Porto Alegre: A cidade à mercê das vontades

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Um idoso de 72 anos queixou-se ao vizinho cujo filho (de 16) estava, como de hábito, chutando uma bola contra o portão de sua casa. Foi o suficiente para que filho, pai e mãe se juntassem a espancar o ancião.

O crime ocorreu na vila São Judas Tadeu, periferia de Porto Alegre. E nada tem de raro: é o tipo de coisa que acontece todo dia.

A violência é um "novo normal" que se impôs à capital gaúcha há mais de três décadas (e será diferente noutras capitais?).

Como chegamos a isso? Qual é a causa?

São múltiplas as causas, é óbvio. E qualquer simplificação, como fazem políticos populistas, só serve para mascarar o problema.

Mas há um fator básico, de per si, aliás, muito complexo: a crença na impunidade. Agressores não temem a lei, desdenham da polícia e agem na presunção de que não vão ter de arcar com as consequências de seus atos.

E o que é que suscita a crença na impunidade e o descrédito da lei?

Eis apenas alguns fatores causais: o movimento antipolícia, a farsa dos direitos humanos e seu discurso que credencia bandidos como "vítimas sociais", universidades que doutrinam mais do que ensinam e seus ex-alunos a ocuparem órgãos públicos que lidam com a violência.

Acaba que o Estado não cumpre a sua primeira e mais importante tarefa, que é coibir abusos e eliminar a lei do mais forte.

E quem fica mais desassistido, quem sofre mais senão os pobres? Sim, são eles, em cujo nome os demagogos e as demagogas populistas engendraram o caos social desta cidade. São os pobres os que mais padecem.

Mas a patifaria militante, jogando com as crenças do eleitor para ganhar adesão, vai negar a complexidade e falar que a causa é a pobreza.

Só que a pobreza não gera violência: a pobreza gera vulnerabilidade. E é a vulnerabilidade que, na omissão do Estado, desperta o comportamento abusivo (ou violento) que está latente em todos nós.

Tem mais. Ao contrário do discurso sociodesintegrador "desses e dessas" populistas, a conduta abusiva não tem a ver com ideologia, sexo, idade, cor da pele, religião nem com nacionalidade: a tendência ao abuso existe dentro de cada um, podendo estar neutralizada ou não.

Agora, como neutralizar as tendências violentas, fomentar o processo civilizatório e pacificar a sociedade, promovendo bem-estar social?

É a qualidade das instituições que determina se uma sociedade vai viver bem ou mal, em paz ou conflagrada, em equilíbrio ou em sofrimento.

Imaginemos: polícia eficaz (que respeita e é respeitada), Judiciário devotado ao "império da lei", escola de qualidade (que ensina em vez de conscientizar), educação da família vista como legítima para transmitir "valores". Como seria a cidade com essas instituições consolidadas?

E estará claro que tudo depende da vontade e da atitude de todos ou (vá lá!) da maioria? A cidade somos todos nós!

Veremos nas eleições municipais. Grande ou pequena, será uma chance de se influir no rumo da cidade, escolhendo entre votar num discurso sedutor e ilusório ou apoiar um candidato mais propenso a afirmar aqueles valores que levam ao equilíbrio social. Sejamos responsáveis!

Se a cidade somos todos nós e se cada um tem a microinfluência do voto, então quem vota negligentemente com os sentimentos, não com a razão, é sim, ao menos um pouco, responsável pela violência que infelicita a cidade - inclui-se, aí, o espancamento de idosos.

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Foto de Renato Sant'Ana

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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