista Mayra Cotta, irá assessora-las no caso.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, a advogada contou detalhes dos relatos das vítimas.
Segundo Mayra Cotta, Marcius é um chefe que se vale de sua posição para tentar usar o poder que tinha de contratar ou demitir para constranger as vitimas a se envolver com ele.
“Houve um comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas [nos programas de humor]. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo. Foi um constrangimento sistemático e insistente, muito recorrente”, disse a advogada.
E prosseguiu:
“Ele isolava as atrizes, tinha o poder de não as deixar ir para outros lugares [na emissora], fazer outras coisas. E criava um ambiente de trabalho tóxico. As pessoas se sentiam presas, sem conseguir se livrar daquilo. Ele usava situações de trabalho para as tentar agarrar à força, inclusive usando violência. [...] De agarrar, de as colocar contra a parede, tentar beijar à força. Isso é bastante violento.”
E mais:
"Foram casos de assédio sexual mesmo. De mulheres falando não, não quero, me solta, não vou beijar, não vou ficar com você. E ele tentando, agarrando. Não tem zona cinzenta, isso é violência. E aí tem algo muito sério: ele era chefe delas. Ele tinha uma posição de poder."
A jornalista Mônica Bergamo ainda publicou uma cronologia das denúncias:
. Em dezembro de 2019, Marcius Melhem é denunciado por assédio sexual pela atriz e humorista Dani Calabresa
. Em março de 2020, Melhem deixa a direção do núcleo de programas de humor da Globo e pede licença das funções de roteirista e ator alegando motivos pessoais
. Em 14 de agosto, Melhem encerra sua trajetória na Globo. Em nota, a emissora afirma que a decisão se deu ‘de comum acordo’ e que a relação com ele foi uma ‘parceria de 17 anos de sucessos’
. Após os elogios, uma carta é enviada ao diretor-geral da emissora, Carlos Henrique Schroder. Por meio dela, um grupo de cerca de 30 contratados da emissora —na sua maioria atrizes, mas também atores e profissionais de outras áreas— manifestam descontentamento com o encaminhamento do processo
. Em 20 de agosto, a diretora de desenvolvimento e acompanhamento artístico da TV Globo, Mônica Albuquerque, realiza a primeira reunião com o grupo
. No dia 21 de agosto, ocorre um novo encontro, desta vez com a diretora de compliance, Carolina Junqueira. O descontentamento, no entanto, permanece.
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Fonte: Folha de S. Paulo
da Redação